CONCENTRAÇÃO DE THg EM ÓRGÃOS DE Megaceryle torquata E Chloroceryle
amazona NOS RIOS JURUENA, TELES PIRES E PARAGUAI NO ESTADO DE
MATO GROSSO
Aves aquáticas; Metais pesados; Contaminação; Penas; Ranfoteca
O uso indiscriminado e o aumento na liberação de mercúrio (Hg) para o ambiente tornou este
metal um problema global, estando entre as três principais substâncias que representam perigo
para a saúde do ambiente. De origem natural e antropogênica o Hg possui várias formas físicas
e químicas que facilitam sua distribuição, enriquecimento biológico e toxicidade. A crescente
expansão agrícola, com desmatamentos e queimadas, coloca em risco a integridade do solo e
promove a liberação e reemissão do Hg para a atmosfera com sequente deposição em solos e
corpos de água, onde pode sofrer metilação e adiquirir sua forma orgânica, o metilmercúrio
(MeHg). Com potencial de bioacumular e biomagnificar na cadeia trófica, o MeHg chega às
aves aquáticas, predadores de topo da cadeia alimentar aquática. Pesquisas em todo o mundo
vêm utilizando esta guilda de aves para estudar a dinâmica e os efeitos deste metal na saúde
ambiental. Com a hipótese de que a ranfoteca pode demonstrar níveis de concentração de THg
(Mercúrio Total) acumulado por períodos mais longos de tempo que os órgãos usualmente
utilizados, comparamos suas concentrações com as concentrações de Hg em penas de uma
espécie de gaivota europeia (Larus michahellis) e com penas, garras, músculo e fígado de duas
espécies de aves neotropicais (Megaceryle torquata e Chloroceryle amazona). Com o objetivo
de compreender a dinâmica do THg frente às mudanças no uso e ocupação do solo, analisamos
as concentrações de THg nos órgãos de duas espécies de martim-pescador, Megaceryle
torquata e Chloroceryle amazona, nos rios Juruena, Teles Pires e Paraguai, com leitura nas
mudanças que ocorreram na paisagem dos últimos 20 anos. Os resultados obtidos mostraram
que a ranfoteca é uma eficiente ferramenta para a análise da contaminação ambiental por Hg
em aves aquáticas. As concentrações de THg nos órgãos de M. torquata, em ordem decrescente,
foram, ranfoteca (3,00 µg/g) > penas (2,95 µg/g) > garras (2,22 µg/g) > fígado (1,21 µg/g) >
músculo (0,70 µg/g) e para C. amazona, penas (2,27µg/g) > ranfoteca (1,92 µg/g) > garras (1,42
µg/g) > fígado (0,47 µg/g) > músculo (0,46 µg/g). A espécie que melhor expressou as
concentrações do metal foi a C. amazona. A área do Pantanal apresentou os menores níveis de
THg no solo e comportamento de distribuição inverso aos solos das áreas Amazônicas, onde, o
rio Teles Pires com maior taxa de desmatamento expressou os maiores níveis de THg no solo e
na água e os menores no sedimento. Não houve correlação forte entre os níveis de THg dos
órgãos das aves e as variáveis abióticas (solo, sedimento e água), o que sugere que os níveis de
Hg que estarão biodisponíveis para a cadeia trófica estão relacionados a fatores físico-químicos
do ambiente.