Paulina Chiziane: um olhar feminino sobre Moçambique
Paulina Chiziane; Protagonismo feminino; Público/privado;
Perdão/reconciliação.
O cenário literário moçambicano esteve em consonância com o contexto
histórico nacional durante muitos anos, deliberando a posse da pena apenas para o ser
masculino. No entanto, essa realidade gradativamente tem tomado outras direções, uma
vez que a mulher delineia um novo caminho que a conduz para um espaço de fala e
permite que suas insatisfações com relação à condição imposta a ela, neste contexto,
sejam colocadas em pauta. A escritora Paulina Chiziane é uma dessas mulheres que
ousa ultrapassar a fronteira que pretende limitar o acesso da mulher à educação formal,
às letras e, portanto, a vivências mais libertárias. Intentamos comprovar nesta pesquisa a
hipótese de que em seus romances Balada de amor ao vento (2016), Niketche: uma
história de poligamia (2004) e O Alegre Canto da Perdiz (2010), a escritora
problematiza as questões culturais e de gênero, rasurando, por meio da escrita literária,
as dicotomias homem/mulher, negro/mestiço, aventando a possibilidade de
convivências menos conflituosas a partir do perdão e da reconciliação entre estes
grupos. Para além dessa perspectiva, buscamos demonstrar também que Chiziane
projeta nas personagens femininas um devir-mulher disruptivo que se constrói a partir
do momento em que estas ultrapassam o limite do espaço doméstico e se lançam no
espaço público, como fez a própria autora. Para sustentar as nossas reflexões,
buscaremos aporte crítico e teórico em Maria Nazareth S. Fonseca (2006), Laura
Cavalcante Padilha (2006), Ana Rita Santiago (2019), Helleieth Saffiot (1987), bell
hooks (2020), Pierre Boudieu (1917), Michelle Pierrot (2017) e Jacques Derrida (2005).