INTERAÇÕES CLIMÁTICAS NAS CIDADES DO CENTRO-OESTE
BRASILEIRO: ESTUDO SOBRE CONFORTO TÉRMICO, ONDAS DE
CALOR E POLUENTES ATMOSFÉRICOS
Conforto climático; Crise climática; Poluentes climáticos; Zonas ecotonais
A crise climática global tem impactado significativamente os ambientes urbanos, agravando fenômenos como as ondas de calor, que elevam as temperaturas e contribuem para a desregulação climática nas cidades. Isso resulta em índices bioclimáticos acima do recomendado tanto para os seres humanos quanto para os ecossistemas. Além disso, a poluição atmosférica, proveniente de queimadas intensas, gera densas nuvens de fumaça que podem ser transportadas para os centros urbanos, intensificando os impactos sobre a saúde da população dessas regiões. Os perímetros ecotonais tropicais, como o Centro-Oeste do Brasil, são especialmente vulneráveis a essas transformações climáticas severas e podem ser profundamente afetados pela atual crise climática. As cidades situadas nessas zonas ecotonais, como as do estado de Mato Grosso, estão reativamente mais expostas a ondas de calor intensas e frequentes. Essa vulnerabilidade pode ser atribuída à combinação de fatores geográficos, climáticos e socioeconômicos predominantes nessas regiões. Diante da atual emergência climática enfrentada pela região ecotonal do CentroOeste brasileiro, esta dissertação tem como objetivo analisar as respostas das áreas urbanizadas às mudanças abruptas de temperatura, ao conforto climático e à presença de poluentes atmosféricos. Assim, propõe-se analisar a dinâmica climática urbana, com ênfase no conforto bioclimático, na ocorrência de eventos extremos, como as ondas de calor, e na poluição atmosférica associada às queimadas intensas. No Capítulo 1, foram analisados os índices bioclimáticos e a temperatura da superfície terrestre em áreas urbanas e não urbanas. Os resultados demonstram que a população está exposta, por aproximadamente nove horas diárias, a condições térmicas prejudiciais à saúde (acima de 38°C). A análise de temperatura de superfície revelou que na região de transição ecotonal, as temperaturas podem chegar a até 54°C, dependendo das condições ambientais, enquanto no perímetro urbano chegam a atingir 50°C. No Capítulo 2, foram identificadas ondas de calor ocorridas em dois municípios da região Centro-Oeste — Porto Estrela e Cuiabá — entre os anos de 2008 e 2023, além da aplicação de modelos de predição. Cuiabá apresentou temperaturas médias de 26°C e Porto Estrela, de 25°C. A predição indica que, em 100 anos, esses municípios poderão registrar médias de até 35°C. O Capítulo 3 teve como objetivo diagnosticar os locais com maior incidência de MP2,5, considerando ambientes abertos e fechados. Os resultados mostraram que em ambientes internos (indoor), a concentração de MP2,5 pode ser até quatro vezes superior aos limites recomendados pelos órgãos reguladores brasileiros, enquanto em ambientes externos (outdoor), essa concentração pode ser até 11 vezes maior. Dessa forma, o monitoramento térmico e de poluição atmosférica dos ambientes urbanos se mostra fundamental para entender como a população está se aclimatando à atual crise climática. Diante dos resultados obtidos através desta pesquisa, conclui-se que as áreas urbanas da região ecotonal do Centro-Oeste brasileiro enfrentam desafios crescentes relacionados ao desconforto térmico, à intensificação das ondas de calor e à elevada concentração de poluentes atmosféricos. A análise integrada dos índices bioclimáticos, das temperaturas de superfície e da poluição por material particulado fino evidencia a urgência de estratégias de adaptação e mitigação, tanto em nível urbano quanto regional. Compreender essa dinâmica climática urbana é importante para o desenvolvimento de políticas públicas eficazes que minimizem os impactos da crise climática sobre a saúde e o bem-estar das populações, principalmente as mais vulneráveis.