Desvendando os Efeitos do Mercúrio em Pisciculturas e no Comportamento dos Peixes
Ecotoxicologia
Bioacumulação
Contaminação Aquática.
Monitoramento Ambiental
Segurança Alimentar
A contaminação por mercúrio em pisciculturas é uma preocupação crescente devido à sua alta toxicidade e aos riscos que representa para a saúde humana e a integridade dos ecossistemas. Esta tese está dividida em três artigos que tem como objetivo investigar a presença e os efeitos do mercúrio em pisciculturas, tanto em uma perspectiva global quanto regional, e analisar as respostas comportamentais dos peixes expostos a diferentes níveis de contaminação por mercúrio. No primeiro artigo, realizamos uma revisão sistemática e metanálise das concentrações de mercúrio em peixes de pisciculturas ao redor do mundo. Para isso, foi realizado buscas nos periódicos ScienceDirect, SciElo, LILACS, PubMed e Scopus, tendo como resultado 398 artigos, destes 22 artigos foram aceitos para a extração de dados. A análise estatística evidenciou diferenças regionais na contaminação por mercúrio em peixes de pisciculturas. A África destacou-se com altas concentrações, especialmente associadas a práticas de piscicultura ilegal. Os peixes Hoplias lacerdae, Oreochromis niloticus e Pseudoplatystoma corruscans apresentaram as maiores concentrações de mercúrio (1300±0µg/kg, 912,72±1595,17µg/kg e 630±0µg/kg, respectivamente), sugerindo uma forte influência dos hábitos alimentares e das condições ambientais locais. A identificação de altas concentrações de mercúrio em espécies específicas de peixes sublinha a influência de fatores regionais e ambientais, evidenciando a necessidade de abordagens locais e globais para o monitoramento e a mitigação dos riscos. No segundo artigo, foi analisado as concentrações de mercúrio em 12 pisciculturas no Estado de Mato Grosso, Brasil. Para isso, foram coletadas amostras de sedimentos, solos e vegetação dos tanques de criação de peixes e nas áreas adjacentes (aproximadamente 15 metros dos tanques). Além disso, tecidos de músculo, cérebro, fígado e nadadeiras dos peixes foram coletadas. Os resultados mostraram que as concentrações de mercúrio estavam abaixo dos limites estabelecidos pela legislação brasileira, mas destacamos a importância do monitoramento contínuo devido à persistente toxicidade do mercúrio e seu potencial impacto a longo prazo na saúde humana e ambiental. O terceiro artigo apresenta um experimento comportamental para avaliar as respostas de peixes expostos a diferentes concentrações de mercúrio em ambientes controlados. Utilizando sistemas multicompartimentados de escolha linear e aleatória, onde três compartimentos foram o controle, três compartimentos com concentração baixa de 0,5 mg/kg (limite máximo aceito pela Resolução RDC nº 42/2013 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para consumo de peixes), três compartimentos com concentração média de 2,5 mg/kg (5 vezes maior que a estabelecida pela ANVISA) e três compartimentos com concentração alta de 5 mg/kg (10 vezes maior que a estabelecida pela ANVISA). Observamos que os peixes demonstraram preferência de escolha por compartimentos com menores concentrações de mercúrio (controle e concentração determinada pela ANVISA). Este comportamento de esquiva sugere uma capacidade dos peixes de detectar e evitar áreas mais contaminadas, o que tem implicações importantes para a compreensão dos impactos ecológicos da contaminação por mercúrio e para o manejo de pisciculturas. Sendo assim, a implementação de medidas eficazes de monitoramento e regulamentação é crucial para mitigar os riscos associados à contaminação por mercúrio e garantir a segurança alimentar e a preservação ambiental.