A MÁ QUALIDADE DO AR NA REGIÃO CENTRO-NORTE DO BRASIL E SEU IMPACTO NA SAÚDE
poluição atmosférica, queimadas, incêndios florestais, material particulado fino, indicadores de saúde, indicadores ambientais, fração atribuível.
No Brasil, registros de focos de calor se intensificam ano após ano e municípios localizados nas partes central e norte apresentam as porções territoriais mais atingidas. Esses eventos emitem para a atmosfera partículas finas (PM2,5) que se depositam no trato respiratório e são facilmente absorvidas pelo nosso organismo, o que gera aumento no número de hospitalizações e mortes prematuras por doenças cardiopulmonares. Embora essa problemática ambiental seja similar a problemática enfrentada por grandes centros urbanos, a atenção sobre o impacto da exposição na saúde é mais direcionada para poluição urbana. Este trabalho objetiva através de dois capítulos, caracterizar a magnitude de exposição a má qualidade do ar decorrente da emissão de partículas finas (PM2,5) por queimadas e incêndios florestais e quantificar o seu impacto na saúde cardiopulmonar da região Centro-Norte, entre 2010-2019. Para caracterizar a exposição a má qualidade do ar, no primeiro capítulo propomos de acordo com o limite recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a utilização de um indicador do tempo de exposição às concentrações inadequadas de PM2,5, nas regiões Amazônica e Centro-Oeste. O indicador se trata do número percentual de dias cujas concentrações excederam o limite de 15µg/m³. Verificou-se que maiores extensões territoriais com os maiores percentuais anuais de dias com qualidade inadequada do ar ocorreram em 2015. Entre todo o período analisado, os meses entre agosto e outubro são o de percentuais mensais mais elevados e que alcançam maior extensão territorial. O estado do Amazonas e a região conhecida como arco do desmatamento concentraram os dez municípios com os piores percentuais em toda a década. O indicador proposto é reprodutível e evidencia o tempo de exposição a má qualidade do ar. Nossa proposta demonstrou exposição a longos períodos de no mínimo três meses por mais de 20 milhões de habitantes. No segundo capítulo, para quantificar o impacto da exposição, estimamos o número e frações de morbimortalidades por doenças cardiopulmonares atribuíveis ao PM2,5, em sete municípios localizados na região Amazônica, sendo seis do arco do desmatamento. Frações atribuíveis de internações cardiopulmonares foram estimadas a partir de um procedimento em três estágios e para estimativas de mortalidade cardiopulmonar, seguiu-se a orientação metodológica da Organização Mundial de Saúde. Atribuiu-se à exposição, 1348 internações (1,1%), 3642 (12%) óbitos, ambos por doenças cardiopulmonares e 321 (17%) óbitos por câncer de pulmão. Porto Velho-RO teve as maiores frações atribuíveis para os três desfechos selecionados. Devido a elevadas concentrações de PM2,5 provenientes da queima de biomassa, municípios da região Amazônica possuem maiores estimativas de frações atribuíveis para desfechos de morbimortalidades cardíacas e pulmonares, comparadas a cidades da região sudeste onde a exposição a esse poluente é mais moderada. Os achados desta dissertação demonstram que a exposição aos poluentes emitidos por queimadas e incêndios florestais na região Centro-Norte do Brasil, geram prejuízos à saúde que merecem ser olhados com mais atenção, sobretudo pelas esferas governamentais, priorizando esforços políticos, com recursos e ações que vise reduzir os longos períodos de exposição à má qualidade do ar e a tomada das melhores medidas de proteção à saúde dos habitantes da Amazônia e Centro-Oeste.