“O POÇO E A CLARABOIA”: A REPRESENTAÇÃO DO EXCESSO EM HILDA HILST
Hilda Hilst. Excesso literário. Transgressão. Erótica literária.
Ler a prosa de Hilda Hilst é mergulhar-se numa espiral de narrativas que se encontram e se fundem, que se distanciam e se perdem, mas que também se reaproximam. Neste movimento espiralar, tudo é fluxo e devir. Não há um centro. A prosa hilstiana é múltipla, e nos convoca a contemplar a arquitetura da espiral-labiríntica. Nomeamos o excesso como fio condutor desse movimento na obra de Hilda Hilst, sobretudo em Fluxo-Floema, A obscena senhora D e O caderno rosa de Lori Lamby. Há envolto nessas narrativas a personificação do excesso, eixo movente e fio condutor da pesquisa. Noção que pertence tanto ao domínio da filosofia quanto o da literatura, percebemos que o excesso ainda carece de definição precisa, “supondo menos um conteúdo especifico do que uma operação simbólica” (MORAES, 2023). Há nas narrativas hilstianas, um desejo insaciável por comunicação com o outro, aquele que é desconhecido e, em estilhaçar as suas próprias medidas, romper com os limites éticos e estéticos tão bem determinados, resultando-se assim, em uma experiência de perda e desregramento. Partindo dessas questões, a escrita que confere ao excesso implica não só a hipérbole, mas também a subversão dos paradigmas, fazendo da literatura um campo privilegiado de conhecimento dos territórios em que o sujeito perde os seus limites. O estudo alcança relevância à medida em que confere ao exame das obras uma postura analítica que busca enxergar a operação do excesso como valor estético e elemento fulcral na escrita de Hilda Hilst.