ANÁLISE DE DISCURSOS SOBRE TRAVESTIS EM MATO GROSSO
Travestis, Discurso, Discurso jornalístico, Reportagens, Mato Grosso, Tecnodiscurso.
Este trabalho analisa discursos sobre travestis em Mato Grosso, com o objetivo de investigar os efeitos de sentido produzidos em notícias e comentários sobre travestis veiculados em noticiários on-line associados ao estado (Diário de Cuiabá, G1 Mato Grosso, Agora MT, entre outros). A pesquisa articula a análise dos efeitos de sentido em circulação nas reportagens e nos comentários dos leitores aos discursos de transfobia, problematizando as formações discursivas que sustentam tais discursos e seus modos de reprodução e contestação. Também são analisados os movimentos de adesão e distanciamento que os sujeitos, em seus dizeres, mantêm com os sentidos dominantes, revelando as disputas discursivas instauradas nos espaços digitais. A hipótese investigada é que os dizeres acerca das travestis, ao (des)qualificar seus corpos e suas transvivências, produzem sentidos que reafirmam a condição cisgênero-heterossexual como norma social. A análise, fundamentada nos pressupostos teóricos da Análise de Discurso de linha francesa, especialmente a partir das contribuições de Michel Foucault, Michel Pêcheux e Eni Orlandi, buscou compreender como essas práticas discursivas configuram regimes de verdade que consolidam a exclusão de identidades dissidentes de gênero e sexualidade. O corpus analisado é composto por 38 reportagens selecionadas, por meio das quais foram identificadas regularidades discursivas que associam corpos travestis a posições sociais desvalorizadas, reforçando estigmas de criminalidade, violência e marginalidade. A análise revelou deslocamentos nos sentidos ao longo da década analisada, impulsionados pelo reconhecimento do nome social em 2013 e pelo surgimento de discursos de representatividade e resistência, ainda que coexistam com práticas que reiteram preconceitos e deslegitimam as identidades trans. A investigação dos comentários evidenciou que o espaço digital intensifica a circulação e a disputa de sentidos, funcionando como uma extensão discursiva da reportagem. A partir das contribuições da Análise de Discurso Digital, incorporamos o conceito de tecnodiscurso, entendendo que a circulação dos dizeres nas plataformas digitais é atravessada por novas condições de produção marcadas pela instantaneidade, dispersão dos sentidos e anonimato. Tais características reconfiguram o funcionamento discursivo, potencializando tanto a reafirmação de sentidos normativos quanto a emergência de práticas de resistência. Concluímos que o trabalho oferece uma contribuição significativa para o debate sobre gênero, sexualidade e os desafios das narrativas midiáticas contemporâneas, ao evidenciar como se estruturam e se disputam as posições sociais historicamente construídas, e como o tecnodiscurso redefine as formas de circulação e estabilização dos sentidos sobre as travestis, seus corpos e suas sexualidades.