Este trabalho, vinculado à Área de Concentração de Estudo de Processos Linguísticos, Linha de Pesquisa Estudos dos Processos de Significação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Para o desenvolvimento, selecionamos duas músicas, uma do período de 1964 intitulada por “Opinião” e outra do ano de 2020, que se chama “O Real Resiste”. Na sequência, nortearemos uma descrição do agenciamento das figuras enunciativas, buscando caracterizar a representação que se constrói entre alocutor/cantor/compositor versus interlocutor/ouvinte e analisamos através dos dispositivos de articulação e reescrituração. E temos como objetivo de mostrar que as músicas se constituem afirmando a resistência da classe de trabalhadores, entoando mensagens de luta contra a opressão. Tomamos como suporte teórico à Semântica do Acontecimento (2002, 2018), disciplina que considera que a análise do sentido da linguagem deve localizar-se no estudo da enunciação, no acontecimento do dizer. Portanto, compreendemos que a enunciação é tomada como o lugar que produz significação, partindo deste ponto, realizamos nossas análises.

Este estudo tem como objetivo analisar as crenças expressas nas narrativas de profissionais de uma escola, localizada na fronteira entre Brasil e Bolívia, em relação às práticas translíngues dos estudantes dessa região, a fim de refletir sobre como essas crenças podem impactar suas identidades.  Ancorada na área da Linguística Aplicada, apresentamos a teoria da Translinguagem, na perspectiva de Garcia e Li Wei (2014), Canagajarah (2011, 2013, 2017), entre outros autores, a fim de destacar a sua relevância no contexto estudado. Para a análise das narrativas, nos debruçamos nos conceitos de crenças no ensino e aprendizagem de línguas, de acordo com Barcelos (2004, 2006, 2007, 2015). O estudo abrange uma pesquisa bibliográfica e utiliza como metodologia a abordagem  qualitativa e interpretativista, segundo Bogdan e Biklen (1994), Moita Lopes (1994) e Denzin e Lincoln (2006). Os instrumentos de coleta de dados foram a entrevista semiestruturada, gravadas em áudio, documentos da instituição e depoimentos da comunidade. Os resultados elucidam as crenças dos agentes da escola, que priorizam o monolinguismo no ambiente escolar, ignorando as práticas translíngues dos alunos fronteiriços. Proporcionam, assim, reflexões sobre o possível impacto de tais crenças na riqueza linguístico-cultural da região fronteiriça e na formação das identidades locais. Esperamos que esses resultados inspirem pesquisas sobre a diversidade linguística, em contextos de fronteira e provoquem a revisão nos documentos dessas escolas e o reconhecimento das práticas translíngues como elementos essenciais na formação identitária dessas comunidades.

O objetivo geral desta pesquisa é investigar, por meio da pesquisa narrativa (Barcelos, 2020), a experiência de uso do material estruturado de ensino de inglês adotado pela rede pública do estado de Mato Grosso, na região do Araguaia Xingu. Os objetivos específicos são explorar as percepções de professores de inglês sobre o sistema estruturado de ensino, e compreender como se dá a autonomia docente diante das experiências com esse sistema. Os participantes da pesquisa são seis professores de língua inglesa de escolas públicas da região do Araguaia Xingu do Estado de Mato Grosso. O aporte teórico ancora-se em estudos sobre autonomia docente (Contreras, 2012; Benson, 2006; Leffa, 2014, 2003; Celani, 2001; Adrião et al., 2009, 2022; Hoffmann, 2020). A fonte principal de coleta de dados é a entrevista narrativa semiestruturada, por meio da qual os professores narram as suas experiências de uso do material estruturado de ensino. A análise das narrativas se dá na perspectiva categorial com foco no conteúdo (Lieblich et al., 1998). A análise ancora-se nos tipos de autonomia estabelecidos por Contreras (2012), tais como autonomia ilusória, autonomia como responsabilidade moral individual, e autonomia como emancipação. Os dados apontam que o material estruturado de ensino tem limitado a autonomia docente fazendo com que os professores vivenciem uma autonomia ilusória em suas práticas de ensino. A autonomia como responsabilidade moral individual e a autonomia como emancipação, neste contexto, aparece timidamente em algumas atitudes e ações dos docentes. Isso demonstra que há uma vontade, por parte dos docentes, de exercer a autonomia como emancipação.

A pesquisa, vinculada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), concentra-se na linha de pesquisa Estudo de Processos de Práticas Sociais da Linguagem, e tem como objetivo geral  investigar, interpretar e compreender os níveis de adaptação e complexidade das práticas de ensino e aprendizagem de leitura na EI, com foco em uma turma de 05 anos (Pré II) de uma escola pública no município de Cáceres-MT, ficticiamente chamada Escola Ler e Brincar.

A pesquisa adota a abordagem dos Sistemas Dinâmicos Complexos (SDC) como referencial teórico, e considera a leitura como um sistema complexo, cujo funcionamento é resultado das interações entre seus elementos, conforme destacado por Larsen-Freeman e Cameron (2008). A metodologia empregada é do tipo Estudo de Caso exploratório, combinando abordagens quantitativas e qualitativas, e caracterizando-se como uma Pesquisa-ação. A coleta de dados envolveu a análise de relatórios de aprendizagem, elaborados por duas professoras das turmas do Pré II A e B, no ano letivo de 2022, com foco nas habilidades de linguagem abordadas. Adicionalmente, foi elaborado a sequência de um plano de aula desenvolvido com a turma Pré II do ano letivo de 2023. O estudo estabelece um diálogo linguístico com a pedagogia, abordando conceitos como alfabetização, letramento e multiletramentos, enfatizando a importância da leitura na preparação das crianças para um mundo diversificado e tecnologicamente avançado. Além disso, são abordadas as práticas de leitura orientadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Plano Político Pedagógico (PPP) da escola pesquisada, destacando a relevância da leitura diante das mudanças nas práticas sociais modernas e da necessidade de adquirir novas habilidades de leitura, contribuindo significativamente para o processo de alfabetização. Os dados coletados indicam que as práticas de ensino de leitura investigadas estão parcialmente alinhadas ao que preconizam os documentos oficiais. Além disso, o corpus indicou que o trabalho com a leitura nem sempre é realizado de maneira integral, contemplando as complexidades das características individuais dos alunos, por conta de uma perspectiva de leitura reducionista evidenciada na análise dos dados dos relatórios redigidos por uma das pedagogas investigadas neste estudo. Na contramão, o estudo também mostrou que é possível desenvolver as habilidades de leitura ainda na educação infantil, desde que haja um planejamento que esteja alinhavado às demandas sistêmicas dos agentes, por meio, por exemplo, do lúdico.

Esta tese tem como objeto de estudo as ações de retomada, manutenção e fortalecimento da língua e cultura kokama, em território urbano, desenvolvidas pelo professor indígena Silvânio Brandão Kokama, enquanto professor do Espaço de Estudo da Língua Materna e Conhecimentos Tradicionais Indígenas - Kokama Karuara. Nesse contexto, partiu-se do recorte situacional da língua kokama em ambiente urbano e da necessidade de se consolidar trabalhos voltados para a revitalização da língua e cultura indígena como política linguística pública educacional. Nesse sentido, o objetivo principal é apresentar o uso de narrativas ancestrais de origem Kokama como ações para promover a retomada, manutenção e o fortalecimento linguístico e cultural como uma política linguística pública em prol da língua, da reafirmação da identidade e da (re)valorização dos saberes e tradições dos Kokama na cidade de Manaus/AM. A pesquisa foi realizada nos anos de 2020, 2021 e 2022, com uma pausa forçada durante o período pandêmico. A metodologia seguida considerou: os preceitos sobre Pós-Colonialismo e o contexto histórico da colonização na Amazônia com fundamentos em Memmi (2007), Fanon (1968; 2008), Freire (2008), Hall (1997; 2005), Bhabha (1998), Ribeiro (1979), entre outros; o contexto histórico do povo Kokama,  assim como o panorama da língua Kokama e a perda da diversidade linguística, além da importância da documentação como método usado na revitalização de línguas ameaçadas de extinção, com base em Rodrigues (1985), Vallejos (2010), Freitas (2002), Cabral (1995), Malheiro (2020); Moore (2011), Storto (2019). D`Angelis (2019), Braggio (2012), Austin (2011) entre outros; o prisma dos princípios norteadores para um planejamento linguístico com resultado em prol de uma política linguística pública educacional, com base nos estudos de Cooper (1989), Muller (2007), Rousseau (2005) e Calvet (2007). Além dessa base teórica a pesquisa traz o papel da Gerência de Educação Escolar Indígena – SEMED/Manaus à frente da Educação Escolar Indígena no município. Como resultado desta pesquisa desenvolvemos um livro de narrativas ancestrais, com o título: Kumitsa ƗmƗnua Ritama Kokama - Narrativas Ancestrais do Povo Kokama, como material didático para o desenvolvimento das ações voltadas para a revitalização, manutenção e fortalecimento linguístico e cultural e que configuram uma política linguística pública educacional viável para outras comunidades indígenas em território urbano.

Esta pesquisa se insere no âmbito da Linguística Aplicada, especificamente, na linha “Estudos de Processos de Práticas Sociais da Linguagem”, do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística (PPGL), e tem como objetivo geral analisar e interpretar as vozes sociais presentes nos relatórios e relatos de experiência escritos pelos licenciandos de um curso de Letras, participantes do Programa Residência Pedagógica, de uma universidade pública do estado de Mato Grosso, para compreender o processo da construção do perfil identitário da profissão docente, por considerarmos a existência de um discurso do Estado Pedagogo (Lessard, 2008), que afirma ser o processo formativo dos cursos de licenciatura insuficiente para a prática docente. Para tanto, assume-se a teoria da Análise Dialógica do Discurso de Bakhtin e o Círculo (1988, 2011, 2018), principalmente, os conceitos de alteridade, vozes sociais, relações dialógicas, forças centrípetas e forças centrífugas. No bojo dessa fundamentação teórico-metodológica, este estudo também está ancorado nas bases legais que sustentam a profissão docente e no Programa da Residência Pedagógica. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de perspectiva dialógica, pois buscamos compreender como a Residência Pedagógica está promovendo a construção da identidade da profissão docente de Língua Portuguesa. Para isso, definimos como questões de pesquisa: 1) Quais vozes sociais foram ecoadas pelos licenciandos nos relatórios e nos relatos de experiência do Programa Residência Pedagógica e como elas contribuíram com a construção do perfil identitário da profissão docente? 2) Quais concepções de ensino, língua, linguagem e escola foram assumidas e/ou refutadas pelos licenciandos participantes da Residência Pedagógica e como elas ajudaram na constituição do perfil identitário da profissão docente? 3) De que maneira as forças sociais agiram no processo na constituição do perfil identitário da profissão docente dos licenciandos participantes da Residência Pedagógica? Para respondermos a essas questões, selecionamos como corpus desta pesquisa 17 relatórios, escritos em 2019, e 8 relatos de experiência, produzidos em 2021, para o Programa Residência Pedagógica. Os resultados demonstram que o processo da construção do perfil identitário da profissão docente está sustentado na alteridade, marcada pelas relações dialógicas tensas e harmônicas entre a voz oficial, representada pelos documentos normativos da CAPES, e por outras vozes sociais, como as dos professores orientadores, preceptores, da coordenação institucional, da comunidade escolar, dos professores do curso, o que promoveu a atuação das forças centrípetas e centrífugas no saber-fazer docente dos licenciandos. Assim, afirmamos que esse tensionamento foi refletido e refratado pelos licenciados em suas visões de mundo, no tocante às concepções de ensino, língua, linguagem e escola, as quais estão sustentadas pela aceitação de uma prática reflexiva e pela refutação da tradicional. Contudo, em função dos direcionamentos feitos pela voz oficial, CAPES, pudemos perceber que as forças centralizadoras encaminharam para a manutenção do perfil identitário ecoado pela Residência Pedagógica, que está assentado na epistemologia da prática, em que os professores são vistos como tarefeiros, o que evidenciou o perfil identitário do professor tradicional. Outro dado da pesquisa é o reconhecimento de que o processo formativo realizado pelos cursos de licenciatura contribuiu com a construção da identidade da profissão docente dos licenciandos participantes da Residência Pedagógica, uma vez que eles apontaram que a vivência no Curso e a formação dada pelos professores orientadores foram fundamentais nessa constituição da profissão. Logo, os cursos têm desenvolvido ações didático-pedagógicas que visam não apenas às atividades práticas, como também ao conhecimento da base teórica. É nesse tensionamento que a identidade docente foi construída. Por essa razão, afirmamos que as relações dialógicas promoveram as tensões na constituição identitária dos licenciandos, pois o eu (licenciandos) está constituído pelos outros (as vozes sociais de diferentes esferas ideológicas). Sendo assim, com base na teoria da Análise Dialógica do Discurso, é na alteridade que o eu se constituiu, demonstrando que não existe uma identidade única, pois somos plurívocos, constituídos por avenidas identitárias diversas.

A presente tese, submetida ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso, concentra-se na área de Estudos de Processos Linguísticos, especificamente na linha de pesquisa de Estudos dos Processos Discursivos. O tema explorado é Os Efeitos da Política Nacional de Educação Especial no Currículo dos Cursos de Formação de Professores no Estado de Mato Grosso. O estudo, fundamentado na Análise de Discurso de Michel Pêcheux e Eni Orlandi, examina como os cursos de pedagogia abordam a Educação Especial e a Inclusão em seus currículos e materiais de formação. A pesquisa busca identificar os posicionamentos discursivos presentes na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, visando compreender os efeitos de sentido desses discursos no Projeto Pedagógico do Curso (PPC) de Pedagogia. Enfatizamos que a abordagem teórico-metodológica se filia a Análise de Discurso de linha francesa e a história das Ideias Linguísticas (HIL), reconhecendo, deste modo, que as políticas públicas de inclusão, assim como todas as políticas públicas, operam na interseção entre sujeito, história e ideologia, sendo o linguístico e o histórico constitutivos para a significação dos sujeitos e dos sentidos. O corpus desta pesquisa consiste em documentos normativos que regulam o atendimento educacional da educação especial, com destaque para a Política Nacional de Educação Especial (2008) e os Projetos Pedagógicos dos Cursos de Pedagogia (PPCs) das quatro Universidades em funcionamento no estado de Mato Grosso. Embora as conclusões finais ainda estejam pendentes, é possível afirmar que a pesquisa visa contribuir para a compreensão dos efeitos de sentido da Política Nacional de Educação Especial na formação de professores para a educação inclusiva. As conclusões detalhadas serão apresentadas ao término da análise dos dados com a expectativa de proporcionar contribuições valiosas para a promoção da inclusão do público da educação especial.

Esta tese, inscrita na linha de pesquisa Estudos de Processos de Significação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), tem como objetivo de analisar enunciados com ocorrências dos verdos Começar a e Deixar de, a fim de apreender os processos enunciativos de seus funcionamentos, com foco no papel da construção da significação. Nesse cenário, inserimos o estudo da pressuposição como questão teórica, observando o estatuto da estabilidade de representação na retomada enunciativa. Para isso, em nossas análises, nos valemos da atividade de manipulação e reformulação dos enunciados através da elaboração de glosas epilinguísticas, que nos permitem apreender o funcionamento dessas formas para a construção da predicação e, consequentemente, da significação. Para tanto, fundamentamos o desenvolvimento da pesquisa na proposta de Antoine Culioli, proponente da Teoria das Operações Predicativas Enunciativas (CULIOLI, 1990, 1999a, 1999b).  Buscamos visualizar o processo de categoria que abarca os verbos Começar a e Deixar de como ativadores de pressuposição, com o objetivo de confirmar nossa hipótese, a saber, a pressuposição, compreendida nas asserções como garantia de representação, não se sustenta do ponto de vista operatório. Concebendo que a categorização não contribui para a compreensão de como a variação experiencial dos sujeitos fundamenta a determinação dos sentidos da unidade linguística pressuposição, a nossa metodologia se baseou na atividade de reformulação, também denominada de glosagem ou parafrasagem (FRANCKEL, 2011; FUCHS, 1985). Desse modo elaboramos enunciados que nos permitissem observar o funcionamento desses verbos em contexto. Os resultados explicitam que nas ocorrências dos verbos selecionados a experiência (variável) dos sujeitos enunciadores com o mundo e com a linguagem resulta em sentidos inventariados que apresentam resultados prontos em que não há um processo a ser construído.

A pesquisa aqui apresentada faz parte do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e está inscrita na linha de pesquisa Estudo dos Processos de Significação, visando construir um liame entre análise linguística e práticas de ensino- aprendizagem de línguas. O objetivo central é o estudo da unidade -zinho na língua portuguesa, com a finalidade de observar as relações sintático-semânticas que influenciam as diferentes configurações dessa unidade. Inicialmente, foi realizada a compilação de alguns estudos e se constatou que a gramática tradicional (GT) apresenta tal unidade como “diminutivo”. O procedimento metodológico no estudo do diminutivo assume um sentido fixo/isolado, sendo adequado para a unidade que é analisada isolada, desconsiderando as variações que lhe são próprias em cada contexto de ocorrência. A partir de alguns postulados do quadro teórico-metodológico proposto pela Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas (TOPE) de Antoine Culioli (1990, 1999a,1999b) e seus seguidores, a metodologia se pautou na atividade de reformulação dos enunciados por meio da parafrasagem. Os enunciados foram coletados na plataforma virtual Corpus Brasileiro. Como critério de seleção, recorreu-se às ocorrências em que -zinho se apresentava estabilizado como diminutivo de um marcador com valor aspectual ou como modalização apreciativa (negativa/positiva), com o intuito de detectar como os falantes PB realizam essa noção. Em seguida, foram feitas considerações sobre essa unidade. Nesse sentido, entende-se que a natureza da linguagem não é uma representação da realidade, de modo que se buscou descrever como se constrói o sentido de uma unidade para que possa desencadear no outro uma representação; como se extrai a identidade de uma unidade. Assim, pode-se dizer que o sentido de base da unidade -zinho não é representar o tamanho diminutivo, como afirma a GT, aspecto que direcionou a apresentação da reflexão sobre as contribuições da abordagem enunciativa no ensino-aprendizagem de línguas. Por fim, este trabalho defende a ideia de que os conceitos gramaticais podem ser melhor apreendidos por meio da proposição de situações de aprendizagem que ativem o saber epilinguístico dos aprendizes, sobre o qual se fundamenta uma proposta reflexiva para o ensino de línguas.

Este trabalho pretende observar a construção de sentidos de três obras de arte constituintes da estatuária urbana do espaço de enunciação da Língua Portuguesa de Portugal na relação com a Língua Portuguesa do Brasil. Tomaremos como corpus duas obras (considerando as estatuárias na sua composição com enunciados que a constitui) edificadas em Portugal, nas cidades do Porto e Viana do Castelo, e uma edificada no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Desta forma, e no lugar de semanticistas, buscaremos compreender a linguagem como uma relação de sentidos, que incluem a materialidade da língua, da história e do sujeito que enuncia. Para esta pesquisa filiamo-nos à égide da Semântica do Acontecimento de Guimarães (2002, 2011, 2018) que nos diz que a análise do sentido da linguagem deve localizar-se na observação da enunciação, o acontecimento do dizer. Portanto, as análises foram realizadas sob a perspectiva enunciativa em que a enunciação é tomada como o lugar que produz significação. Consideramos, de igual forma, relevante e necessário para este texto, os trabalhos teórico-metodológicos desenvolvidos por Dias (2010, 2011, 2013) e Karim (2012, 2013).

Em decorrência das medidas sanitárias estabelecidas pelas instituições de saúde do Brasil, devido a pandemia do Coronavírus (2020/21), as práticas educacionais tiveram de ser (re)organizadas e adaptadas, por meio da instituição do Ensino Remoto Emergencial (ERE). Essa modalidade de ensino chegou à universidade e também provocou uma mudança generalizada para as novas formas de ensinar diante das condições que a realidade do momento impunha. Diante dessa mudança tão expressiva, estabelecemos nosso problema de pesquisa em questionar como se deram as práticas de ensino de Língua Inglesa no contexto pandêmico dentro da universidade. Esta pesquisa tem como proposta investigar e analisar as práticas digitais de professores do ensino superior e em que medida as tecnologias digitais foram incorporadas nas práticas de ensino de professores de Língua Estrangeira, no curso de Letras, da UNEMAT. O estudo foi amparado pela Teoria dos Sistemas Dinâmicos Complexos que nos proporcionou uma visão global do funcionamento dinâmico entre as partes e o todo sistêmico dessas práticas. A metodologia utilizada foi o Estudo de Caso com entrevistas, em vídeo, com professores que atuaram efetivamente durante a pandemia com aulas de Inglês. Eles relataram suas experiências a partir de um questionário feito oralmente em ritmo de diálogo. Esses relatos foram transcritos e analisados à luz da teoria dos Sistemas Dinâmicos Complexos (HOLLAND 1995); (LARSEN-FREEMAN 1997, 2008, 2017); (SILVA, 2008) e Paiva (2015, 2016, 2019). Esses dados abrem pressupostos para compreendermos a lingua(gem) e os espaços digitais como sistemas dinâmicos complexos que se (re)organizam e (re)adaptam à medida em que os usuários interagem uns com os outros e observar como que, a partir desse fenômeno, o sistema vai se reestruturando. Por apresentar natureza qualitativa, base exploratória e descritiva, delimitamos a análise dos dados coletados nos temas mais relevantes para essa pesquisa. Por mais que a experiência tenha sido no mesmo momento, com condições similares (remoto) e ministrando a mesma disciplina, poderemos ver que os resultados são heterogêneos, pois a experiência de cada professor foi única, entretanto não deixam de encontrar pontos de interseção e percepções afins entre esses professores nas práticas e nas reflexões dessas práticas. Os dados apontaram que os professores tiveram muita dificuldade de se adaptar no início, devido a prevalência de práticas analógicas e do presencial, porém com a adaptação constante dessas práticas diante da necessidade, o trabalho foi realizado por meio de conteúdos interativos digitais e com a incorporação de novas ferramentas ao trabalho a fim de desenvolver as habilidades comunicativas da língua.

Este trabalho tem como objetivo analisar as histórias de estagiar a língua inglesa no formato remoto vivenciadas por seis acadêmicos do curso de Letras de uma instituição do estado de Mato Grosso entre 2020 e 2021. As narrativas foram coletadas através de entrevistas com o propósito de entender (1) como se deu a experiência de cursar o estágio de inglês no formato remoto e (2) quais foram as implicações dessa experiência na construção da identidade docente de professores de inglês em formação. O aporte teórico envolve conceitos de identidade (SILVA, 2003), identidade docente e identidade profissional (SILVA, 2003; PIMENTA, 1999), e considerações sobre estágio docente no curso de Letras (PIMENTA; LIMA, 2006) e ensino remoto emergencial (CARVALHO et al., 2022). A fase de estágio é importante e decisiva para a formação docente. Valendo-se da pesquisa com narrativas (BARCELOS, 2020) e da perspectiva de análise holística com foco no conteúdo (LIEBLICH et al., 1998), busco dar voz aos acadêmicos de Letras que vivenciaram esse momento de forma tão atípica e, assim, refletir sobre os desafios enfrentados e seu impacto na constituição identitária do professor de inglês. A análise das narrativas dos acadêmicos aponta para o papel do estágio na identificação com a docência, bem como para desafios e frustações vivenciados ao longo da experiência de cursar a disciplina em seu formato remoto.

Os surdos quando não têm acesso a uma língua de sinais oficial criam sua própria comunicação visual. Esta necessidade inata a todo ser humano acontece devido à sua necessidade de se comunicar. Esta pesquisa está vinculada ao programa de Pós- Graduação em Linguística, na linha de pesquisa Estudo de Processos Descritivos,
Análise e de Documentação de Línguas Indígenas Na aldeia Gapgir, em Cacoal/RO temos um grupo de indígenas surdos que criaram sinais para comunicação com seus pares. Esses sinais em uso por esse grupo estão dando origem a uma nova língua de sinais, a Língua de Sinais Paiter Suruí (LSPS). Esta pesquisa tem o objetivo de comparar se os sinais Paiter Suruí apresentam os cinco parâmetros da Língua de Sinais Brasileira. A metodologia utilizada foi o estudo de caso, com olhar etnográfico, com aporte da pesquisa bibliográfica, pois, os dados utilizados para análise foram retirados das pesquisas de Eler (2017, 2020),  Gregianini (2017) e  Costa (2017). Essas pesquisas contribuíram para a afirmação linguística dos surdos indígenas dessa aldeia. Para análise dos sinais foi utilizado como base de comparação o quadro de configuração de mãos de Pimenta (2006). O referencial teórico que sustenta as análises são Felipe (2006), Lucinda Ferreira (2010) e Quadros (2019) que traz os conceitos de parâmetros e explicam que para um sinal ser formado, ele passa por pelo menos três dos cinco parâmetros de língua de sinais e que as línguas de sinais são de modalidade espaço visual, utilizam o corpo as expressões faciais, as mãos na produção e percepção dos sinais. Os parâmetros são formados pela configuração de mãos, orientação, locação, movimento e as articulações não manuais. Para fundamentar a pesquisa com indígenas surdos utilizamos como referencial Vilhalva (2012) que fez o mapeamento de indígenas
surdos em Mato Grosso do Sul. Como resultado dessa pesquisa encontramos sinais com três parâmetros da Libras, sinais com quatro parâmetros e com cinco parâmetros. Dentre esses sinais estão o sinal de PEIXE, COBRA, COCAR, ÁGUA, BATATA DOCE, PULSEIRA, entre outros. Assim, os sinais da LSPS apresentam a estrutura básica das línguas de sinais, no que se refere aos cinco parâmetros da Libras. Essa pesquisa contribui para o reconhecimento linguístico na constituição dos sinais da LSPS, língua essa que está em desenvolvimento pelos indígenas surdos Paiter Suruí. 

Esta pesquisa volta-se para as Toadas do Cururu, especificamente com cururueiros da cidade de Cáceres-MT, mediante a descrição e a identificação de aspectos característicos de fala. Nesse sentido, procura analisar em que medida o processo de variação linguística no contexto das toadas de Cururu em Mato Grosso, resistem as transformações socioeconômicas e as evoluções dos estilos de falas, considerando o regionalismo dentro da estruturação e da tentativa de padronização do Português enquanto língua oficial. Ao mesmo tempo, procura entender os aspectos histórico-culturais do falar mato-grossense, observando se há incidência do preconceito linguístico. De uma parte, o Cururu, enquanto manifestação cultural, traz a simplicidade do homem rural que transforma em toadas e ritmos variados, os fatos do cotidiano, seus galanteios, sua religiosidade e sua essência. De outra parte, o estilo de fala do cururrueiro, fundido aos ritmos e a estrutura dos versos, faz com que as cantorias, por vezes, se tornem incompreensíveis ou entendidas erroneamente por seus interlocutores, fato este que abre precedente para a incidência do preconceito linguístico. Dessa forma, a investigação situa-se nos Estudos Sociolinguísticos, tendo como referenciais Labov, Bortoni-Ricardo, Tarallo, Bagno, entre outros que se debruçam ao entendimento da variação linguística e a concepção do preconceito frente aos estilos de fala. Mediante a metodologia qualitativa de pesquisa, o estudo vale-se de dados decorrentes da observação participante, de conversas livres, e de entrevista junto a três informantes, participantes do estudo. Entre alguns resultados preliminares obtidos com base na transcrição das toadas e das entrevistas feitas, consta a presença da variação no nível fonológico em ditongos, como ‘outro/otro’; variação na marcação do infinitivo do verbo ‘cantar/canta’, ‘andar/andá’ e o fonema /l/ de encontros consonantais pronunciado com /r/; bem como a ausência de concordância de gênero.

Utilizando-se da Análise de Discurso de linha francesa como suporte teórico norteador, esta pesquisa tem como objetivo mostrar como vem funcionando o empoderamento da mulher na sociedade contemporânea, mediante sua imaginária liberdade sexual e reprodutiva, autonomia sobre seu corpo e igualdade em direitos. Assim, em processos de memória, procura-se esclarecer como o discurso de empoderamento é visto e como está significando hoje. Desta forma, através dos movimentos feministas, nas décadas 70, 80, 90 e 2000, levantaram-se discursividades sobre relações de poder, formações discursivas e ideológicas, assujeitamento do indivíduo, efeitos de sentidos, resistência, desigualdade de gênero, posição sujeito e identidade. É preciso entender o funcionamento da língua através dos processos ideológicos que marcam a vida de homens e mulheres nesse percurso do empoderamento. A palavra empoderamento é uma adaptação da palavra inglesa empowerment e significa “o processo de ganhar liberdade e poder para fazer o que você quer ou controlar o que acontece com você” (BERTH, p. 19, 2018), o termo, vem sendo utilizado substancialmente distanciando-se do sentido originário da teoria proposta (BERTH, p. 20, 2018), ver-se a algumas definições com diferentes teóricos. Considerando-se essa conjuntura teórica, bem como a questão do político, é certo que o sentido é sempre dividido e tem sua direção específica na história através dos mecanismos ideológico de sua constituição. E a tarefa do analista de discurso é compreender essa relação através dos acontecimentos discursivos, ou seja, tomando o discurso como efeitos de sentidos entre esses locutores. Assim, cabe ao analista trabalhar com os movimentos (gestos) de interpretação, esse percurso do sujeito (sua posição), na determinação histórica a saber como está funcionando o empoderamento da mulher a despeito da sua autonomia sobre tudo que envolve o seu corpo. O empoderamento é um processo contínuo de construção e desconstrução individual que resulta nas transformações sociais da coletividade.

A presente Tese, Planta/Texto: entre o/e (não) linguístico levado ao estudo da significação, inscrita na linha de pesquisa Estudos de Processos de Significação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), propõe desenvolver um estudo semântico enunciativo do acontecimento de linguagem (Planta Arquitetônica), da Igreja Matriz de Cáceres - MT, Catedral de São Luiz de Cáceres. Como objeto de reflexão, elegemos um conjunto de textos, especificamente a que chamamos planta/texto, com objetivo de sondar e analisar a designação constitutiva do sentido de nomes, de enunciados e outros elementos na relação de integração à esta unidade de significação, no seu funcionamento simbólico e na sua historicidade. Neste estudo busca-se compreender como os enunciados, os nomes, as expressões linguísticas, os elementos (não) linguísticos integrados a planta/texto ao articularem-se com outros textos dizem sobre a construção da Catedral, constroem sentidos que reescrituram e fazem (re)significar a imponente obra da Igreja Católica construída no centro histórico da cidade de Cáceres, no Estado de Mato Grosso? Como nomes de cidade, nome de igreja, lugar, datas, números, cadeia, rua, Travessa, Largo entre outros elementos significam na relação de integração com o texto, a planta? Como os nomes são designados na relação de articulação e reescrituração constituídos no funcionamento enunciativo integrados no texto? E, como a planta/texto significa como texto ao passo que os nomes, as palavras, expressões ao serem reditas, recebem novas (re)significações e projetam novos sentidos a designação construção da Catedral São Luiz de Cáceres? Para responder essas questões o corpus se constitui de memoriais escritos (documentos diversos), e, especificamente de três plantas:  Planta de Villa Maria do Paraguay- 1778; planta S. Luiz de Cáceres -1876; e de forma específica e muito particular analisamos a planta da Catedral São Luiz de Cáceres datada de 25/09/1994, compreendendo-a com sua Planta Baixa, Planta de Corte e Planta de Cobertura, levadas ao estudo da significação. A fundamentação teórico-metodológico se dá a partir da Semântica do Acontecimento (2002), Análise de texto: procedimentos, análises, ensino (2012), Semântica Enunciação e Sentido (2018), desenvolvido por Eduardo Guimarães. Dias (2018), e outros autores como Karim/Silva/Macedo-Karim (2018, 2021), Silva/ Ferreira/ Silva/Velozo (2021), Zattar (2011, 2016), que corroboram com os estudos semântico enunciativo desenvolvido. Esta perspectiva permite-nos considerar a planta como texto. Desta posição propomos o desafio de desenvolver este estudo, segundo o qual considera-se a planta da vila, a planta da cidade e a planta da Catedral, como planta/texto. Portanto, a partir das sondagens observa-se que as unidades de linguagem que integram a planta/texto, constituem sentidos e significam no funcionamento de linguagem deste acontecimento, por modos de dizer, cuja temporalidade a específica, significa, designam e historicizam acontecimentos como: a construção da monumental Catedral de São Luiz de Cáceres.

Esta tese está inscrita na área de concentração Estudo de Processos Linguísticos e na linha de pesquisa Estudos dos Processos de Significação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (PPGL/UNEMAT), e tem como objetivo analisar à luz da Semântica do Acontecimento, como se constituem os sentidos de foro por prerrogativa de função no acontecimento da enunciação do voto do relator da Ação Penal 937 que tramitou no Supremo Tribunal Federal (STF). Esta pesquisa se fundamenta teoricamente na Semântica do Acontecimento desenvolvida no Brasil por Eduardo Guimarães (1995, 2012, 2017, 2018), que considera que os sentidos são produzidos na enunciação, no acontecimento do dizer. O corpus é composto pelo voto do ministro relator da Ação Penal 937 do qual extraímos três recortes em que funcionam as expressões como: foro por prerrogativa de função, foro privilegiado, prerrogativa de foro no STF. A análise está dividida em duas partes. Na primeira analisamos os sentidos da expressão foro por prerrogativa de função, adotando os conceitos teóricos que fundamentam a Semântica do Acontecimento e na segunda parte analisamos as relações entre o lugar que enuncia e o lugar para o qual se enuncia nas cenas dos recortes 1, 2 e 3. O voto do Relator, enquanto acontecimento do funcionamento da língua afetada por uma temporalidade de sentidos (passado, presente e futuro). Pelas análises dos recortes observamos que o modelo atual de foro por prerrogativa de função significa pelas suas disfuncionalidades, dadas as condições históricos-sociais do acontecimento do voto, e da futuridade de novas enunciações que adequem esse modelo às sugestões do voto. Em relação à análise argumentativa, notamos que os argumentos sobre disfuncionalidade sustentam a conclusão a partir de lugares de dizer de enunciador individual mas também do lugar coletivo do conjunto dos ministros o que acresce força à sustentação.

Inscrevemos esta tese, que se intitula Elementos visuais/digitais e Circulação discursiva: os emojis nas/das redes sociais, à linha de Estudo de Processos Discursivos, do Programa de Pós-Graduação em Linguística, da Universidade do Estado de Mato Grosso (PPGL/UNEMAT). Propomos discutir sobre os elementos visuais/digitais, constituídos em emojis, específicos do/para o ambiente digital, cujo termo é consequência da junção entre (e) imagem + (moji) letra/palavra. Os emojis estão disponibilizados em aparelhos eletrônicos de comunicação, desta forma, quando abrimos a caixa de diálogos, percebemos uma variedade de imagens organizada por categorias, ressaltando smileys e pessoas, animais e natureza, comida e bebida, atividades, viagens e lugares, objetos, símbolos e bandeiras, etc. Importa-nos compreender o funcionamento discursivo desses elementos, de modo que nos filiamos teoricamente à Análise de Discurso, conforme trabalhada por Pêcheux, na França e por Orlandi, no Brasil, considerando também como imprescindível, as contribuições de outros tantos autores, que muito tem contribuído com a teorização de conceitos complexos ligados à disciplina. Considerando o contexto tecnológico das redes sociais enquanto espaço discursivo de funcionamento de sentidos, perguntamos: Como os emojis são significados, e se significam como linguagem? De que modo produzem efeitos de sentido como elementos visuais/digitais? Ao mergulhar no universo dos emojis, buscamos questionar os efeitos da representação, da suposta transparência dos sentidos da imagem que impõe uma relação com a coisa, conforme as teorias pragmáticas de linguagem. Pensando numa configuração discursiva da linguagem visual, na forma da articulação com a tecnologia, na maneira de intervir na memória do discurso, metálica e digital, na relação com o sujeito e os sentidos, é que selecionamos os materiais que destacam os emojis em diversos modos de significar no ciberespaço. Elencamos como material de análise, uma montagem que circulou nas redes sociais WhatsApp e Facebook, dando visibilidade, supostamente, ao conjunto de imagens da antiguidade (os hieróglifos), atrelado ao, supostamente, conjunto de imagens da contemporaneidade (os emojis), cuja montagem é cadenciada pelo enunciado “4 mil anos depois nós voltamos a falar a mesma língua”. Além deste recorte, selecionamos alguns emojis, que jogam com o olhar e com a interpretação do sujeito. Faz parte desse funcionamento o trabalho produzido pela Emojipedia, dada como a responsável pelas significações das imagens. A partir destes materiais, mobilizamos alguns conceitos considerados fundamentais no percurso teórico/analítico, como o de interdiscurso e memória discursiva, memória metálica e memória discursiva; equívoco e contradição, paráfrase e a polissemia; condições de produção; ideologia; a questão sobre o verbal e o visual; as diferentes materialidades simbólicas e significantes; conceitos estes que nos fizeram melhor compreender os emojis enquanto materialidade do discurso das redes sociais.

Esta tese está inscrita na linha de pesquisa “Estudo de Processos de Variação e Mudança” do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e tem como objetivo demonstrar a variação lexical que ocorre em determinadas categorias temáticas, constatadas em publicações da rede social digital Instagram. Assim, buscou-se, por meio da Sociolinguística e suas vertentes como, etnografia e psicologia social, compreender as atitudes dos seguidores dos chamados dicionários Alagoanês; dicionário Paraibano; dicionário Sergipanês; dicionário Baiano com as variantes lexicais publicadas. Para tanto, os estudos de Lambert (1966) e Moralez (1993) são de grande relevância para este estudo. Em consonância, os estudos dialetológicos e vocabulares regionais como: Doiron (2017), com o Atlas Linguístico de Alagoas (ALEAL); Santana (2017), com o vocabulário dialetal baiano Vol. I e II; Souza (2007), com o vocabulário obsceno Português; Aragão (1999) a onda de dicionários nordestinos; o dicionário etimológico de língua portuguesa (CUNHA, 2010) e o dicionário UNESP de português contemporâneo (BORBA, 2011). Todos esses estudos nos auxiliaram a verificar a veracidade e extensão das variantes lexicais selecionadas. Dessa forma, objetivamos também, demonstrar que esses perfis denominados de dicionários foram produzidos e publicados na rede social digital Instagram, por pessoas não especializadas. Contudo, como se trata de um campo de pesquisa relativamente novo para área da linguagem, foi necessário buscar uma metodologia específica, por isso para este estudo, utilizamos os métodos de observação e coleta de dado da Etnografia virtual. Assim, nos resultados desta pesquisa constatou-se o total de 25 variantes de ordem lexical, desse total algumas se repetem entre os perfis dos dicionários digitais. A partir desses resultados, os dados foram organizados e analisados em quatro categorias, a saber: 1) As partes do corpo humano: pênis/chibata; vagina/tabaca; clitóris/pinguelo; pernas finas/cambitos; pálpebras/capela; costa/cacunda; barriga/bucho; nariz/venta, pescoço/cangote; calcanhar/mocotó. 2) Sentimentos/emoções: rir/mangar; desconfiado/cabreiro; certeza/Iapois; legal/bala/massa; surpreso/oxe; 3) Vestuário: chinelo/alpargata/; chinelo/japonesa; tiara de cabelo/passadeira; casaco/capote; sutiã/corpete; grampo/misse. Constatou-se ainda a partir dos comentários deixados nas publicações analisadas, mais precisamente (26) comentários produtivos, as atitudes linguísticas dos seguidores dos perfis pesquisados para com a variação lexical. De modo essas analises aconteceram a partir de dois índices: índice cognoscitivo da atitude e índice afetivo da atitude. E, assim, constatamos majoritariamente atitudes positivas dos integrantes para com as variantes lexicais publicadas.

Esta tese se inscreve na linha de pesquisa “Estudo de Processos Discursivos” do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Linguística, da Universidade do Estado de Mato Grosso - PPGL/UNEMAT. Filiamo-nos à teoria da Análise de Discurso proposta e desenvolvida por Michel Pêcheux e aos desdobramentos teóricos elaborados no Brasil, a partir da matriz francesa, em especial com os trabalhos de Eni Orlandi. Com este trabalho, buscamos compreender o modo de funcionamento da linguagem em relação à constituição e/ou manutenção da identidade nacional na irrupção dos discursos sobre a presença do Brasil no que foi denominada Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH). O corpus foi delimitado a partir de recortes de discursos (institucionais ou não) que circularam entre os anos de 2004 e 2017 – período de duração da missão –, disponíveis em publicações do governo brasileiro (impressas e online), bem como recortes jornalísticos de textos da imprensa nacional e internacional sobre a presença brasileira no Haiti. Esses registros constituem o nosso objeto de leituras e análises em que discutimos as noções teóricas de sujeito, memória discursiva, condições de produção, inter/intradiscurso, formação discursiva e formação imaginária. Partimos do pressuposto de que há, pelo discurso, uma construção, afirmação e/ou imposição identitária que se sustenta, no discurso, pela formação imaginária, do Brasil, como um país pacífico e solidário, na missão. Analisamos como este imaginário funciona, na linguagem, em relação à memória discursiva e o papel desta memória no processo discursivo de identificação da produção da identidade nacional, em distintas condições de produção do discurso. Os resultados da análise do corpus mostraram, pela língua, base dos processos discursivos, que os discursos, em sua maioria, se constroem na (re)afirmação/imposição de um imaginário sobre a identidade brasileira. Pelo discurso, observamos a projeção imaginária de um país pacífico e solidário, sustentada, discursivamente, por posições-sujeito atravessada por distintas formações discursivas. Nestes atravessamentos, o sujeito e o sentido se constituem no interior dessas formações discursivas, ao passo em que se estabelece relações próprias de sentido, produzindo, pelo discurso, o apagamento das marcas de heterogeneidade, elevando o efeito de homogeneidade imaginária desse discurso.

Esta pesquisa tem como propósito suscitar olhares mais atentos à concepção da imanência do corpo em relação à mente durante o processo formal de aprendizagem. Para tanto, decidi analisar a minha própria experiência como professora formadora que atua há anos na disciplina do Estágio Supervisionado do curso de Letras da UNEMAT, na área de Língua Inglesa. No intuito de trilhar um caminho avesso à concepção de transcendência da mente defendida pela filosofia moderna e as diversas ciências, realizo uma trajetória teórica com pesquisadores da modernidade e pós-modernidade que defendem a ideia de que a mente é inerentemente corporificada e que nós nos constituímos pelo afeto e não, somente, pelo intelecto. Dentre esses pesquisadores, destaco alguns na área da linguagem, como Amsler (2001), Cole (2008), Anwarrudin (2015), Mills (2016), por esses defenderem um tipo de letramento que leva em consideração as relações afetivas e as sensações corporais nas interações dos alunos com os diversos textos que permeiam a sala de aula. Assim, baseio-me nas concepções de afeto propostas por Espinosa (2009), pelo fato de suas ideias contraporem o conceito de transcendência de Descartes. Na direção de analisar as diversas variações de afeto presentes no trabalho que realizei com os doze alunos da disciplina do Estágio da turma de 2018/1 e 2018/2, lanço mão da metodologia de pesquisa qualitativa sob o viés da afetividade e assumo algumas características da autoetnografia por esta ser uma abordagem de pesquisa na qual possibilita que eu utilize os relatórios produzidos pelos alunos do estágio para poder analisar a minha própria experiência nesse evento. Diante de tal pesquisa, constatei os diversos momentos nos quais o ciclo de afetos, conjugado com o intelecto, influenciou o desempenho e a prática pedagógica dos alunos estagiários durante as suas atuações em sala. Apesar de tais afetos terem sido despercebidos por mim, enquanto professora formadora durante o período da realização do estágio, a releitura dos relatórios e algumas epifanias fizeram-me perceber que os afetos foram determinantes, tanto em potencializar, como, em outros momentos, reprimir um potencial fluxo de aprendizagem da parte dos alunos em estágio e de seus alunos das escolas campus.

Com base na abordagem teórico-metodológica da Análise de discurso crítica
(ADC), esta pesquisa investiga os discursos resultantes do processo migratório venezuelano,
vistos como práticas particulares, inseridos no contexto das crises atuais do capitalismo e sua
tendência globalizante. No que se refere ao fluxo migratório, localiza-se naquele em contato
com a sociedade brasileira, intensificado a partir do ano de 2015 aos dias atuais, ou seja, no
contexto que envolve venezuelanos e brasileiros, que protagonizam, na atualidade, o trânsito
entre duas nações vizinhas, a Venezuela, como país de origem e, o Brasil, como país de
destino. Em termos de perspectiva de estudo, está situado na tradição qualitativa
interpretativista (MAGALHÃES et al, 2017). O corpus analítico, foi formado pelos textos
resultantes de entrevistas, realizadas com migrantes venezuelanos no Brasil, que foram
gravadas, transcritas e traduzidas para o português. As etapas da análise seguiram o enquadre
metodológico de Chouliaraki e Farirclough (1999), o qual está baseado na análise de eventos
sociais (texto), práticas sociais (ordens de discurso) e estruturas sociais (linguagem). A base
teórica, como preconizada na ADC, possui abordagem multidisciplinar que alia descrição
(dimensão textual), explicação (dimensão social, histórica, geopolítica, político-econômica e
antropológica) e interpretação (dimensão da prática discursiva). Conforme o enquadre
metodológico, partimos da percepção de um problema, baseado em relações assimétricas de
poder, qual seja, a prática ideológica da representação do migrante venezuelano, em território
brasileiro, como sendo um infortúnio. Assim, seguindo as etapas do enquadre, analisamos a
conjuntura contextual, relacionada aos aspectos sociais, históricos, econômicos e geopolíticos,
bem como à sociedade abrangente nos níveis macrossocial e global. Também analisamos a
prática particular com ênfase para momentos da prática em foco no discurso e vimos que
aquelas que operam, no contexto da migração venezuelana no Brasil, são influenciadas ou
constituídas pelo discurso xenofóbico contra o imigrante venezuelano, que se manifesta nas
redes de práticas discursivas e é constituído a partir das práticas sociais e discursivas de
reprodução das estruturas de dominação. Tal panorama de práticas e discursos representam os
obstáculos para que o problema da representação ideológica do imigrante venezuelano, como
um infortúnio em nosso meio, seja superado. A terceira etapa da análise foi a discursiva,
orientada para a estrutura, com foco na identificação dos discursos e dos recursos utilizados
nos textos e sua relação com a prática social. Por meio desta análise, identificamos os

discursos produzidos pelos migrantes, que foram: o discurso da migração forçada, o discurso
do oprimido, o discurso da oposição política e o contradiscurso capitalista. Eles expressam a
condição do migrante e da migração venezuelana, inserida no contexto das crises globais do
sistema capitalista com suas contradições e revelam a Venezuela como um exemplo, de onde
se extraem e visualizam-se os efeitos sórdidos da ação imperialista, que age no afã de
sustentar a sua hegemonia e que gera a crise capitalista que produz multidões de pessoas
rejeitadas, forçadas a migrar, não somente neste país, mas em todos os lugares do mundo,
submetidos ao imperialismo e onde essa economia foi praticada. A função particular da a
prática ideológica é justificar e naturalizar os discursos contra o migrante venezuelano, que
validam ações limitadoras para impor-lhes condições de sobrevida e que reproduzem, nas
sociedades envolvidas, a consciência opressora, ou a falácia de que as formas de existência
fora do sistema neoliberal capitalista não servem, senão para produzir caos na sociedade.
Finalmente, esta pesquisa, baseada no enquadre metodológico da ADC, prevê formas de
superar os obstáculos. Assim, defende-se, com base na teoria da mudança social da ADC, que
compreende o discurso como lugar de reflexividade, de luta hegemônica e de transformação
bem como, na pedagogia do inédito-viável, postulada por Paulo Freire (1987), que a mudança
do quadro social vivido pelos migrantes venezuelanos, perpassa pelo movimento
epistemológico, ético, político e pedagógico, construído coletivamente, que pode surgir a
partir do exercício crítico do desvelamento dos problemas sociais condicionantes, ou seja,
pela tomada de consciência que leva à ação, com base na criticidade.

Este trabalho, vinculado à área de Estudo de Processos Linguísticos, na linha de pesquisa Estudo dos Processos de Significação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e a Linha de Pesquisa Formação de Professores e Ação Docente do Programa de Mestrado em Gestão Planejamento e Ensino da UninCor, toma como proposta a aplicabilidade do Método Enunciativo de Leitura (MEL) nas Escolas Estaduais de Mato Grosso. A competência leitora, têm sido tema recorrente no processo de ensino aprendizagens das Escolas de Mato Grosso. Essa preocupação se deu devido os resultados apresentados pelos avaliadores externos - Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) e Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF), que demonstraram em seus últimos relatórios, em 2018, dados estatísticos que evidenciam a falta de competência leitora dos discentes brasileiros da Educação Básica, onde revelam que a maior parte dos alunos brasileiros não desenvolve habilidades leitoras além do nível mais básico de compreensão. Os documentos que orientam o ensino no Brasil e no estado de Mato Grosso preconizam um ensino contextualizado, garantindo ao mesmo tempo a diversidade, a pluralidade e a individualidade dos educandos, entretanto, conforme revelam os índices apresentados os alunos apresentam um índice abaixo do rendimento, principalmente, no quesito proficiência em leitura. Apenas 2% dos estudantes no Brasil atingiram os níveis 5 e 6 de proficiência em leitura e demonstraram habilidades avançadas, tais como a capacidade de compreender textos longos, lidar com conceitos abstratos e contraintuitivos, e distinguir entre fatos e opiniões. Entendemos, que estes resultados ainda são insatisfatórios para se formar um cidadão atuante e participativo, de maneira que reflita acerca de sua condição humana em sociedade. Diante desse cenário, problematizamos: como resolver o analfabetismo funcional desses leitores? Considerando os procedimentos definidos pelo Método Enunciativo de Leitura (MEL), desenvolvido por Souza (2022), um método que atende ao que se determina na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e fundamenta seus procedimentos de análise, interpretação e ensino de textos na Semântica do Acontecimento de Guimarães (2018), objetivamos aplicá-lo em uma Escola Estadual de Várzea Grande/MT e, mediante resultados obtidos, comprovar a sua eficácia ou não enquanto metodologia inovadora. Para tanto definimos como corpus o texto do site da prefeitura municipal de Várzea Grande e os textos garimpados, cuja temática seja a abordagem à Cultura e História Regional/Local dos estudantes. A abordagem de textos como objeto de estudo é uma prática comum em todas as escolas, pois ao contar essas histórias, sob uma perspectiva semântico-enunciativa, estamos conferindo significado à identidade dos cidadãos que residem no município de Mato Grosso. Dessa forma, o trabalho com textos em circulação assume um papel fundamental nesse contexto.

Esta pesquisa de natureza qualitativa, com aporte da Linguística Aplicada (Moita Lopes, 2006; 2009) e da etnografia crítica (Macedo e Sá, 2018), foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso, vinculada à linha de pesquisa Estudo de Processos de Práticas Sociais da Linguagem, na área de concentração dos Estudos de Processos Linguísticos e buscou investigar de que maneira acadêmicos de graduação em um curso de Letras – Licenciatura e Bacharelado – da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul foram afetados pelos conceitos de multimodalidade, translinguagem e afeto, bem como investigar como a pesquisadora foi afetada a partir do encontro de corpos (Spinoza, 2009; Lenoir, 2019). O trabalho fundamentou-se, principalmente, nos estudos sobre multimodalidade (Adami, 2017; Heberle, 2019; Rocha e Maciel, 2015), translinguagem (Canagarajah, 2011; Garcia, 2019; Rocha e Maciel, 2019;) e letramento crítico afetivo (Ahmed, Morgan e Maciel, 2021; Anwaruddin, 2016). Por meio de um trabalho etnográfico, no qual a pesquisadora participou também como professora nas aulas de Linguagem e Tecnologias Digitais, na 2ª série do curso, os dados foram gerados a partir da gravação em áudio e vídeo das aulas, dos diários de aprendizagem dos acadêmicos, do diário de campo da pesquisadora e dos trabalhos produzidos pelos acadêmicos, com vistas à investigação e à descrição dos aspectos emergentes ao longo do processo observado. A análise, com base na epistemologia da emergência pós-moderna segundo Somerville (2007) e Maciel (2016), fundamentou-se na percepção de que a emergência pós-moderna abre espaço para o devir, o inesperado e possibilita práticas mais fluidas de análise e de interpretação de dados no processo de construção de sentidos. A pesquisa apontou para uma reflexão no que diz respeito ao ensino superior e à ampliação dos olhares para o relação ensino/aprendizagem que possibilitem a emergência de outras práticas pedagógicas que procurem fortalecer esses laços afetivos tornando, desta forma, o processo de aprendizado mais consistente e dinâmico nesse contexto.

A presente tese, desenvolvida no programa de Pós-graduação Linguística da
Universidade do Estado do Mato Grosso - Unemat na concentração dos estudos dos
processos linguísticos da Análise do discurso, procura compreender o assédio moral
no espaço laboral por meio dos sujeitos e dos sentidos que se constituem nos
processos de significação associados ao dispositivo analítico que irão determinar as
variáveis da discursividade, através dos discursos dos assediados moralmente no
trabalho. O assédio moral compreende um fenômeno tão complexo quanto
recorrente e tem sido observado cada vez com mais naturalidade no ambiente de
trabalho. Existem alguns fatores determinantes para uma ação ser enquadrada
como assédio moral: a intenção do assediador, a duração e a frequência. Esse tipo
de violência pode ser considerada a mais cruel, pois afeta de forma direta o aspecto
psicológico do empregado agredido e traz consequências tão sérias quanto. Além de
ser considerada complexa por englobar princípios de diversos âmbitos, tais como:
ética, cultura, sociedade, política etc. Esta tese possui como objetivo geral analisar
como se materializa discursivamente os depoimentos dos sujeitos assediados
moralmente no trabalho a fim de identificar, por intermédio desses depoimentos
jurídicos, a relação existente entre os sujeitos, espaços e sentidos e a constituição
do dispositivo analítico na teoria da Análise de Discurso. Por seu turno, os objetivos
específicos pretendem analisar os discursos de assédio moral dirigidos aos sujeitos
assediados; analisar o quanto o assédio moral pode afetar inconscientemente os
sujeitos ante a sua identidade, que é uma formação discursiva e ideológica; analisar
como o assédio moral se materializa nos discursos dos assediados; e, finalmente,
analisar a influência do assédio moral na relação dos sujeitos nos espaços de suas
práticas. Como metodologia, pretende-se a partir dos discursos dos assediados
moralmente no trabalho mapear as consequências psicológicas que podem afetar os
sentidos diante das discursividades nas relações entre os sujeitos no espaço laboral.
Portanto, é necessário compreender como se constitui o assédio moral no trabalho
tendo em vista o Estado da Arte. Essa representação encontra-se condicionada a
um dispositivo analítico, proposta central desta tese. Desse modo, delimita-se o
trabalho da construção desse dispositivo analítico, tendo por base teórica a Análise
de Discurso de linha francesa, cujo precursor é Michel Pechêux. À guisa de
consideração, o dispositivo analítico proporcionou uma interpretação à manifestação
dos sujeitos. Através deste se observou a constituição dos processos simbólicos
pelos quais os trabalhadores eram interpelados ideologicamente, nos quais todo o
processo de identificação nos discursos está inscrito numa determinada formação
discursiva. No desenvolvimento desta tese verificou-se a importância de corpus e da
memória discursiva na constituição das análises. Com efeito, foi possível
compreender as diferentes formas do sujeito que constituem o espaço laboral, assim
como os sentidos produzidos nos espaços discursivos. Neste sentido, a tese é uma
construção das representações discursivas dos sujeitos assediados moralmente no
trabalho.

Esta pesquisa, vinculada à linha de Estudo de Processos Discursivos
do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade do
Estado de Mato Grosso (PPGL/UNEMAT), inscreve-se na área Análise
de Discurso francesa, desenvolvida por Michel Pêcheux, na França, e
no Brasil por Eni Orlandi e outros importantes pesquisadores. Tem
como objetivo analisar a instituição legal das cotas de gênero no
sistema eleitoral brasileiro, procurando compreender como a mulher, na
posição sujeito parlamentar, é significada, o que passa
necessariamente pela compreensão das condições de produção dos
textos legislativos, envolvendo os sujeitos, a situação e a memória
discursiva. Sendo assim, é necessário que se estabeleça a relação da
linguagem desses textos com a sua exterioridade, tanto com relação às
circunstâncias de sua enunciação (sentido estrito), quanto sob o
contexto sócio-histórico e ideológico (sentido amplo) em que foram
produzidos (Orlandi, 2015). Nesse sentido, a partir dos dispositivos
teóricos da Análise de Discurso, foi produzida uma análise discursiva
sobre as condições de produção da legislação acerca das cotas de
gênero, passando pelos direitos políticos femininos, visando
compreender os seus desdobramentos como efeitos de sentidos da
mulher na política nacional. Busca-se neste trabalho ir além do
meramente inteligível e/ou interpretável, avançando sobre o
funcionamento dos processos discursivos em jogo nos discursos sobre
a participação da mulher no processo eleitoral, investigando como
funcionam na produção de uma diversidade de sentidos e como esses
sentidos significam no universo político, considerando as condições de
produção, as formações discursivas, o trabalho da memória e do
silêncio, as posições sujeito e as relações de poder que os afetam e
definem. A Análise de Discurso contribui significativamente para a
identificação dos efeitos de sentidos produzidos pelos textos jurídicos
relativos às cotas eleitorais de gênero, possibilitando a compreensão
das razões pelas quais a mulher continua submetida a uma situação de
silenciamento na política brasileira.

A presente pesquisa qualitativa com característica da epistemologia da emergência e da netnografia teve por objetivo analisar a construção de sentidos acerca de textos em formato digital nas óticas de acadêmicos do segundo ano do curso de Letras da disciplina Linguagens e Tecnologias Digitais da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Para tal, este trabalho fundamentou-se nos estudos das perspectivas multissensorial e afetiva (MILLS, 2016, 2013; SPINOZA, 2009; MORGAN, ROCHA E MACIEL, 2021; DELEUZE E GUATTARI, 1995, dentre outros autores). A pesquisa foi realizada durante o mês de setembro de 2021. A geração de dados ocorreu por meio de gravação em vídeo e áudio das aulas on-line, especificamente durante as apresentações de seminários dos alunos, além do diário de campo da pesquisadora. A análise consistiu na investigação e descrição dos aspectos emergentes (MACIEL, 2016; SOMERVILLE, 2007) ao longo do processo investigado, tendo em conta interações genuínas, espontâneas e naturais (KOZINETS, 2010; CORRÊA E ROZADOS, 2017). Os critérios utilizados foram a qualidade das relações e interações estabelecidas entre os estudantes e as suas ações diante das situações que emergiram durante as aulas on-line. Esse trabalho contribuiu para a ressignificação da concepção de como os sentidos são construídos e podem emergir, considerando uma dimensão corporificada e afetiva tanto na teoria quanto na prática da democracia na sala de aula e na sociedade, em geral. O estudo resultou na reflexão acerca da linguagem em conexão com o cognitivo e o emocional no sentido de expandir as perspectivas de construção do conhecimento.

Este estudo tem como objetivo apresentar e propor um método para o ensino da língua inglesa na Educação Básica para as escolas estaduais do Estado de Mato Grosso: a Aprendizagem Baseada em Projetos (Project-Based Learning – PBL). Para tanto, faz uma revisão da perspectiva histórica do surgimento e evolução dos métodos e abordagens e do currículo para o ensino da língua inglesa, tendo como referências os autores Richards; Rodgers (1986, 2014), Richards (2001), Almeida Filho (1993) e Kumaravadivelu (2003,) e dialogando com as orientações curriculares da BNCC (2017) e do DRC-MT (2018). A proposta prioriza ações e estratégias de modelos de ensino centrados no aluno, de acordo com Nunan (1988). A concepção de linguagem que permeia a proposta é a sociointeracionista da linguagem (Bakhtin, 1997) e a sociocultural da aprendizagem (Vygotsky, 2001). Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que permitiu construir subsídios teórico-metodológicos para a proposição da Aprendizagem Baseada em Projetos, voltada para o ensino e aprendizado da língua inglesa. A partir da experiência em sala de aula e da infraestrutura oferecida pelas escolas do Estado de Mato Grosso, a proposta sugere experiências de aprendizagem significativas e engajadoras, que englobam aspectos socioculturais, políticos e linguísticos, viáveis de realização em salas de aula de inglês da escola pública e que respeitam o contexto socio-histórico dos alunos, os documentos curriculares e as discussões sobre o desenvolvimento dos métodos e abordagens de ensino de línguas estrangeiras.

O município de Cáceres-MT possui a característica de receber imigrantes, pois faz fronteira com a Bolívia. É comum que bolivianos, principalmente da cidade de San Matias, migrem para o Brasil para buscarem melhores condições de vida, tendo em vista que, por conta da fronteira e de acordos políticos, existe uma demanda de comércio entre os países. Como consequência dessa realidade, bolivianos fazem morada na cidade de Cáceres juntamente com seus familiares. Dessa forma, crianças bolivianas são matriculadas em escolas públicas e passam a frequentar as aulas. Além do público infantil e juvenil, bolivianos adultos também são matriculados nas escolas na modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos). Pensando nessa realidade, esta pesquisa tem como objetivo analisar práticas de ensino de Língua Portuguesa para alunos imigrantes bolivianos nas escolas públicas de Cáceres-MT. Este estudo parte da premissa de que é possível que estudantes imigrantes possuam diferentes níveis de conhecimento do português, o que pode dificultar sua formação escolar. Consideramos, também, possíveis dificuldades encontradas pelos profissionais que atendem a este público, levando em consideração desde a formação até as metodologias e abordagens utilizadas para atender a demanda formativa destes grupos de estudantes. Para pesquisa pudesse ser desenvolvida, tomamos como corpus analítico relatos de professores e pedagogos que tiveram experiências com o ensino de Língua Portuguesa para grupos de estudantes bolivianos. A coleta de dados ocorreu por meio da aplicação de um questionário. Esta pesquisa utiliza as proposições teóricas de PLAc - Português como Língua de Acolhimento, discutida no Brasil, principalmente, por Barbosa e São Bernardo (2018), juntamente com a Concepção Dialógica da Língua(gem), teoria postulada por Bakhtin e o Círculo. Trata-se, pois, de um estudo de caso que nos permitiu realizar análises e reflexões que demonstraram o status quo das práticas de ensino de Língua Portuguesa para alunos imigrantes de nacionalidade boliviana inseridos no contexto escolar público da cidade de Cáceres-MT. Tais práticas demostraram a urgente necessidade de formação continuada, efetivação e modernização das leis que regem o recebimento e ensino de estudantes imigrantes nas escolas do município.

Esta dissertação, de abordagem qualitativa, tem como objetivo geral analisar a natureza das expressões idiomáticas adotadas, com base no uso da Língua Portuguesa, nas diversas regiões do Brasil, pelos diferentes grupos de falantes que ali habitam. A pesquisa baseia-se em pressupostos teóricos Variacionista como Xatara (1995; 1998) e Riva (2008). Para isso utilizou-se a metodologia de caráter exploratório descritiva desenvolvida por meio de um levantamento bibliográfico. Os dados das expressões idiomáticas foram analisados, tendo como apoio de leitura os Dicionário Aberto de Calão Expressões Idiomáticas (2021) e o Dicionário Onomasiológico de Expressões Idiomáticas Usuais na Língua Portuguesa do Brasil (2009). A análise pautou-se na natureza semântico-pragmática, ou seja, tencionou captar a discrepância entre o significado proposicional recuperável pela semântica composicional de um enunciado e o significado visado por um falante numa dada enunciação. Nesse sentido, ensejou conhecer/reconhecer as expressões idiomáticas de uso, identificando os significados das palavras isoladas, e entendendo o sentindo das expressões, sua origem e situação de uso cotidiana de cada uma delas. Com a análise de 102 expressões, foi possível perceber e espelhar a riqueza e a diversidade do país, quanto ao uso coloquial da linguagem e seu significado, tendo em vista o enaltecimento da cultura sociolinguística, nas diferentes regiões do Brasil.

Esta dissertação de Mestrado se inscreve na linha de pesquisa Estudos dos Processos de Significação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística, da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), e tem como objetivo analisar o funcionamento semântico-enunciativo de substantivos em textos dos livros didáticos do Ensino Médio adotados em três escolas públicas do município de Cáceres/MT. A analisamos ainda a constituição do espaço e da cena enunciativa nas capas dos livros didáticos selecionados e os DSDs. Desse modo, as análises desta pesquisa consideram os estudos gramaticais que normatizam a língua em relação à classe gramatical substantivo, bem como o funcionamento semântico-enunciativo de substantivos, nos acontecimentos de enunciação que constituem os textos que integram os livros didáticos, destacando que o funcionamento da linguagem ocorre como construção de sentidos. Nossa opção por essa classe gramatical se dá por ela ser uma das classes gramaticais mais importantes para a Língua Portuguesa, por se referir aos nomes. a questão que norteou o desenvolvimento deste estudo se deve ao fato de que o livro didático no ensino da Língua Portuguesa do Brasil, muitas vezes, é usado para fins normativos da língua, sem observar o funcionamento semântico-enunciativo da língua, o que justifica a necessidade de se pensar e desenvolver um estudo que aborde o funcionamento enunciativo dos substantivos extraídos de textos livros didáticos, que são utilizados em sala de aula, numa perspectiva em que a língua funciona no acontecimento da enunciação afetada pela exterioridade. Neste sentido, as análises foram desenvolvidas na perspectiva teórica da Semântica do Acontecimento, que estuda a significação no acontecimento do dizer, ou seja, os sentidos se dão no funcionamento de linguagem. O corpus desta pesquisa é constituído de três textos e capas de livros didáticos do Ensino Médio de Língua Portuguesa, que foram utilizados em sala de aula nas escolas públicas do município de Cáceres-MT, a fim de observar a distinção semântica entre a análise normativa e a análise enunciativa sustentada pela Semântica do Acontecimento. Os três livros didáticos são: Português: Língua, Literatura, Produção de texto (2004), das autoras Maria Luiza Abaurre, Marcela Nogueira Pontarra e Tatiana Fadel; Português Linguagens 2, Literatura, Produção de Texto, Gramática (2010), dos autores Willian Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães e Português 2, contexto, interlocução e sentido (2016), das autoras Maria Luiza M. Abaurre, Maria Bernadete M, Abaurre e Marcela Pontara. As análises empreendidas nos permitiram observar tanto a estabilidade semântica da classe gramatical do substantivo produzida pela normatização da língua como também sua dispersão semântica constituída pelo funcionamento de substantivos na enunciação dos textos dos livros didáticos mencionados.

Esta dissertação se inscreve na linha de pesquisa “Estudos de Processos Discursivos” do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). A partir da perspectiva da Análise de Discurso, que tem como seus precursores Michel Pêcheux (1960), na França, e Eni Orlandi (1980), no Brasil, desenvolvemos o tema tensões no/do discurso jurídico de criminalização da homotransfobia. Com base nos movimentos produzidos pelos desentendimentos e contraditório, fomos levados a pensar as tensões entre as partes que presidiram o julgamento do Mandado de Injunção – MI 4733 e Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão - ADO 26, ambos tramitados no Supremo Tribunal Federal – STF em 2019. Desse modo, buscamos analisar o funcionamento do discurso jurídico a partir das sustentações orais apresentadas pelos sujeitos-advogados, atentando-nos a uma questão central: de que modo a criminalização da homotransfobia é significada por sujeitos-advogados que presidiram o julgamento? Sendo assim, chamo-nos a atenção o excesso de repetições de palavras nas enunciações, como no uso dos pronomes “eu, nós e eles”, em seus diferentes modos de estabelecer a interlocução e no exercício de (de)marcar lugares em disputas na língua(gem). Essas marcas, excessos e retomadas na materialidade linguística, levaram-nos a empreender uma leitura orientada, a partir da tese do advogado proponente da ação, e três sustentações orais apresentadas por Amicus Curiae, compostas por dois advogados que representavam a Frente Parlamentar Mista da Família e Apoio à Vida (FPMFAV), e um que representava a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure). Após nossas análises, consideramos que há diferentes sentidos produzidos da/na forma como os sujeitos-advogados são levados a significarem a criminalização da homotransfobia; já o funcionamento dos pronomes produz limites, diferenças e referentes a partir das posições assumidas pelos sujeitos-advogados no discurso. Tais diferenças e sentidos são decorrentes dos processos de interpelação e identificação com diferentes ideologias. Além disso, consideramos que determinadas posições-sujeito foram desdobradas nos gestos de retomada das palavras sagradas (Bíblia), e das palavras da Lei (direitos fundamentais), com objetivo de os sujeitos-advogados sustentarem o pedido de (im)procedência da ação de criminalização.

Neste trabalho, inscrito na linha de pesquisa Estudos dos Processos Discursivos, do Programa de Pós-Graduação em Linguística, da Universidade do Estado de Mato Grosso, empreendemos um gesto de análise, sustentado pelo dispositivo teórico analítico da Análise de Discurso materialista, a fim de compreender o discurso de ódio racista contra os negros na relação com o funcionamento da negação, em postagens que circularam na rede social Twitter. O corpus de pesquisa foi constituído por tuites e pelas informações sobre as regras de conduta publicadas na rede social Twitter. Nossa pergunta de pesquisa é: Como funciona o discurso de ódio contra negros na rede social Twitter? Analisamos a historicidade do discurso de ódio em relação ao sujeito negro, desde o período colonial, até a contemporaneidade, para compreendermos o funcionamento de facetas do racismo estrutural na sociedade. Buscamos compreender o funcionamento do imaginário social sobre o sujeito negro na rede social, bem como o modo de funcionamento de uma formação ideológica racista, que é sustentada pelo sistema capitalista. Nessa direção, o discurso de ódio racista constitui-se como uma prática social que dá visibilidade a efeitos de sentidos de dominação e controle da classe social fragilizada, no caso, especificamente do negro. Contemporaneamente, o discurso de ódio racista é determinado pelas condições de produção da tecnologia e do digital, tornando-se visível através da rápida circulação dos discursos nas redes sociais. O funcionamento da negação nos tuites mostrou posições sujeito em disputa na reprodução do racismo, posições que mostram a relação ódio-racismo sob as injunções do dito e do não dito.

Esta pesquisa se inscreve na linha de pesquisa Estudos de Processos Discursivos do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e se filia à perspectiva teórica da Análise de Discurso materialista, desenvolvida a partir da década de 1960, pelo filósofo e linguista Michel Pêcheux, na França, e difundida, no Brasil, desde a década de 1970, por Eni Puccinelli Orlandi. O objetivo do trabalho é analisar como o discurso do protagonismo juvenil que comparece na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) se correlaciona com os discursos de viés empresarial, que remetem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Tais discursos atribuem ao jovem o papel de ser o principal agente de uma ação, um ator social e nos permite refletir sobre o modo como nessa proposta, textualizada em nossa Política Educacional, ecoa o neoliberalismo, articulando a educação ao “mundo do trabalho” por meio da repetibilidade, produzindo deslocamentos e movimentos de sentidos. Observamos marcas linguísticas e vestígios que remetem ao discurso empresarial por meio do corpus de análise, constituído por recortes da BNCC e algumas imagens que possibilitam a compreensão de alguns funcionamentos discursivos que se relacionam com o objeto da pesquisa. A dissertação está dividida em três capítulos, sendo que no primeiro capítulo analisamos a discursividade do protagonismo juvenil e o modo como este vem sendo significado na BNCC, mais especificamente na etapa final do Ensino Médio, bem como a posição ocupada pelos sujeitos e como eles se inscrevem. Nesse enfoque, damos visibilidade aos sentidos de protagonismo juvenil, observando a linguagem com sua exterioridade, envolvendo a individuação do sujeito em sua forma histórica capitalista. No segundo capítulo, mobilizamos o movimento de sentidos entre educação e mercado de trabalho como uma proposta de reformas educacionais que se sustenta no capitalismo, através de uma política voltada ao capital humano, advinda de organizações internacionais. Pois, a difusão da educação instrumental é um fator elementar para os objetivos da economia de mercado, ao passo que, por meio da interpelação ideológica do indivíduo em sujeito, que ocorre a discursividade, tal funcionamento promove o apagamento da inscrição da língua na história, fazendo-a significar, produzindo o efeito de evidência do sentido. No terceiro capítulo, refletimos sobre a educação brasileira pensada por aqueles que valorizam mais o capital do que o conhecimento, esse fato ganha dimensões quando o prisma de interesses ideológicos perpassa nossa Legislação Educacional e eclode na sociedade, evidenciando divisões. Nessas condições de produção que pode ocorrer a resistência, assim como a falha na interpelação do sujeito, quando ele ousa revoltar-se.

Esse projeto de pesquisa do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso cuja linha de pesquisa é Estudos de Processos Descritivos, de Análise e de Documentação de Línguas Indígenas, intitulado “Aspectos fonéticos e fonológicos da língua Katitãuhlu falada pelos Anũsu da terra indígena Sararé/Paukalirajausu, objetivou fazer uma descrição fonética e fonológica da língua falada pelos Nambikwara Katitãulhu da Terra Indígena Sararé/Paukalirajausu, no Município de Conquista D’Oeste - MT, bem como dar subsídios para o processo de construção da escrita dos Katitãulhu no ensino tradicional e no escolarizado; e sensibilizar a sociedade não indígena quanto aos saberes Katitãulhu visando o reconhecimento da língua do povo indígena do Sararé usada nos diversos espaços de usos sociais. A metodologia utilizada no desenvolvimento da pesquisa foi baseada em registros etnográficos que ocorreram durante um período de vinte anos (1998 a 2018) na Terra Indígena Sararé, região do Vale do Guaporé, no município de Conquista D’Oeste-MT. Durante esse tempo, vários materiais foram produzidos junto ao povo, como gravações de falas, músicas, materiais pedagógicos em língua materna, escritas de músicas entre outros materiais. Por meio desses materiais foram elaboradas as transcrições fonéticas e as análises fonológicas da língua Nambikwara falada pelo subgrupo Katitãulhu. Pretendeu ainda apoiar a comunidade indígena com o registro de estudo fonológico da língua materna. Este trabalho procurou se basear principalmente no levantamento de dados fonéticos de primeira mão, transcritos utilizando o Alfabeto Fonético Internacional e em nossas análises fonológicas das informações transcritas na língua do povo indígena do Sararé, os Katitãulhu.

O presente estudo, vinculado à área Estudos de processos linguísticos e à linha de pesquisa Estudos de processos discursivos, do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade de Mato Grosso (PPGL/UNEMAT), pretendeu compreender o funcionamento histórico-ideológico materializado na carta/post de despedida do sujeito suicida, Yago Oliveira. Para tanto, inscreveu-se nos princípios teórico-metodológicos da Análise de Discurso, de Pêcheux (1969) e de Orlandi (1983), para tentar compreender o processo de assujeitamento/sobredeterminação do sujeito aos processos histórico-ideológicos marcados no dizer da carta; e na Psicanálise freudo-lacaniana para dar a compreender o modo de inscrição e de subjetivação do sujeito suicida à ordem do real e do imaginário, materializados no simbólico da carta, enquanto manifestação da letra do/no inconsciente, marcada pelos ditames do grande Outro. Ancoramo-nos, então, no tripé teórico-epistemológico da Análise de Discurso, a saber a Linguística, o Materialismo Histórico e a Psicanálise, para tentar compreender os processos que marcam o sujeito, a língua(gem) e a história no gesto de autoria da carta suicida, que atualmente circula, via de regra, no meio digital, o que produz um processo de exposição do sujeito com suas glórias e mazelas. Nessa visada, demos a compreender o processo de corporificação do sujeito-suicida, do corpo da carta/post e do corpo familiar/social como lugar de constituição e de assujeitamento, ditados pelos processos subjetivos de identificação e pelas determinações, pelo Estado capitalista, do sujeito e dos sentidos, pois o corpo funciona como um mapa que traça os (des)caminhos para o sujeito, materializando o pertencimento e a exclusão, a aceitação e o rechaço, a glória triunfal e a morte do significante. Nesse funcionamento materializa-se, nas postagens e na carta de despedida de Yago, aquilo que (não) pode ser dito, materializando o tudo e o nada além do que o sujeito pode significar, assim, nosso gesto buscou compreender os processos de identificação/articulação do sujeito suicida, balizado pelo significante enquanto registro do simbólico, do real e do imaginário, visando a compreender o funcionamento do sujeito suicida por uma ordem que não se resume apenas ao suporte da letra da carta, das mutilações, dos estados de alterações de humor, visto que essa corporeidade/textualidade vem de alhures, vem da letra do/no inconsciente e, portanto, não se coloca como evidência, distanciando-se da noção de objeto pleno e da de sujeito do conhecimento.

A presente pesquisa, vinculada à linha de Estudo de Processos Discursivos, do Programa de Pós-Graduação em Linguística, da Universidade do Estado de Mato Grosso (PPGL/UNEMAT), tem por objetivo analisar, pela perspectiva da Análise de Discurso materialista, os funcionamentos que instituem os sentidos dos discursos sobre as drogas no Brasil, que instalam as noções de sujeitos usuário, dependente e traficante, por meio das legislações vigentes (Lei 13.840/2019 e o Decreto 9.761/2019) e pelas notícias veiculadas na/pela mídia e nas/pelas redes sociais. Desse modo, nosso propósito é o de tentar compreender as formações imaginárias acerca dessas categorias de sujeitos que são colocadas em circulação pela legislação sobre as drogas. Para tanto, abordamos os modos de constituição do discurso jurídico, dando a compreender os dispositivos legais que regulam as posições-sujeito, bem como analisamos a questão dos paradoxos criados entre os interesses/necessidade e os desejos dos cidadãos, materializados em discursos que circulam tanto nas/pelas mídias digitais quanto no/pelo espaço da Cracolândia, enquanto (não) lugar de instalação desses sujeitos. Tomamos, então, a Cracolândia como espaço que faz reverberar o entrelaçamento entre o político, o jurídico, o administrativo e o socioeconômico no urbano da cidade, enquanto um espaço de observação das relações entre sujeito, língua(gem) e história, analisando como esses embates e os discursos outros, deles decorrentes, são significados nas práticas discursivas da cidade em relação às drogas, de modo a instalar e a dar visibilidade a sentidos postos para os sujeitos em situação de rua e usuários/dependentes/traficantes de uma substância considerada ilícita e de maior periculosidade, o crack.

Este estudo, inscrito na área da Sociolinguística, na linha de pesquisa Estudos de Processos de Variação e Mudança do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística, objetivou investigar e analisar preferências e atitudes linguísticas em relação às mídias faladas locais. Objetivou-se também identificar e interpretar atitudes linguísticas em relação ao falar cuiabano; e à ocorrência desse falar na mídia falada de Cuiabá-MT. Para tal, quarenta e quatro nativos, estratificados entre homens e mulheres, nos níveis de ensino correspondentes aos Ensinos Médio e Superior, responderam um questionário que contemplava os temas supracitados. Para a definição dos critérios de inclusão da amostra básica desta investigação, seguimos critérios: a) os entrevistados deveriam ser nativos e residir na cidade de Cuiabá, em Mato Grosso; b) os entrevistados deveriam ser maiores de idade. As entrevistas com cuiabanos nativos, que constituíram o corpus para análise, foram desenvolvidas por meio de trinta e três perguntas abertas e duas fechadas, totalizando, dessa forma, trinta e cinco questões. A hipótese inicial era que os nativos apresentariam atitudes linguísticas positivas frente aos temas pesquisados. A esse respeito, os resultados obtidos revelam atitudes linguísticas positivas frente aos temas pesquisados. Ademais, os informantes além de se mostrarem favoráveis à ocorrência de variedades linguísticas locais nas mídias faladas locais, trouxeram à baila temas como identidade, inteligibilidade, cultura, tradição, entre outros aspectos, promovidos por meio da manifestação de usos linguísticos locais nas mídias faladas dos municípios. Em relação ao falar cuiabano, os nativos possuem atitudes linguísticas positivas e se mostraram favoráveis à ocorrência desse falar na mídia falada de Cuiabá-MT. Pesquisas em atitudes linguísticas são de extrema relevância social, pois, além dos fatores condicionadores, sexo, idade, escolaridade, entre outros, as atitudes linguísticas influenciam nas escolhas linguísticas dos falantes e nas mudanças linguísticas do meio, propiciando, dessa forma, a preservação ou erradicação de falares. Almejamos que nossa pesquisa, além da identificação de atitudes linguísticas, colabore em direção à ocorrência de usos linguísticos locais nas mídias faladas locais. Pretendemos também que esta pesquisa contribua para a valorização da realidade linguística da comunidade pesquisada, Cuiabá-MT. Além dos benefícios supracitados, intentamos por meio desta pesquisa possibilitar o interesse para produções relacionadas ao falar nos suportes midiáticos.

Nesta pesquisa propomos analisar a representação dos dizeres de apenados do Carandiru em acontecimentos de linguagem, dadas as suas condições sociais e históricas. Outras questões aderem a nossa proposta como: 1. Como se dá a representação dos dizeres de apenados nominados ou anônimos sob o olhar dos autores das obras selecionadas? 2. Como ocorrem os agenciamentos dos falantes (os apenados) no espaço de enunciação no interior do Carandiru? 3. As metáforas nos dizeres dos apenados são as mesmas utilizadas no dia a dia pelos falantes da língua portuguesa? 4. Como certas palavras ou expressões que aparecem nos recortes significam metáforas pelos procedimentos de reescrituração e polissemias pelas relações sinonímicas? O aporte teórico adotado é a Semântica da Enunciação, desenvolvida por Eduardo Guimarães (1989, 2005a, 2005b), por se tratar de uma teoria materialista que trabalha a historicidade do sentido no acontecimento da enunciação. O corpus analítico compõe-se de recortes constituídos de dizeres dos apenados nominados e anônimos extraídos de 04 (quatros) obras literárias: O prisioneiro da grade de ferro, de Percival de Souza (1983); Estação Carandiru, de Dráuzio Varella (1999); Diário de um detento: o livro, de Jocenir do Prado (2001) e Carcereiros, de Dráuzio Varella (2012). Os autores dessas respectivas obras, com o objetivo de representar a enunciação daqueles falantes, (re)constroem, a partir do seu ponto de vista, dizeres atravessados por sentidos advindos de outras enunciações, isto é, de outras instâncias enunciativas. Essas narrativas autorais são mescladas por certos aspectos como a violência, a criminalidade, a corrupção, a sociabilidade entre indivíduos que coadunam dos mesmos objetivos. Nessa perspectiva, tomamos como ponto fulcral a língua como fenômeno histórico e social, dada a sua plasticidade em constituir sentidos e falantes. No funcionamento semântico-enunciativo dos dizeres de apenados, representados sob o ponto de vista dos autores, a língua permite uma abertura dos sentidos e a polissemia, que habita o silêncio, é a condição perfeita para a constituição da metáfora ou a possibilidade de as palavras, as expressões linguísticas ou proposições significarem sentidos diferentes. Ou seja, a metáfora se dá pela reescrituração de elementos da língua que, no acontecimento da enunciação, se (re)vestem de sentidos distintos que designam o espaço de enunciação e o locutor-apenado. Já a designação se constituí no acontecimento de enunciação que nomeia (objeto, pessoa, etc.), e nesta medida, pela apreensão do real, dá-se a significação do nome, identifica o nomeado para o sujeito.

A tradução está por todos os lados. Atualmente, num mundo globalizado, estamos o tempo todo em contato com a tradução, seja por um modo ou por outro. Seu percurso e seu devir na história da humanidade como uma operação que coloca em relação línguas distintas, leva-nos a buscar compreender o seu funcionamento e sua constituição enquanto uma disciplina dos estudos da linguagem a partir de reflexões e teorias diversas. De Cícero e São Jerônimo aos dias atuais a tradução vem se destacando por vezes como um desafio a ser resolvido nos campos da Filosofia, Literatura e Linguística, e por vezes como uma solução definitiva para a comunicação entre os povos e o desenvolvimento global. Contudo, a tradução, assim como toda disciplina que implica um debate secular quanto às suas caracteterísticas e definições, impõe seus problemas e suas dificuldades científicas, históricas e até mesmo filosóficas. No ensejo de compreender a tradução a partir de um lugar teórico e metodológico assumido dentre as diversas áreas da Ciência Linguística, a Semântica do Acontecimento, desenvolvida por Guimarães (2002, 2007, 2010, 2017, 2018), a finalidade deste trabalho é o de investigar, fundamentar e sustentar aspectos decisivos e particulares da tradução tomando-a como um procedimento de reescrituração por substituição mimética. De tal forma, nossas investigações dar-se-ão por um percurso que visa discutir a história e a relação entre tradução, língua e linguagem aproximando a tradução com o nosso lugar teórico, considerando-a como um acontecimento enunciativo, como enunciação. Para tanto, as discussões sobre aspectos pertinentes à semântica da enunciação como acontecimento, temporalidade, espaço de enunciação, cena enunciativa e, principalmente, texto e reescrituração, far-se-ão presentes quase que o tempo todo no decorrer de nosso trabalho. Ainda, para que possamos definir a tradução de maneira específica nos colocaremos em estreito diálogo com outros lugares de observação dos estudos da linguagem desenvolvidas por Orlandi (2008, 2009, 2012), Eco (2007, 2014), Ricoeur (2011, 2012), Oustinoff (2011), Steiner (2015), Dias (2018), Arrojo (2007) dentre tantos outros teóricos e pesquisadores que serão trazidos para nossas discussões. Por outro lado, a filosofia nos permitirá alcançar parte de nosso objetivo quando das reflexões sobre a Mímesis aristotélica, considerando a tradução enquanto um procedimento de reescrituração por substituição significada como mimética deslocando os sentidos de imitação como reprodução para o lugar de imitação como produção do novo, abrindo espaço para discussões sobre noções como semelhança, diferença, apropriação e desapropriação. Por fim, aplicaremos este dispositivo metodológico e analítico, reescrituração por substituição mimética, em análises de textos amplamente traduzidos e que produzem efeitos de sentidos distintos para e na população global, como meio de sustentar seu funcionamento enquanto um procedimento que significa a tradução por uma perspectiva enunciativa. Esta tese se inscreve na Linha de Pesquisa de Estudo de Processos de Significação do PPGL Unemat.

Este trabalho de tese, inscrito na linha de pesquisa Estudo de Processos Discursivos, do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Linguística da UNEMAT, tem por objetivo compreender o funcionamento da escrita do ponto de vista da autoria no site brasileiro Nyah!Fanfiction. Nos filiamos teoricamente à Análise de Discurso materialista e à História das Ideias Linguísticas – HIL para desenvolvermos nossas análises e reflexões sobre o objeto discursivo deste trabalho, a saber, as fanfictions. O termo fanfiction ou fanfic (ou apenas fic) surge da junção das palavras no Inglês fan e fiction, isto é, ficção de fã e derivam de textos da literatura, livros de Best Sellers, filmes, mangás, músicas ou músicos e apresentam novas versões ou continuidade de um produto desejado pelo fã, utilizando os mesmos personagens ou acrescentando outros, bem como procedendo a alterações no enredo. As fanfictions são construções narrativas baseadas em outros textos e se marcam pelo interdiscurso em sua escrita. Assim, não há discurso fechado em si e as fanfictions se estabelecem pela relação e interação com outras produções/produtos. Em nosso trabalho, o processo de autoria em fanfictions funcionam tanto pela memória discursiva, quanto pela criatividade e novos dizeres, ou seja, o sujeito autor, na posição-sujeito ficwriter produzirá sua narratividade baseada em outros textos, mas contando sua própria história, deslocando sentidos, produzindo novas interpretações. Diante dessa passagem, é que se materializa o sujeito autor de fanfiction. Compreendemos também, os efeitos de sentidos da escrita de fã no site Nyah!Fanfiction, o processo histórico que deu origem às fanfictions, a produção de sentidos sobre o sujeito ficwriter, bem como o funcionamento do sujeito leitor/revisor na posição discursiva de beta-reader e, por fim, o imaginário de escrita compreendida pela seção Aulas de Português no site analisado.

Este trabalho, inscrito na linha de pesquisa Estudos de Processos de Significação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), tem como objetivo o estudo da reflexividade atribuída ao pronome SE como o produto da dinâmica de contextualizações enunciativas em que a unidade se insere. Para tanto, fundamentamos o desenvolvimento da pesquisa na proposta de Antoine Culioli, proponente da Teoria das Operações Predicativas Enunciativas (CULIOLI, 1990, 1999a, 1999b). Nessa direção, visamos observar como o valor (reflexivo) da unidade se determina em razão dos modos pelos quais ela é colocada em relação com outras unidades. Nesse caso, buscamos visualizar o processo pelo qual um dado conteúdo de pensamento toma corpo e se transforma em representação na relação intersubjetiva. Distanciamo-nos, nesse caso, das abordagens de análise estática da língua e priorizamos tomar o material verbal como traço de construção de significação. Posto isto, constituímos um corpus com quatro ocorrências coletadas do meio eletrônico Corpus do Português. A metodologia se baseou na atividade de reformulação, também denominada de glosagem ou parafrasagem (FRANCKEL, 2011; FUCHS, 1985). Por meio dos procedimentos de reformulação pudemos esboçar um sistema de representação metalinguística para o funcionamento de SE em que procuramos dar ênfase à hipótese de que a reflexividade em língua não é exclusiva do SE, ainda que às vezes possa parecer. Observamos que, nos enunciados estudados, a reflexividade de SE é dependente das marcas de asserção do contexto encaixante que permite se passar de uma possível reflexividade (projeção de predicado) para uma reflexividade de fato (ocorrência de predicado). Ao darmos ênfase, nessa direção, ao fato de que as relações nocionais, sintáticas e enunciativas sustentam os valores que despontam em língua, mas não só, notamos que outros valores nem sempre são visíveis. Posto isto, insistimos que o valor reflexivo está fundamentado na experiência variável dos sujeitos, e que esses projetam tal valor no SE, na situação de produção e interpretação de textos, quer dizer na situação de prática de linguagem. Concluímos que a experiência (variável) dos sujeitos enunciadores com o mundo e com a linguagem resulta na projeção do valor reflexivo sobre o SE, embora nem sempre essa projeção se confirme pela prática de linguagem dos próprios sujeitos que, ao lidar com o empírico (propriedades das noções semânticas; relação entre noções semânticas; relação entre o eu e o outro), em cada situação particular de diálogo, por vezes encontram obstáculos para a construção das suas projeções acerca de como se encontra organizada a relação entre o mundo (propriedades psicossociais) e a linguagem.

Este trabalho inscrito na linha de pesquisa “Estudo de Processos Discursivos” do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Linguística, da Universidade do Estado de Mato Grosso, filia-se à análise de Discurso materialista que, segundo Orlandi (2012, p. 55), “[...] trabalha sobre as relações de poder simbolizadas em uma sociedade dividida”. Nossa proposta incide em questionar pela materialidade discursiva, passível de leitura no material de linguagem, um documentário fílmico: a) como se constitui o sujeito índio brasileiro enquanto forma-sujeito histórico? b) como se deu o processo de inscrição do sujeito índio no sistema jurídico brasileiro enquanto sujeito de direito? c) considerando os processos de subjetivação do índio brasileiro na relação com a forma-sujeito histórico capitalista, perguntamos: há, na sociedade ocidental, um lugar para o índio, fora do capitalismo? Nosso corpus de pesquisa, o documentário Índio cidadão?, é um longa-metragem montado a partir de registros fílmicos que dão a ler três importantes mobilizações indígenas, ocorridas entre 1978 e 2013, nas quais é possível observar o índio dizendo de si e sendo dito pelo não índio. No discurso dos personagens o que fica latente é o desejo dos povos indígenas de serem reconhecidos como sujeito de direito: à terra, à cidadania e à vida. Concomitante com o material audiovisual, tomamos ainda: Anais da Assembleia Constituinte de 1823; as Constituições brasileira de 1822 à 1988; o decreto 8.072/1910 – SPI, e a Lei 6001/1973 – Estatuto do Índio para compreender como se deu o processo de “[...] incorporação do índio à comunhão nacional. Uma vez delimitado o corpus fizemos intervir sobre este, os conceitos que os recortes e as análises convocaram, de modo a entrecruzar teoria e objeto durante toda a produção da escrita, como um ponto que estabelece nossa relação de analista com o objeto, com os sentidos, com a interpretação. O texto fílmico é um lugar de jogo em que a memória se atualiza e o fato próprio da montagem produz, citando Pêcheux (2015), um acontecimento discursivo. As condições históricas de constituição do sujeito indígena e do sujeito não indígena, o modo como, historicamente, cada um se constitui em sujeito com direitos, cidadão. No conjunto com as análises realizadas, nos autorizam a dizer que não se trata da mesma forma-sujeito histórica, mas de formas-sujeito distintas que se inter-relacionam, desde o contato inicial, por uma luta de classes com todas as suas consequências, em termos filosóficos, políticos, sociais e econômicos. Nessa luta está em jogo, de um lado, a noção de progresso e civilização e, de outro, a de cultura e de tradição. Discursivamente, há uma cisão que opera entre o indígena e o não indígena, uma impossibilidade de estar do mesmo lado, na escrita da lei, na prática social e na história, e isso não é uma decisão, é um efeito, pois como afirma Pêcheux (2014), o sujeito não é livre, ele é determinado, assujeitado à língua e à ideologia. E, porque o sujeito é ideologicamente determinado, histórico, podemos afirmar a existência de uma forma-sujeito histórico, outra, fora do capitalismo, a forma-sujeito índio.

Esta pesquisa tem como proposta analisar, pelo viés da Teoria dos Sistemas Dinâmicos Complexos (HOLLAND, 1995; LARSEN-FREEMAN & CAMERON, 2008; PAIVA, 2011; MORIN, 2013; LARSEN-FREEMAN, 2017), as dinâmicas do processo de aprendizagem do português como língua de acolhimento (PLAc) em um contexto de imersão vivenciado por quatro haitianos, na fronteira Brasil-Bolívia, no município de Cáceres – MT. O interesse para desenvolver esse estudo surgiu em decorrência da complexidade que envolve, no contexto de imersão, a aprendizagem do português como língua de acolhimento, frequentemente mediado pelas tecnologias digitais. A aprendizagem da língua adicional é investigada como forma de acolhimento e de interação social, considerando as dificuldades desses sujeitos em buscarem a proteção e a garantia de direitos humanos universais como a liberdade, a participação e a justiça social. Nessa perspectiva, a pesquisa insere a UNEMAT e o espaço fronteiriço de Mato Grosso como necessário para compreender em que medida a aprendizagem do Português como Língua de Acolhimento (PLAc) funciona para pessoas que tiveram que deixar seu país de origem, para vivenciar uma diversidade de experiências no Brasil. Para realizar esse estudo de caso, qualitativo, de cunho interpretativista, a coleta ocorreu por meio da plataforma Google Forms, com entrevistas e questionários com os quatro haitianos, com seus professores e empregadores. Além disso, os quatro foram observados nas aulas de Português para Estrangeiros (PPE), da UNEMAT, e nas aulas teóricas e práticas do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). A análise dos dados apontou como as dinâmicas de aprendizagem ocorreram nas diversas esferas de convivência das quais os haitianos participaram e permitiu constatar que existe uma emergência de proposições de ensino de português para estrangeiros em Cáceres-MT que contribuam para o efetivo acolhimento linguístico e humanitário dessa parcela inivisibilizada da sociedade e que necessita de benefícios fundamentais para a própria sobrevivência. A auto-organização e a adaptação dos haitianos ocorreram de forma favorável a aprendizagem de um novo idioma e de convivência com os brasileiros, mesmo com a ausência de políticas públicas voltadas para a garantia dos direitos humanos dessas pessoas que participam desses processos migratórios forçados verificados na última década na fronteira Brasil-Bolívia.

O presente trabalho apresenta uma descrição dos aspectos fonéticos e fonológicos da língua Kithãuhlu, uma das línguas da família linguística Nambikwara. Segundo Costa (2009), os Kithãuhlu estão distribuídos em diversas aldeias na Terra Indígena Nambikwara, nos vales dos rios Camararé e Doze de Outubro, próximos ao município de Comodoro. Entretanto, a maioria de seu povo está localizado nas aldeias: “Campos Novos, Jacaré, Camararé, Cabeceira do Mutum e Aldeia Vinte”. Os demais povos da família linguística, que habitam essa região, estão localizados nas aldeias: “Barracão Queimado, Novo Chefão, Cabeceira, Buritizal do Zezinho, Central, Branca, Serra Azul, Barro Branco e Boqueirão”. A língua falada pelos Kithãuhlu é uma das línguas dessa família linguística, que necessita de estudos, sobretudo, porque há falantes e a língua exerce plena função comunicativa entre o seu respectivo povo. Pensando nisso, entendemos que a materialidade da língua é um recurso de suma importância para o extenso conhecimento e preservação de aspectos fonológicos das línguas, bem como, para a cultura Kithãuhlu. Assim, aspiramos, neste trabalho, analisar e descrever aspectos fonéticos e fonológicos dessa língua, com objetivo, principal, de contribuir para o seu conhecimento linguístico. Para essa pesquisa propusemos realizar um levantamento específico dos sons vocálicos e consonantais da língua, a partir de gravações em vídeo e transcrições fonéticas realizadas concomitantemente com os consultores, como também, realizamos uma análise fonêmica dos sons. Apresentamos também os seus possíveis tipos silábicos, de acordo com o que foi proposto por Blevins (2006). Para a identificação dos fonemas e alofones, na língua, utilizamos levantamento de dados fonéticos de primeira mão, transcritos foneticamente de acordo com o Alfabeto Fonético Internacional (IPA), juntamente com uma adaptação técnica do teclado do notebook que usamos, como também utilizamos a fonte SILDoulosIPA, que segue o padrão do IPA. Para análise partiremos dos estudos de Pike (1971), Yip (2002) e Blevins (2006). Sobre a abordagem estruturalista, Cagliari (2002, p. 20) explica que ela “parte sempre do particular para o geral, do fato para o sistema, da realidade fonética para a interpretação fonológica.”. Em nossos dados foram encontrados 72 vogais fonéticas e 43 fonológicas, que se realizam como orais, nasais, laringais, nasais laringais, e que se somam, na maioria delas, três tons distintos. O sistema consonantal apresenta um número de 39 consoantes fonéticas e 21 fonológicas. Em relação aos tipos silábicos, na língua Kithãuhlu, constatamos realizações de oito sílabas abertas e duas fechadas.

Esta pesquisa inscreve-se na área de Estudo de Processos Linguísticos e na linha de pesquisa Estudo dos Processos de Significação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da UNEMAT e se propõe a descrever e analisar a construção dos sentidos de palavras e expressões em textos publicitários de escolas de idiomas à luz da Teoria dos Blocos Semânticos, examinando como se dá a prefiguração argumentativa da relação escola X e conhecimento da língua inglesa associada às relações linguística e imagética. Esta pesquisa se fundamenta nos estudos de Ducrot (1987, 1996, 1988, 2002, 2009c), Carel e Ducrot (2005), Carel e Machado (2016), Carel e Gomes (2019), Carel (2001b, 2011, 2020, 2021a, 2021d), Barbisan (2002, 2013), Freitas (2006), Chaise e Freitas (2022), Freitas e Silva (2020), Gomes (2020 e 2021), dentre outros autores que concebem as relações intralinguísticas e tratam a língua como possibilidade argumentativa, produto do emprego da língua, a enunciação. Nessa linha, compreendemos que o sentido está no discurso – representação da enunciação que se dá fundamentalmente pelas relações intralinguísticas, ou seja, entrelaçamentos que ocorre pela combinação de palavras entre si e com outras em que subjaz o sentido da manifestação discursiva. Nesta pesquisa, adotamos os procedimentos metodológicos desenvolvidos por Prodanov e Freitas (2013) e que são tomados como descritivos, bibliográficos e documentais, de abordagem qualitativa, conforme os pontos de vista desses autores. Esta pesquisa surge do entrelaçamento da prática docente da pesquisadora que reconhece a relevância deste estudo, que coloca no espaço científico uma tímida contribuição para os estudos enunciativos pelo viés da Semântica Linguística, dada a necessidade de se pensar a linguística como uma lente importante de se entender o mundo pelo uso da língua, pela sua própria materialidade, como ferramenta independente para a construção do sentido do discurso, pelas relações intralinguísticas. Desse entrelaçamento é que emergiu a temática desta tese: o estudo semântico-argumentativo dos sentidos de palavras e expressões em textos publicitários de cursos de inglês à luz da Teoria dos Blocos Semânticos – (TBS). O corpus analítico da tese constitui-se de 04 textos publicitários de escolas de idiomas, disponibilizados na internet. Concebendo o texto, conforme Ducrot e Carel (2005) como um bloco semântico, cujo sentido é orientado por conectores do tipo donc (portanto), pourtant (no entanto), propomos sistematizar e aplicar os conceitos da TBS, valendo-nos da descrição semântica dos textos selecionados, de modo a dar conta do sentido do discurso. Concebemos que além de elementos verbais, as imagens também são possibilidades argumentativas parafraseáveis. Pelas análises dos textos publicitários selecionados, foi possível observar que nas propagandas ocorrem efeitos metafórico e parafrástico pela recorrência de significação de palavras e imagens, cujos sentidos produzem outros discursos, ecos, ou seja, pontos de vista do interlocutor, construídos por encadeamentos argumentativos que ora levam ao SUCESSO e ora ao FRACASSO o domínio da língua inglesa.

Esta tese, inscrita na linha de pesquisa Estudos de Processos Discursivos, do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (PPGL/UNEMAT), filiada à Análise de Discurso materialista, formulada por Pêcheux e outros pesquisadores, na França, e desenvolvida, inicialmente, por Eni Orlandi, no Brasil, objetiva compreender o funcionamento da autoria e as marcas do sujeito surdo na literatura surda escrita em língua portuguesa. Dessa maneira, formulamos os seguintes questionamentos: O que faz emergir e o que torna possível a produção da literatura surda escrita em língua portuguesa? De que modo a Libras e o sujeito surdo são significados, simbolizados nesse espaço de interpretação que é a discursividade literária surda?  Qual a projeção imaginária de seu público leitor? Assim, a partir dessas e outras indagações construímos nosso corpus, analisando as materialidades linguística/discursivas que compreendem Cinderela surda (HESSEL; ROSA; KARNOPP, 2003a), Rapunzel surda (SILVEIRA; ROSA; KARNOPP, 2003b), Adão e Eva (KARNOPP; ROSA, 2005a) e Patinho surdo (KARNOPP; ROSA, 2005b), foram produzidas durante o processo de oficialização, que se estendeu de 2002 (ano da Lei da Libras) a 2005 (ano da regulamentação da lei através do Decreto nº. 5626/2005) e na sequência, As luvas mágicas do papai Noel (KLEIN; MOURÃO, 2012), A fábula da arca de Noé (MOURÃO, 2014) e As estrelas de natal (KLEIN; STROBEL, 2015), que foram produzidas após a Institucionalização do curso de graduação em Letras-Libras que teve início em 2006. Ao longo do nosso trabalho, compreendemos que o funcionamento peculiar da autoria dos sujeitos surdos na literatura surda escrita em português se dá na presença do sujeito ouvinte como uma condição necessária para que haja produção de sentidos. Esses autores buscam dar a conhecer a Libras, dar visibilidade à diferença, sem apagá-la. Ainda que as políticas de língua apontem para uma direção oposta, legitimando apenas a forma escrita padrão, o português como língua oficial, o texto todo mostra a Libras como materialidade significante que comparece como marcas, materializada nas cores, nos desenhos sinalizados, na escrita de sinais, no verbal da língua portuguesa, entre outros. Desse modo, os autores projetam imaginariamente o lugar desse outro, o leitor, ao trazer a Libras como materialidade significante. Temos aí o processo de identificação, o efeito-leitor: o leitor ouvinte vai conhecer um pouco mais sobre essa língua e sobre o sujeito que a fala e o sujeito surdo vai identificar quando ele vê as marcas da Libras. Esse efeito leitor é levado em conta no momento da construção da autoria. Assim, o sujeito surdo ocupa uma posição e se significa na/pela língua; e é por meio dela, a língua, que ele se constitui em sujeito do dizer, em sujeito enunciador. Ele deixa de ser aquele sujeito que é falado e passa a ocupar essa posição de autor, daquele que escreve.

O presente trabalho inscreve-se na área de concentração Estudo de Processos Linguísticos e na linha de pesquisa Estudo de Processos Discursivos, do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL), da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Tivemos como objetivo, compreender os sentidos em circulação sobre a mulher migrante pioneira Sinopense. Para tanto, tomamos como material de linguagem/análise, jornais que circularam na década de Setenta (período fundacional da cidade) e que textualizam diferentes modos de significação para essa mulher. Também buscamos compreender, através da obra O Brilho de Estrelas Imortais: Desbravar a Terra e Promover a Vida, de autoria de Leni Chiarello Ziliotto, o modo como a mulher pioneira, ao testemunhar suas vivências, ao narrar suas his/estórias durante o período de (re)ocupação da cidade, se significa/significou, produzindo efeitos de identificação nesse espaço de existência. Nesse sentido, a partir da materialidade de análise, buscamos refletir sobre o sujeito e sua relação com a memória discursiva e com a ideologia. Supomos como relevante pensar essa relação, pois ao filiarmo-nos à Análise de Discurso, teoria de cunho materialista, estamos considerando o sentido enquanto relação entre língua, sujeito e história (Orlandi, 2015). Para tanto, buscamos compreender os depoimentos das mulheres pioneiras (publicados na obra de Leni Ziliotto) e o modo como a mídia impressa significa/significou a mulher pioneira (a partir dos jornais), enquanto textualizações que resultam de sentidos já dados/significados historicamente, pois conforme nos mostra Pêcheux (2014 [1975]) ao conceituar o interdiscurso, “há algo que fala antes, em outro lugar e independentemente”, trata-se do já-dito que atravessa a memória do dizer e que, assim, nos faz pensar sobre a ilusão da liberdade na constituição do sujeito, mais especificamente, no descentramento desse sujeito que, embora não sendo dono de si, tem a ilusão de ser a origem do dizer. Portanto, nessa busca de compreender os sentidos no discurso sobre e da mulher pioneira Sinopense, levamos em consideração que a ideologia produz o apagamento da inscrição da língua na história (sob o efeito da evidência do sentido enquanto transparente). Nesse sentido, traçamos um percurso de historicização em relação aos modos como a mulher fora significada no decorrer da história, trazendo reflexões sobre o modo como o capitalismo, o patriarcalismo e o discurso religioso produziram sentidos em relação a mulher, pois, de acordo com Orlandi (2015) a língua só faz sentido porque se inscreve na história. Essa história, no entanto, não é pensada em ordem cronológica, assim como a memória que atravessa o sujeito não se configura em uma linearidade, trata-se de uma memória esburacada, que produz as marcas do esquecimento. Nessa direção, ao pensarmos nos efeitos de sentidos produzidos a partir dos depoimentos das mulheres pioneiras, apontamos para a falha (da língua), a contradição, para o fato de que, a identificação é um movimento na história (Orlandi, 2012), em que tanto os sujeitos quanto os sentidos se (re/des)fazem no ato da enunciação. Portanto, este trabalho – ao estabelecer relação entre sujeito, língua e história – nos colocou diante do confronto entre o estabilizado e a multiplicidade dos sentidos (a deriva), num espaço fortemente regido pela simbolização das relações de poder.

Este trabalho, inscrito na linha de pesquisa Estudos dos Processos de Significação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), tem a pretensão de mostrar como se organiza o funcionamento do verbo PASSAR no português do Brasil, a partir da Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas (TOPE). Culioli (1990, 1999a, 1999b) inova ao apresentar à linguística uma nova maneira de se fazer ciência, propondo a procura do dado linguístico como resultado da articulação entre a linguagem através da diversidade das línguas naturais. Neste trabalho, fizemos uma delimitação histórica sobre a classe de palavras “verbos” e sobre os dicionários e catalogação de palavras com objetivo de entender o sentido “dado” pelo tradicionalismo e estruturalismo, visto que na TOPE o sentido não é dado e sim construído. Opomo-nos a qualquer caracterização fundamentada em uma categoria cognitiva supostamente pré-estabelecida, ou em considerações cognitivas que não tenham em conta a observação das formas linguísticas. Assim, verificamos que PASSAR e demais unidades léxicais dos dicionários não têm a intenção de apresentar a identidade. Vemos apenas sentidos inventariados que apresentam resultados prontos em que não há um processo a ser construído. Nessa direção, embasados nos pressupostos teóricos da TOPE; através dos enunciados selecionados compreendemos o funcionamento de PASSAR a partir do pré-construto e a representação visada de cada enunciado.

Esta Dissertação de Mestrado se inscreve na Área de Concentração Estudo de Processos Linguísticos, Linha de Pesquisa Estudo de Processos Discursivos, do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Linguística (PPGL), da Universidade do Estado de Mato Grosso – Carlos Alberto Reyes Maldonado (Unemat). A pesquisa tem, como aporte teórico-metodológico, a Teoria de Análise de Discurso. Analisamos os efeitos de sentido que circulam sobre cidade, bem como a opacidade nos/dos discursos que se inscrevem, ora pela infraestrutura no/do espaço urbano, ora pelos discursos de sustentabilidade, funcionando – ou não – no espaço urbano. Os materiais de análise são compostos por três vídeos e dois mapas interativos do Projeto Infra em Movimento, fomentado pela Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), a Rede Globo de Televisão e o Banco Bradesco, em veículos eletrônicos/digitais. Por meio das formulações midiáticas e pelas relações sociais que se estabelecem na contemporaneidade, funcionam o silenciamento e o apagamento de outros sentidos de cidade. Concebemos, pois, que não estão em circulação, nos materiais de análise, os reais sentidos de cidade que se materializam por meio de uma ordem e uma organização próprias. Desse modo, articulamos as discussões a respeito de cidade, sujeito, discurso e mídia/eletrônico, produzindo um deslocamento às análises do corpus, permeando pelos sentidos e formulações outros(as) quando se mobiliza questões de infraestrutura e estabelecem políticas de sustentabilidade, pois para que exista a promoção de infraestrutura, necessariamente são acionadas questões de sustentabilidade. Não há como se instaurar a expansão e/ou modernização/atualização do espaço urbano e suas relações, se não houverem, previamente, a exploração dos recursos naturais. Assim, as organizações e empresas, na maioria das vezes de âmbito privado, investem em discursos que são veiculados pelos recursos midiáticos, do eletrônico, no sentido de promoverem e/ou amenizarem os silêncios em relação ao acelerado crescimento citadino e, em contrapartida, a tentativa de implementar, aos sujeitos, qualidade de vida e sustentabilidade à vida na urbe.

O presente estudo está inscrito na área de Linguística Aplicada, na linha de pesquisa em Estudos de Processos de Práticas Sociais da Linguagem. Para construir nossa identidade como professores de língua inglesa, enfrentamos o desafio de “dominar” uma língua que não é nossa e que está em constante transformação nos diversos lugares onde é falada; ensinar uma estrutura que é fixa, mas que pode fugir à regra, sem causar prejuízo à compreensão; ensinar pronúncia de palavras que podem ser faladas de um jeito, mas também de outros. Essa concepção de língua (gem) perpassa pelas leituras, crenças, atividades e atitudes do professor em relação às culturas diversas, ao conhecimento da história, ao foco político que se engaja, aos contextos que participa. Essa perspectiva nos faz sugerir que é preciso muito mais do que frequentar um curso superior para tornar-se um professor atento às mudanças globais que afetam a formação escolar e cidadã. Como professora de inglês, minha participação no Programa de Desenvolvimento Profissional para Professores de Inglês (PDPI) me fez despertar para a complexidade da formação do professor de línguas e para as inovações que podem ser propostas no ensino e aprendizagem na sala de aula, a partir de oportunidades efetivas de capacitação profissional aliada à formação cultural, como elementos constituintes de uma língua e dos elementos que a constituem. Assim, o objetivo deste trabalho é registrar como a experiência de aprendizagem de professores de inglês em um programa realizado no exterior influenciou suas práticas pedagógicas, identidade pessoal e profissional. Trata-se de um estudo de caso, realizado por meio de uma pesquisa exploratória. Dessa forma, analisamos as respostas de algumas das perguntas feitas por meio de um questionário para 15 (quinze) participantes do PDPI 2018. Os resultados sugerem que investimentos em programas deste tipo, que alinhavam conhecimento, cultura e prática podem consolidar a identidade do professor de língua inglesa, formados em cursos de dupla licenciatura, e consequentemente, trazer benefícios significativos para a educação em línguas estrangeiras no Brasil.

Inscrita na área de concentração Estudos de Processos Linguísticos e vinculada à linha de pesquisa Estudos de Processos Discursivos do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, esta dissertação tem como objetivo compreender como os livros didáticos trabalham e/ou organizam o ensino do léxico a partir dos glossários. Leva-nos a refletir sobre o processo de produção de sentido inscrito nesses glossários e o que essas palavras constroem para o sujeito-aluno. Outro aspecto a ser considerado é a maneira como o sujeito-autor se posiciona perante o LD: ele considera as formações discursivas dos sujeitos-alunos ao inscrever sentidos no glossário? Quais movimentos interpretativos podem ser feitos em relação à função-autor e ao efeito-leitor de glossários? As discussões são arroladas tendo como pressuposto teórico e metodológico a Análise de Discurso (AD) iniciada por Michel Pêcheux, na França e Eni Orlandi, no Brasil, articulada à História das Ideias Linguísticas (HIL). Analisamos o ensino do léxico de três livros didáticos: Português Linguagens, Singular e Plural e Projeto Teláris, trabalhados no sexto ano do Ensino Fundamental de três instituições de ensino localizadas no município de Porto Esperidião-MT, para compreendermos os mecanismos de produção e efeitos de sentido nesses discursos. Observamos durante nossos estudos que os glossários dos livros didáticos analisados ainda são trabalhados na perspectiva de análise de texto, como retorno de um mesmo, e, em diversos momentos, os sentidos das palavras do glossário ficam reduzidos ao espaço em que se encontram, não proporcionando ao aluno condições de atravessarem as barreiras estruturais linguísticas para dar sentido através de seus gestos de interpretação.

Este trabalho tem por objetivo descrever aspectos da fonologia das línguas Mamaindê e Negarotê, da família linguística Nambikwara, em especial, a  estrutura silábica dessas línguas à luz dos pressupostos da fonêmica de Pike (1947).  Os dados foram coletados em primeira mão, nas aldeias Mamaindê e Negarotê, no ano de 2019. Muito embora as duas línguas apresentem semelhanças no repertório fonético e fonológico, além de semelhanças lexicais, nossos dados sugerem diferentes regras de formação das sílabas em ambas as línguas, o que tem implicação sobre as diferenças entre os padrões silábicos apresentados em uma língua e não em outra.

Este trabalho, inscrito na linha de pesquisa Estudos dos Processos de Significação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), tem a pretensão de analisar enunciados com ocorrência de MAIS DO QUE, a fim de apreender os processos enunciativos de seus funcionamentos, com foco no papel da construção da significação e do valor semântico que estabilizam. Para isso, em nossas análises, nos valemos da atividade de manipulação e reformulação dos enunciados através da elaboração de glosas epilinguísticas, que nos permitem apreender o funcionamento dessas formas para a construção da predicação e, consequentemente, da significação, amparados pela Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas (TOPE). O referencial teórico mais robusto está nos três tomos de Culioli (1990, 1999a, 1999b). Nosso objetivo é observar os desdobramentos de significação de MAIS DO QUE em seus diferentes papéis em orações classificadas, pela tradição gramatical, como comparativas. Trabalhamos com a hipótese de que MAIS DO QUE situa representações em relação à situação particular de diálogo. Percebemos que o QUE marca a noção que vai operar como localizador abstrato de um conteúdo predicativo (relação predicativa) enquanto o MAIS marca uma diferenciação da noção que o antecede, em relação a uma situação enunciativa determinada no tempo-espaço, ou seja, não marca uma identificação, como pressupõe a Gramática Tradicional (GT). Nosso material de análise é composto por enunciados extraídos da compilação de textos denominada Corpus do Português.

Este trabalho apresenta a análise do nome da primeira capital de Mato Grosso, “Vila Bela da Santíssima Trindade”, cujos sentidos são produzidos em acontecimentos enunciativos que dizem o nome do município em documentos históricos (Ata de Fundação de Vila Bela da Santíssima Trindade e a Carta Régia de 1746). Ou seja, analisamos o movimento semântico do nome da primeira capital de Mato Grosso e, desse modo, mostramos a constituição da rede semântica designativa do acontecimento de nomeação construída nas relações enunciativas do funcionamento do nome. E concomitantemente apresentamos uma comparação do ensino do nome próprio feito pela gramática tradicional, e as tentativas de inserir conceitos semânticos no ensino brasileiro com o estudo do nome próprio pela Teoria do Acontecimento de Guimarães (2002, 2011, 2018) propondo, como exemplo, a análise dos sentidos do nome próprio em questão, “Vila Bela da Santíssima Trindade”. Como suporte teórico metodológico nos valemos dos pressupostos da teoria Semântica do Acontecimento, desenvolvida por Guimarães (2002, 2011, 2018), no Brasil. Uma semântica que considera que a análise dos sentidos da linguagem deve se dar no estudo da enunciação, no acontecimento do dizer.

Este estudo se inscreve na linha de pesquisa “Estudos de Processos Discursivos” do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e na perspectiva teórica da Análise de Discurso, desenvolvida nos fins da década de 1960, na França, por Michel Pêcheux em parceira com outros autores e, difundida e ampliada por Eni Puccinelli Orlandi, no Brasil, a partir da década de 1970. Nosso objetivo é analisar, pelo viés discursivo, os gestos de resistência nas canções de Chico César em tempos de pandemia e bolsonarismo, a fim de compreender o modo como a relação entre a língua e a história constitui sujeitos e sentidos. Desse modo, buscamos compreender o modo como as letras das canções denunciam e se contrapõem aos discursos colocados em circulação pelo presidente Bolsonaro e demais sujeitos que se identificam com seus discursos, materializando uma relação de embate, de litígio que se estabelece no atual cenário político brasileiro. Assim, nosso corpus é composto por canções compostas e/ou interpretadas por Chico César que produzem efeitos de sentido relacionados à pandemia e ao bolsonarismo, fazendo reverberar discursos que circulam nos vários meios que compõem a grande mídia, especialmente nos sites de notícias da rede mundial de internet, materializando as falas desrespeitosas, do atual presidente do país, Jair Messias Bolsonaro, a respeito da pandemia e, consequentemente, da vida dos brasileiros, minimizando o caráter destrutivo e letal do coronavírus. Tomando estes discursos enquanto efeitos de acontecimentos discursivos, por marcarem a relação de uma atualidade com a memória – como é o caso da Primavera Árabe e as manifestações de 2013; o impedimento do mandato de Dilma Rousseff; a chegada de Bolsonaro à Presidência do Brasil e a pandemia do Covid-19 –, objetivamos compreender como os sentidos se constituem e se instalam, a partir da observação das condições de produção em sentido amplo e em sentido estrito, de modo a culminar nos atuais acontecimentos políticos do Brasil, bem como, produzindo efeitos indeléveis no tecido social.

Esta pesquisa tem por objetivo geral investigar como se constituem as atividades referentes ao enunciado concreto reprodução de pintura de uma coleção de livros didáticos de língua portuguesa (LDP) do Ensino Médio, propostas para a formação do leitor literário. Pretende ainda compreender quais relações dialógicas são estabelecidas entre as comandas de atividades e o enunciado (texto) em estudo, a fim de colaborar (ou não) com a compreensão ativa do aluno-leitor do Ensino Médio. Para tanto, foi selecionada uma coleção de livros didáticos, editada em 2016, indicada pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (BRASIL, 2017) e escolhida por professores de língua materna das escolas públicas de Canarana-MT. Trata-se de uma pesquisa documental de abordagem dialógica que se sustenta nos pressupostos da Teoria Dialógica da Linguagem, de Bakhtin e o Círculo. O trabalho busca respostas para as seguintes questões de investigação: 1. Qual a forma de abordagem do enunciado “reprodução de pintura”, nas seções de literatura, de uma coleção de LDP do ensino médio? 2. Que relações dialógicas são estabelecidas entre o enunciado “reprodução de pintura” e suas comandas de leitura, nas atividades selecionadas de uma coleção de LDP do ensino do médio? 3. A forma de abordagem do enunciado “reprodução de pintura”, nas atividades selecionadas, contribui para a formação do leitor crítico literário? Metodologicamente, mapeamos a incidência e a posição das reproduções de pintura nas seções dedicadas ao ensino da literatura na coleção de livros; delimitamos o corpus pelas regularidades encontradas e procedemos à análise dialógica dos enunciados. Os resultados demonstram baixa incidência das reproduções de pintura em atividades específicas de leitura, maior incidência desses enunciados como uma forma de ilustração. Nas seções em que os enunciados verbo-visuais são tomados como objeto de leitura, o foco das comandas centra-se na linguagem visual. As inconsistências observadas, na forma de abordagem do enunciado reprodução de pintura, tomando o visual em detrimento do verbal, revelam inconsistências nas atividades, que podem interferir na compreensão ativa do texto e sua relação com o movimento literário e estilo de época. Tais inconsistências podem interferir, de forma pouco profícua, na formação do leitor crítico literário. Espera-se que os resultados deste trabalho auxiliem professores e pesquisadores da área a refletirem criticamente sobre as atividades propostas para a análise da dimensão verbo-visual dos textos nos livros didáticos de língua portuguesa, suscitando-lhes novos enunciados-resposta e ampliando possibilidades de compreensão e réplica dos enunciados lidos e dos significados da Literatura para a vida acadêmica e cidadã dos estudantes do Ensino Médio.

Esta dissertação de mestrado se concentra na área de Estudo de Processos Linguísticos, Linha de Pesquisa Estudo de Processos de Significação, do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística (PPGL), da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Nossa pesquisa visou uma descrição linguístico-enunciativa da unidade linguística ‘ranço’, do português brasileiro, que tem sido considerada uma gíria para designar, a partir de um aparente empréstimo de sentido, em contextos específicos, ‘repulsa’ a algo ou de alguém. Nesse cenário, o problema que colocamos é que não se sustenta a hipótese de que a gíria, enquanto um desvio do padrão, toma emprestado um semantismo estável de uma unidade (um ponto de partida de significação) e dele cria valores aproximados (pontos de deformação de significação). Isso para mostrarmos que a distinção que poderia propor uma semântica clássica entre o que se tem como valor descritivo (ranço de doce de leite, por exemplo) e valor subjetivo (ranço de pessoas mal humoradas, por exemplo) se despolariza quando é para o sentido brotado no enunciado que olhamos. A investigação se inscreveu na perspectiva teórica fundamentada nos escritos e nas aulas de Antoine Culioli, fundador da Teoria das Operações Predicativas Enunciativas (TOPE) para que se cumprissem os seguintes objetivos: (i) descrever o funcionamento semântico-enunciativo da unidade lexical ‘ranço’ como contribuição à linguística enunciativa; (ii) identificar as regularidades e os princípios capazes de gerar a variação de sentido de ‘ranço’ em situação enunciativa, (iii) formalizar a variação de sentido de ‘ranço’ a partir de um conjunto de enunciados, (iv) revisitar, criticamente os principais estudos sobre a gíria no português brasileiro. Metodologicamente nos apoiamos em conceitos operatórios da TOPE, como a organização do domínio nocional e a elaboração de forma esquemática. Para a coleta de material de análise, selecionamos 50 enunciados extraídos de fontes diversas: redes sociais, plataformas de dados português, etc.

Esta pesquisa que se concentra na área de Estudo de Processos Linguísticos, inscreve-se na linha de pesquisa Estudo dos Processos de Significação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da UNEMAT e propõe analisar como a argumentação, enquanto sustentação do que se enuncia, significa a cidadania da mulher cuiabana/mato-grossense, nos acontecimentos das crônicas e textos da revista A Violeta, no período de 1916 a 1934, na cidade de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso. Propomos também analisar a formação nominal constituída do nome mulher mais convergente adjetival. Teoricamente, nos inserimos na perspectiva da Semântica da Enunciação (GUIMARÃES, 2002, 2005, 2011, 2018) e (DIAS, 2012, 2013, 2015, 2017, 2019, 2018a, 2018b, 2018c), para quem a enunciação “é um acontecimento que produz sentido. Ou seja, o sentido se produz pela enunciação, pelo acontecimento de funcionamento da língua”. (GUIMARÃES, 2018, p. 22). Adotamos, para as análises os procedimentos de sondagem (GUIMARÃES, 2018) e de redes enunciativas (DIAS, 2018). Para as análises das formações nominais, nos valemos da construção de redes enunciativas divididas em dois grupos: o primeiro constituído de nome + adjetivo; o segundo constituído de substantivo + sintagma preposicionado. Para o desenvolvimento das análises propostas, tomamos como material analítico onze recortes de textos e crônicas de diferentes autoras, publicados na revista A Violeta, nos anos de 1916, 1918, 1925, 1932, 1934. As análises do processo de argumentação nos mostraram que a condição da mulher cuiabana e mato-grossense, na primeira metade do século XX, faz significar a sua cidadania como uma conquista emancipadora, porém, parcial, e, por outro lado, essa posição se constitui por um contínuo confronto por um lugar social na enunciação igual e/ou semelhante ao do homem. Assim sendo, observamos que a luta pelos direitos da mulher não cessa, mantém-se em marcha, construída pelo conflito produzido pela existência do papel feminino na sociedade brasileira/mato-grossense/cuiabana. As análises das formações nominais nos mostraram que as motivações enunciativas que o nome mulher contrai movimentam sentidos vários, constituídos sóciohistoricamente numa relação de pertinência enunciativa que um enunciado mantém com os determinantes, incluindo-se outros enunciados, no presente do enunciar. Na formação nominal constituído de mulher + convergentes, em que o referencial histórico é deslocado, observamos uma relação com o modo de argumentação que o convergente opera na determinação de mulher.

Esta tese se inscreve na linha de pesquisa Estudo de Processos Discursivos do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Linguística da UNEMAT, e surgiu do interesse em compreender as discursividades materializadas nas canções das danças do Chorado e do Congo ritualizadas na cidade de Vila Bela, Mato Grosso. Mais especificamente, como a materialidade da língua em sua estrutura e organização, sobretudo, no plano sintático, funciona na construção dos processos de produção dos sentidos que identificam a relação do sujeito com a cidade. A pesquisa filia-se à teoria da Análise de Discurso, fundada por Michel Pêcheux (1975) na França e desenvolvida no Brasil por Eni Orlandi (1994, 2007ª, 2007b, 2008ª, 2008b, 2008c, 2012, 2015). Ao problematizar os processos de significação do vilabelense nas letras cantadas no espaço público da cidade, como nós, mato-grossenses da fronteira, significamo-nos em relação às nossas práticas de linguagem? As danças do Chorado e do Congo são apresentadas na praça e nas ruas da cidade, sobre as quais o sujeito canta na cena das apresentações. Pelo trabalho da ideologia, o imaginário socialmente naturalizado para as festas vilabelenses, definido de tradições culturais africanas, vai se desconstruindo pelo modo como a língua ritualizada nas canções, filiada no discurso, constrói outros processos de significação ao sujeito da cidade. Analisou-se, nesse estudo, como no espaço discursivo de uma memória linguística outras formas materiais significantes (língua imaginária e língua fluida) entram em confronto. Mediado pelo ritual discursivo, pela narratividade, a materialidade dos cantos constitui-se pelos traços da memória da língua falada pelos antepassados do vilabelense e, ao mesmo tempo, ressignifica ao espaço da fronteira as diferentes figuras de sujeito na história de Mato Grosso. A materialidade linguística dos cantos, em um acontecimento discursivo ritualizado, nega os imaginários cristalizados para as festas ao produzir outras significações que o sujeito, ao cantar, não imagina dizer. Vila Bela se constitui em um espaço de intepretações determinado, construído no acontecimento da colonização. É em um espaço simbólico, filiado na memória de arquivo, que as letras das canções são cantadas, constituindo diferentes discursividades. Os efeitos de sentidos projetados para Vila Bela, no contexto histórico e político do período recente, apresentam as seguintes características: com uma população majoritariamente negra, os processos de ocupação e povoamento da região de fronteira mato-grossense colocaram os negros às margens da sociedade. Sua representação política e, também, sua representatividade social e econômica enquanto donos dos meios de produção, tem sido bastante tímida e excludente. Em contrapartida, a significação do vilabelense é trabalhada nas diversas atividades festivas que “folcloriza” a história dos negros referente ao período escravocrata. Ao buscar compreender as distintas formas linguísticas presentes nas canções, regidas pelas condições de produção do Período Contemporâneo, vale perguntar: em que medida a língua encenada em um acontecimento ritualizado materializa o esquecimento linguístico dos ancestrais moradores da cidade, ressignifica a histórica exclusão social do vilabelense e reconstitui o cenário de diferentes sujeitos na história da fronteira mato-grossense?

Esta pesquisa, inscrita na linha de “Estudos dos Processos Discursivos” do Programa de Pós-Graduação da Universidade do Estado de Mato Grosso (PPGL/UNEMAT), objetiva compreender discursivamente os processos de constituição e significação do espaço, da língua e do sujeito no Estado de Mato Grosso. Para alcançar tal objetivo, buscamos analisar materiais que colocam os sentidos, o sujeito e o espaço em um mesmo movimento (RODRÍGUEZ-ALCALÁ, 2003, 2011), assim, pela memória institucional e de constituição (popular) que compõem nosso arquivo de pesquisa – e que referimos como dizeres e sentidos que significam e espacializam o sujeito no Estado de Mato Grosso – temos acesso a um lugar de constituição, subjetivação e fronteira na relação entre ser mato-grossense e ser brasileiro nesse espaço. O trabalho se ancora nos pressupostos teóricos, metodológicos e analíticos da Análise de Discurso de linha francesa, que pensa o discurso enquanto efeito de sentido entre locutores (PÊCHEUX, 2014a) e a relação do sujeito com a língua e com a história, determinando formas de significação e identificação no/para o espaço. Para a pesquisa, foi necessária a articulação com a História das Ideias Linguísticas (HIL), que objetiva compreender a constituição de um saber da/sobre a língua, para se pensar na constituição da língua em Mato Grosso, sua memória e sua relação fronteiriça com a língua nacional, por meio daquilo que se identifica e desidentifica para o sujeito e seu espaço de significação. Pelo objeto de estudo, que colocam os sentidos e os sujeitos em relação ao espaço, vimos o modo como o sujeito se constitui ao se confrontar com os sentidos estabilizados por um discurso institucional, pelo que faz funcionar em uma memória de arquivo, e uma memória de constituição colonial, marcada pelo processo de colonização portuguesa em relação aos nativos da terra, os indígenas. Para isso, buscamos responder à pergunta: como o sujeito no Estado de Mato Grosso se constitui discursivamente para dizer de si enquanto mato-grossense e brasileiro? O arquivo de pesquisa constituiu-se a partir de dois pontos, que dão formato ao corpus: a) o funcionamento de um discurso institucional com documentos oficiais do Estado de Mato Grosso, como a Bandeira, o Brasão das Forças Armadas e o Hino do Estado de Mato Grosso (seção II) e b) a pichação, a canção popular “Nandaia” e o “Espetáculo Nandaia” (seção III), tomados enquanto uma narratividade popular, a partir da memória de constituição da língua e do sujeito no espaço mato-grossense. A memória discursiva (interdiscurso) e a memória institucional (memória de arquivo) se marcam fortemente na pesquisa: esta, trata-se de um discurso estabilizado do Estado, daquilo “[...] que não se deve esquecer, faz parte da inserção do sujeito em uma formação social [...] que afeta a relação do sujeito com aquilo que, na sociedade, se deve lembrar, no caso, face à cultura e à arte” (ORLANDI, 2020, p. 513); aquela, trata-se da memória de constituição do sujeito, estruturada pelo esquecimento (Ibid.), que, em sua formulação, mostra o que deve e pode ser dito enquanto efeito e que, pela sua inscrição interdiscursiva, se marca, pela equivocidade da língua, do espaço e do sujeito no Estado de Mato Grosso.

Esta pesquisa, inscrita na linha de pesquisa Estudos dos Processos Discursivos, do Programa de Pós Graduação em Linguística da UNEMAT, tem como objetivo analisar – a partir da teoria da Análise de Discurso de linha francesa, fundada por Pêcheux, na França e, posteriormente, desenvolvida por Eni Orlandi e outros linguistas, no Brasil – o discurso dos sujeitos professores e alunos sobre o processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa e Língua Inglesa e os documentos curriculares PCN, PCN+, OCN e BNCC, todos do Ensino Médio. Com isso, relacionaremos o dizer da lei e a prática de ensino dessas línguas. O lócus da pesquisa foi a Escola Estadual Deputado Bertoldo Freire, localizada em São José dos Quatro Marcos, no Estado de Mato Grosso. Então, apresentamos como se deu a Reforma do Ensino Médio e, consequentemente, o ensino em tempo integral, analisando o discurso sobre/da educação integral no/para o Estado de Mato Grosso. Analisamos, também, a respeito implantação da Escola da Escolha, Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE) e Escola Plena, sendo este o nome dado às escolas que oferecem ensino integral em Mato Grosso, no caso, o ensino ofertado pela escola onde realizamos a pesquisa. O corpus constituiu-se por meio de um questionário direcionado aos professores de Língua Portuguesa e Língua Inglesa e a alguns alunos do Ensino Médio (de um primeiro e um terceiro ano) e, também, de recortes extraídos dos documentos curriculares sobre a prática de ensino dessas línguas. Após descrevermos as condições de produção dos PCNEM, PCN+EM, OCNEM e BNCC do Ensino Médio, analisamos as relações de paráfrase e polissemia, dadas as diferentes condições em que esses documentos foram produzidos. Assim, com base na análise realizada, foi possível observar que a BNCC, que se diz inovadora em relação aos PCNEM, PCN+EM e OCNEM, não apresenta muitas mudanças. Observamos que há uma repetição de já ditos, que intervêm na textualidade desses documentos, produzindo efeitos de evidência. Em todos os documentos, a fase do Ensino Médio é colocada como preparação do aluno para o mundo do trabalho, com maior ênfase na textualidade da BNCC, que visa ofertar um ensino em tempo integral e apresenta os itinerários formativos, dando uma suposta liberdade de escolha aos alunos para sua capacitação técnica e profissional, com o intuito de que eles possam atender com qualidade ao mercado de trabalho, reproduzindo-se, assim, um discurso sustentado por uma ideologia neoliberal, típica de um sistema capitalista. Todos os documentos, com destaque à textualidade da BNCC, colocam em evidência a importância das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) no contexto escolar, mas não consideram as reais condições das escolas para ofertar as tecnologias digitais. A partir das formulações dos sujeitos-alunos, vemos que há uma identificação em relação à língua fluida, que se fala no dia a dia, e um estranhamento à língua imaginária, idealizada, formal. Com isso, esses sujeitos parecem não se identificar com a Língua Portuguesa aprendida na escola, que está distante da forma que enunciam em casa. Compreendemos, também, que há um imaginário por parte dos alunos e de toda a sociedade de que na escola é onde se aprende a Língua Portuguesa formal, padrão. No que diz respeito ao ensino da uma Língua Estrangeira, em todos os documentos, mesmo de maneira implícita, as referências são sempre voltadas para a Língua Inglesa, sendo a BNCC o único documento que explicita sua obrigatoriedade no currículo. Porém, observamos que os sujeitos-alunos se identificam também com outras Línguas Estrangeiras e veem na Língua Inglesa, uma língua utilitária, que lhes possibilitará maior êxito no mercado de trabalho. No entanto, quando os sujeitos-alunos enunciam que pretendem conciliar o trabalho com os estudos e ingressar no Ensino Superior, é possível perceber indícios de resistência, em que esses alunos rompem com as amarras do Estado, que visa apenas formar o aluno para atender às necessidades do mercado. Quanto aos sujeitos-professores, foi possível observar que, em algumas formulações, se identificam com o discurso do Estado, mas na maioria delas, se contraidentificam, pois observam a distância entre o que é discursivisado pelos documentos oficiais e a prática de ensino de línguas. E, então, procuram, na medida do possível, romper com a textualidade dos documentos oficiais, a fim de trabalhar a prática de ensino de maneira diferenciada. A análise do corpus nos permitiu compreender, então, que há duas modalidades da tomada de posição dos sujeitos-professores e sujeitos-alunos ao se inscrever em uma formação discursiva: a identificação e a contraidentificação, pois esses sujeitos, nos processos de identificação e de significação, ora se identificam ora se contraidentificam com o discurso do Estado capitalista e suas leis, resistindo ao que lhes é (im)posto.

A presente tese se inscreve na linha de pesquisa Estudos de processos discursivos, na área de concentração Estudo de processos linguísticos, tem por objetivo compreender os processos de silenciamento e de produção de sentidos nas políticas públicas de ensino para a educação básica e nos discursos das assessorias pedagógicas de dois municípios de fronteira da região Oeste do Estado de Mato Grosso. Lançamos um olhar para as textualidades das políticas públicas e os discursos coletados por meio das respostas de um questionário enviado às assessorias pedagógicas dos municípios de Cáceres e de Porto Esperidião, municípios que fazem fronteira com a Bolívia, lócus da pesquisa. Esta pesquisa filia-se à Análise de Discurso de linha materialista, formulada por Pêcheux e outros pesquisadores, na França, e desenvolvida, inicialmente, por Eni Orlandi, no Brasil, para analisar o corpus, compreendendo o discurso enquanto objeto simbólico que produz sentidos. Olhamos para o material de análise considerando as condições de produção dos discursos dos sujeitos participantes, a relação que os dizeres estabelecem com outros discursos, especialmente com as políticas de ensino de línguas, para observarmos o processo discursivo em funcionamento. Nosso olhar para os discursos das assessorias pedagógicas busca compreender os processos de silenciamento, quais sejam, o dito e o não-dito, o eufemismo e a interdição; e, também, os processos de produção de sentidos no que tange às políticas de formação docente e ações que atendam alunos imigrantes de fronteira. Percebemos em nossa pesquisa que o Estado produz, pelo poder legislador, uma injunção à interpretação e, ao pensar políticas para os imigrantes, provoca a desigualdade, pois não avança quando o imigrante adentra o ambiente escolar, já que as práticas cotidianas nas escolas o tornam um aluno invisível na falta de políticas que de fato atendam às questões de línguas impostas na fronteira.

Esta pesquisa está inscrita na área de concentração “Estudo de Processos Linguísticos”, na linha de pesquisa “Estudo dos Processos de Significação”, do Programa de Pós-Graduação em Linguística – PPGL da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT. O objetivo deste trabalho é analisar a construção dos sentidos da palavra política(o) na enunciação dos ex-presidentes do Brasil, Fernando Collor de Melo, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, ocorridas no final do século XX e início do século XXI. A escolha desses ex-presidentes se deu por se tratarem dos três primeiros presidentes eleitos pelo voto direto e livre após a ditadura militar, ou seja, quando o país retomava o Estado democrático de Direito. Tomamos a palavra política como objeto de análise para compreender como os modos de dizer dos mandatários do país, produzidos no exercício do poder, se constituem politicamente, considerando as condições históricas e sociais que os constituem, além de verificar como essa palavra, ao ser dita, produz sentidos para a retomada democrática no Brasil. Esta tese se fundamenta teoricamente na Semântica do Acontecimento desenvolvida por Guimarães (1995, 2002, 2007, 2011, 2018) no Brasil, que a define como uma semântica enunciativa, política, histórica e social e que toma o termo política no funcionamento da enunciação como desentendimento. A palavra política nas enunciações presidenciais será compreendida em sua designação, pelo funcionamento da predicação observada no procedimento do DSD, Domínio Semântico de Determinação. A designação dessa palavra nos possibilita verificar a constituição da língua política por uma palavra, por um nome, em nosso caso política, pois a designação é uma relação de linguagem que produz sentidos na relação simbólica com o real ao falar dele. Procuramos compreender a polissemia da palavra política e verificar como esses sentidos produzidos pelo dizer do lugar social da Presidência da República, no espaço de enunciação brasileiro, contribui para a constituição de um modo de dizer a política da e na política de Estado no Brasil, em diferentes textos, de diferentes falantes, dadas as condições sociais e histórica de cada ex-presidente.

Este trabalho, inscrito na linha de pesquisa Estudos dos Processos de Significação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), tem a pretensão de mostrar como se organiza o domínio nocional do marcador ‘puta’, no português do Brasil, a partir da criação de um campo metalinguístico de análise, sob a égide da Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas (TOPE). O referencial teórico mais robusto está nos três tomos de Culioli (1990, 1999a, 1999b), que endossam os conceitos (i) de operações como invariantes que regulam a atividade de linguagem, (ii) de noção como o feixe de propriedades híbridas por dependerem do cultural, do psíquico e do material e (iii) de enunciado como o espaço genuíno da articulação entre Línguas e Linguagem, das operações cognitivas do homem e da estabilização temporária do sentido. Enquanto uma unidade da língua, ‘puta’ tanto define (como substantivo) quanto funciona como um qualificador (um adjetivo). Porém, entre uma variação e outra há um invariante (relação primitiva) que sustenta cada particularidade de ocorrência, e é essa invariância que queremos alcançar a partir da atividade da linguagem, dos valores provisoriamente estabilizados e das subjetivações possíveis. O material de análise é composto por enunciados coletados no site Corpus do Português (https://www.corpusdoportugues.org/hist-gen/). Como critério de seleção, recorremos aos enunciados em que ‘puta’ já está estabilizado ou como substantivo pejorativo e como adjetivo hiperbolizante. Assim, além de percebermos que o valor de puta, obviamente, depende do cotexto e do contexto, notamos que ele é constantemente (re)construído pela enunciação e pelo empírico com uma orientação mais ou menos fixa de sentido.

As atuais formas de leitura são decorrentes “do surgimento de novas práticas sociais, oriundas da vida moderna que, por sua vez, requerem que o sujeito assuma outras ou novas habilidades para lidar com as atividades de leitura e escrita” (VALE; STRIQUER, 2014, p.211) Assim, surge, então, a urgência de que o aluno desenvolva capacidades linguísticas que corresponda ao contexto atual mediado pela tecnologia e que, consequentemente, aprenda a “tomar e sustentar decisões, fazer escolhas e assumir posições conscientes e reflexivas” (BNCC, 2017, p.477). Nessa direção, a escola possui o papel importante de criar espaços e atualizações contemporâneas que permitam que essas práticas de leitura online aconteçam. Essa pesquisa tem como objetivo contribuir com a constituição de um sujeito-leitor mais qualificado e crítico diante das novas materialidades textuais postas em circulação, em particular no contexto online, fazendo isso a partir da compreensão e interpretação de Fake News. Adoto os Sistemas Dinâmicos Complexos (SDC) como vertente teórica e compreendo as práticas de leitura como um sistema complexo, uma vez que “seu comportamento emerge das interações do seu componente” (LARSEN-FREEMAN E CAMERON, 2008, p.2). Desse modo, foram analisados, com base nos pressupostos teóricos dos SDC, todos os dados coletados a partir das gravações das discussões no decorrer de cada encontro presencial da oficina Leitura e Interpretação de Texto – Para Além das Fake News, desenvolvida com os alunos das turmas de 3° ano da Escola Estadual União e Força. Essa oficina teve como objetivo contribuir para que o os alunos participantes pudessem compreender outros modos de leitura existentes tanto no contexto off-line quanto no online, fazendo isso por meio das Fake News. Assim, analiso também todos os recortes das postagens do grupo do WhatsApp da oficina coletadas pela ferramenta printscreen. Além disso, tomo as Fake News como materialidade de análise. Essa pesquisa apresenta uma forma de abordar e desenvolver Fake News nas escolas como um caminho para formação de um sujeitor-leitor mais crítico diante das novas textualidades em uma época marcada pela Pós-verdade.

O presente estudo, inscrito na linha de Pesquisa Processo de Variação e Mudança do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), foi desenvolvido sob os aportes teóricos e metodológicos da Dialetologia Pluridimensional, com base no estudo de Radke & Thun (1996). Thun (1998), e do Africanismo no Brasil, a partir dos estudos de Alkmim; Petter (2009). Teve como objetivo, analisar e descrever a variação do Português falado em Comunidades rurais afro-brasileiras, considerando as relações das línguas africanas em contato com o Português falado no Brasil. Em Barra do Bugres- MT encontram-se quatro comunidades afrodescendentes registradas e certificadas na Fundação de Palmares, optamos assim, para desenvolver os estudos em quatro delas: São José do Baixiu, Camarinha, Morro Redondo, Vaca Morta, localizadas na zona rural, a 74km de Barra do Bugres-MT. O objetivo desta pesquisa consistiu em realizar um trabalho acerca da fala e da Consciência Linguística (CL) em Comunidades Afro-brasileiras, mais especificamente, a Comunidade “Vão Grande”, localizada no Município de Barra do Bugres- MT. O estudo da fala de Comunidades Quilombolas do estado de Mato Grosso fora contrastado com os dados do Atlas Linguístico das regiões envolvidas e com o Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) e demais estudos necessários. O corpus da pesquisa constitui-se de 15 entrevistas, transcritas e analisadas. Para desenvolver a Pesquisa nas comunidades quilombolas e selecionar os entrevistados, foram seguidos alguns critérios como: escolaridade, ter nascido na comunidade ou vivido a maior parte da vida nela, gostar de conversar, e não ter morado fora da Comunidade por muito tempo. Nas comunidades também selecionamos afrodescendentes para aplicarmos o Questionário formulado por Alkmim; Petter (2009), composto por 249 palavras de origem africana. Portanto os resultados obtidos nas análises das comunidades já mencionadas apresentaram predominância das variantes [+] afro, ou seja, o maior número de palavras de origem africana, apresentou-se na Comunidade São José do Baixiu, em uso real em ambos os sexos. Nas comunidades Camarinha e Morro Redondo, ambas não diferem nos resultados, pois apresentam as variantes [-afro], no português.

O Youtube é uma plataforma que popularizou práticas de assistir vídeos e possibilitam a exibição de variadas formas de entretenimento e também o ensino de idiomas. A possibilidade de aprender um idioma de forma autônoma foi, assim, ampliada para o ambiente virtual. O canal do YouTube selecionado para este trabalho para analisar as elementos presentes em seu aspecto visual foi o canal English in Brazil by Carina Fragozo. O vídeo intitulado “Cuidado com o I want no restaurante” é um dos mais assistidos no canal. O objetivo desta dissertação, portanto é verificar as características visuais apresentadas no vídeo no canal “English in Brazil by Carina Fragozo e verificar a partir do alcance teórico da Gramática do Design Visual (GDV) de Kress e van Leeuwen (2006) as metafunções que estão presentes nos vídeos além de observar as estratégias visuais estão vinculadas no vídeo em questão. O processo metodológico foi feito a partir de uma abordagem qualitativa e interpretativa com seleção de um vídeo e partilhado em forma de telas selecionadas do vídeo registrados no Canal English in Brazil. A partir da teoria da Gramática do Design Visual (GDV) e que se inserem na perspectiva da Linguística Aplicada realizamos uma análise das características visuais de um vídeo do canal, ressaltando as metafunções da linguagem, compreende as metafunções metafunção representacional narrativa e conceitual partimos para identificação dessas metafunções em funcionamento nos frames selecionados segundo a teoria da GDV. A discussão do funcionamento de elementos presentes no vídeo durante o processo de ensino de idiomas permite a observação de estratégias que são próprias do YouTube como plataforma de alcance e oferta de conteúdo visual e voltadas no canal no ensino de língua inglesa.

Nesta pesquisa nos propomos analisar à luz da Semântica do Acontecimento, teoria desenvolvida por Guimarães (2002, 2004, 2017, 2018), a história das nomeações e renomeações que fizeram parte da história da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). Este estudo leva em conta também as nomeações e renomeações das instituições que antecederam à criação da Unemat, e foi feito em textos oficiais e textos jornalísticos relativos à constituição das próprias instituições que levaram ao que é hoje a Unemat. Essas análises se darão de forma semântico-enunciativa em que consideramos que o acontecimento institui a sua própria temporalidade. O acontecimento enunciativo coloca em disputa o político, exposto ao real da língua e expõe o litigio instalado no processo de transformação de uma instituição de ensino superior de uma cidade do interior de Mato Grosso em uma Universidade do Estado. Para essa pesquisa além das análises de cada cena enunciativa que nomeou e renomeou a Unemat, também realizamos um trabalho de pesquisa histórica sobre o percurso do ensino superior em Mato Grosso, o processo de formação das siglas no Brasil e o padrão de nomeação de universidades públicas brasileiras.

Neste trabalho, inscrevemo-nos na área de concentração dos estudos de processos linguísticos e na linha de pesquisa de Estudos de Processos Discursivos do Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (PPGL-UNEMAT). Com o foco na Teoria da Análise de Discurso de linha francesa, desenvolvemos a pesquisa que busca compreender pelo funcionamento da linguagem o boato “como um fato da sociedade” e que pelo discurso joga no equívoco da língua, deslize que contribui para a circulação e desdobramento de notícias falsas, fenômeno contemporâneo denominado Fake News. Um Estudo das Condições de Produção do discurso do movimento Antivacina em que procuramos através da história da imprensa identificar as primeiras menções a este termo e como a imprensa trata em sua práxis jornalística e da ética da profissão, as Fake News. Pela teoria da Análise de Discurso buscamos compreender pelo movimento discursivo Antivacina, o modo de significação na sociedade, neste século entre 2017 e 2019. Dizeres – do movimento Antivacina - no digital que viralizaram em diversos sites, artigos científicos, em grupos no Facebook e Whastapp. No Brasil, houve um acontecimento, a Revolta da Vacina em 1904, no Rio de Janeiro, que se assemelha a este movimento atual. Com isso procuramos identificar pela historicidade as marcas do discurso jornalístico em noticiar esse acontecimento que a vacinação causava na população, uma política higienista em curso, na época. Desse modo questionamos como circulam e viralizam as Fake News na internet, constituídas pelo efeitorumor, autoria e função-autor. A partir da noção teórica da memória discursiva, o interdiscurso, chegamos pelo estudo da língua a compreender a memória digital do movimento Antivacina. A Análise de Discurso nos abona nas condições teóricas para se compreender como é o funcionamento do fenômeno da circulação das Fake News com seus efeitos de sentido discursivo pelo efeito-rumor, e efeito-autor que influencia em um efeitoleitor desse arquivo digital na transversalidade do efeito midiático produzido pelo jornalismo.

Esta dissertação tem como objetivo compreender os modos pelos quais, no/pelo ensino da língua, vêm se produzindo sentidos sobre a leitura, bem como vem se instituindo a posição sujeito professor nos projetos do Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da educação Básica (Cefapro), em análise, sobre a atuação do professor em sala de aula. Estabelecemos como pergunta central de nossa pesquisa compreender De que modo os projetos de Formação continuada (Cefapro) significam a posição sujeito professor na relação com o ensino de leitura? E, de que modo, essa relação passa/tem a ver com o ensino de língua? A pesquisa aqui apresentada consiste na análise dos projetos de formação continuada dos professores de Língua Portuguesa, produzidos por professores formadores de Língua Portuguesa do Cefapro, nos anos de 2017 e 2018, subsidiada pelos pressupostos teórico-epistemológicos e metodológicos da Análise de Discurso, de linha francesa. Trata-se de uma teoria que tem como objeto o discurso, definido por Orlandi (2000), como a palavra em movimento, uma prática de linguagem, em que a língua, enquanto trabalho simbólico, produz sentido.

Esta dissertação alinha-se à área denominada Estudo de Processos Linguísticos e inscrita na linha de pesquisa Estudo de Processos Discursivos, do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística (PPGL) da Universidade do Estado de Mato Grosso Carlos Alberto Reyes Maldonado (UNEMAT). Neste trabalho, que se inscreve à teoria materialista da Análise de Discurso, a partir de Pêcheux ([1969, 1975a,] 1993, [1983a] 1999, [1981] 2004, [1975b] 2014, [1983b] 2015), Orlandi (1990, 1993, 1995, 2002, 2007, 2015, 2017), Authier-Revuz (1990, 1998), Mariani (2006, 2010) e Almeida (2015, 2018, 2019), temos como objetivo compreender o lugar da língua e a sua relação entre o escritor – o sujeito-poeta – e o texto. Ou seja, propomo-nos à compreensão da relação discursiva entre o sujeito-poeta e o texto poético. Para isso, buscamos analisar e compreender o funcionamento discursivo do jogo interlocutivo na relação entre os eus e o (o)Outro do discurso, no modo como estes (se) enunciam nos contos. Os contos que compõem o nosso material de leitura constituem-se parte da literatura mato-grossense, sendo o conto O Amigo dos Desconhecidos (1929), da obra Espelho de Almas, de José de Mesquita (1892-1961) e o conto Buquê de Línguas (1999), da obra Buquê de Línguas, de Tereza Albues (1936-2005). A partir desses contos, tomamos o funcionamento discursivo da alteridade – a relação entre os (inter)locutores, os eus que formulam, falam, e o (o)Outro do discurso – enquanto vestígios na língua, pela relação sujeito/discurso, conforme materializados no texto. Os contos funcionam assim, como espaço discursivo do múltiplo, do heterogêneo, dando visibilidade à noção de sujeito, ideologia e inconsciente, ao mesmo tempo em que (re)atualizam, pela memória do dizer, a contradição histórica constitutiva da língua(gem), tornando-a dizível no/pelo texto poético, em suas condições de produção.

Este trabalho, concentrado na área dos Estudos de Processos de Práticas Sociais da Linguagem do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL), da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT/Cáceres), tem como objetivo geral compreender como os documentos pedagógicos escolares: Projetos-Político Pedagógicos (PPP) e Planos Anuais de Ensino (PAE) de professores de língua materna, de duas escolas públicas de Pontes e Lacerda-MT, estabelecem relações dialógicas com os documentos oficiais parametrizadores do ensino de língua portuguesa para o Ensino Médio, no Brasil, no que se refere aos letramentos digitais. Desse modo, o trabalho fundamenta-se na Teoria Dialógica da Linguagem, de Bakhtin e o Círculo, em diálogo com os estudos sobre o letramento, multiletramentos e letramentos digitais. Trata-se de uma pesquisa de análise documental de abordagem dialógica que busca respostas para as seguintes questões de investigação: 1. O que dizem os documentos oficiais parametrizadores do ensino de língua portuguesa para o Ensino Médio sobre os letramentos digitais? 2. Que relações dialógicas podem ser estabelecidas entre os documentos oficiais e os escolares no que tange aos letramentos digitais? Para darmos respostas a essas questões, realizamos uma pré-análise dos documentos oficiais parametrizadores do ensino de língua materna do Ensino Médio, no Brasil, e buscamos suas orientações para o desenvolvimento dos processos dos multiletramentos/letramentos digitais; em seguida, analisamos os documentos escolares, buscando pontos de conexão entre eles que nos auxiliassem a compreender quais relações dialógicas podiam ser estabelecidas entre documentos, em favor da formação do estudante para as práticas de letramentos digitais. Os resultados da análise demonstraram que as orientações para os letramentos digitais aparecem de forma mais acentuada na Base Nacional Comum Curricular (2018) em relação aos seus anteriores. No que se refere aos documentos escolares, observamos tentativas de se afinar o discurso da escola ao oficial, seja na forma de citação ou de referência a alguns objetivos dos documentos oficiais. Entretanto, tais tentativas não se consolidaram tendo em vista que, ao cruzarmos os dados dos Projetos Político-Pedagógicos com os Planos Anuais de Ensino dos professores, não identificamos articulação entre documentos que nos permitissem observar objetivos e objetos de ensino que favorecem de fato o desenvolvimento dos letramentos digitais. Esses resultados levantam a necessidade urgente de as escolas públicas de Ensino Médio de Pontes e Lacerda-MT reverem seus documentos, de forma a se prepararem para os desafios linguísticos impostos por essa nova era em que a tecnologia digital exige de nós não só a capacidade técnica de operação das ferramentas digitais, mas, sobretudo a de uso crítico-reflexivo da linguagem, em contexto digital. A relevância deste trabalho justifica-se pela necessidade de expandirmos as reflexões sobre as possibilidades e os desafios que os letramentos/multiletramentos impõem ao currículo da escola pública mato-grossense e, em especial, às práticas pedagógicas dos professores de língua materna.

Este trabalho de tese está inscrito na linha de pesquisa Estudo de Processos Discursivos do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Linguística da UNEMAT, e se propõe a compreender a concepção teórica de língua(gem) que subsidia a política de avaliação dos textos redacionais do ENEM, como também a projeção imaginária de língua, de sujeito-avaliador e de sujeito-candidato à prova. A perspectiva teórica em que nos inscrevemos é a Escola Francesa de Análise de Discurso, conforme Michel Pêcheux, Eni Orlandi e demais pesquisadores em Análise de Discurso no Brasil. Mobilizamos os conceitos teóricos de condições de produção, formação discursiva, formação imaginária, gestos de interpretação e subjetividade, noções pelas quais empreendemos um trabalho de reflexão sobre a concepção teórica de língua(gem), que norteia a política de avaliação da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), buscando compreender o funcionamento do discurso do Programa e os efeitos de sentido inscritos na prática de avaliação do texto. O corpus constituiu-se de recortes das Portarias nº 438/1998, nº 109/2009 e nº 807/2010; recortes do Guia do Participante do ENEM/2013 e do Manual de Capacitação para Avaliação das Redações do ENEM/2013. Observamos, pelo discurso da Lei, a projeção imaginária no gesto de leitura do sujeito-avaliador, interpelado pela concepção teórica de língua e de linguagem da prova, o que nos fez questionar o parâmetro de avaliação da escrita do ENEM, pois entendemos que os sentidos, na linguagem, não se fecham em uma área dominante, pela inscrição teórica. Mostramos que não há leitura linear/unívoca, do mesmo modo que não há uma forma-sujeito leitor-escritor ideal (ORLANDI, 2012d, p. 62); o que se tem são maneiras distintas de incisão na materialidade linguística, pois diante do texto o olhar-leitor ‗flagra‘ os sentidos e assim a questão fulcral foi pensarmos no lugar da interpretação, na avaliação do texto, sem neutralizá-la em um espaço lógico, com pretensão universal. (PÊCHEUX, 1999). Além disso, este estudo nos fez compreender que a política de avaliação da escrita do ENEM ‗desenha‘ uma política de língua que, por sua vez, reverbera na teoria linguística ‗eleita‘ para ser praticada na escola, fazendo funcionar o imaginário de leitura e de escrita nas políticas de ensino de língua e nas concepções de linguagem que dão sustentação e legitimam as práticas linguísticas. Assim, destacamos a relevância e a contribuição desta pesquisa para o âmbito dos estudos da linguagem, sobretudo, para os leitores que se voltam a pensar em questões relacionadas à formulação das políticas de avaliação da escrita e nos efeitos de sentido que nelas se engendram. Avaliação, língua e linguagem, sujeito, leitura e escrita, eis o fio condutor.

Esta pesquisa se vincula à Área de Concentração denominada Estudo de Processos Linguísticos, do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso, à linha de pesquisa Estudo de Processos de Significação. Nesse sentido, propusemos analisar a construção dos sentidos das nomeações e renomeações dos espaços que particularizam os quilombos e as terras quilombolas de Mato Grosso, filiando-nos à Semântica do Acontecimento (2002), disciplina teórica que considera que o acontecimento de nomeação se dá no espaço de enunciação em que a Língua Portuguesa se entrecruza com outras línguas. Para analisar enunciativamente os nomes dos quilombos mato-grossenses, tomamos como material analítico um conjunto de textos, que compreendem documentos oficiais como anais, leis, relatórios de diligências, mapas, bem como materiais bibliográficos que contemplam a historiografia dos quilombos, considerando ainda, a relação integrativa do texto com outros já enunciados, para observar o movimento semântico dos nomes que designam os quilombos. Buscamos mostrar ainda, a constituição das comunidades de quilombos que se formaram de modo étnico-racial diferenciado, em que negros e índios resistiram e formaram, em Mato Grosso, comunidades quilombolas distintas das demais regiões do Brasil. Nessa direção, tomamos como material analítico as Certidões de Auto-reconhecimento das Comunidades Remanescentes de Quilombos de Mato Grosso, procurando compreender como se constitui o processo de nomeação das comunidades quilombolas de Mato Grosso. Observamos, assim, que os nomes próprios são expostos permanentemente ao processo de renomeação, um nome é determinado antes de tudo pela representação da história construída pelas histórias do próprio nome, que determinam a semantização das designações constitutivas dos sentidos do nome, a partir das relações enunciativas construídas nas relações sócio-históricas dos sujeitos com a língua e o mundo.

O presente trabalho concentra-se na área de Estudo de Processos Linguísticos, inscreve-se na linha de pesquisa Estudo dos Processos de Significação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da UNEMAT e visa compreender como se constituem os sentidos da palavra família nos acontecimentos da enunciação, enquanto acontecimento do funcionamento da língua afetada por uma temporalidade de sentidos (passado, presente e futuro). A história dos sentidos de família se entrelaça à história da humanidade. Sem uma não há como se pensar a existência da outra. Nos diversos textos que tematizam a família e circulam no Brasil, observamos que os sentidos da palavra família convivem com outros sentidos dados a essa palavra, produzindo uma disputa de sentidos. Desse modo, os diferentes sentidos atribuídos à palavra família se dão pela relação do funcionamento da língua com as suas questões sócio-históricas (mudanças econômicas, históricas, jurídicas e de afetividade), e nesta direção podemos dizer que os sentidos da palavra família não são estáticos, eles alteram-se, modificam-se, transformam-se e não significam igualmente para todos, por se tratar de uma construção histórico-social. Filiada à Semântica da Enunciação desenvolvida por Guimarães (1987; 1995; 2002; 2018) e por Dias (1996; 2018), analisamos, inicialmente, em textos oficiais da Igreja, do Estado e em textos eletrônicos, as relações de argumentação e sentido e, num segundo momento, como as articulações internominais sustentam na/pela enunciação sentidos dados à palavra família. Para a realização das análises nos valemos dos procedimentos de sondagem (GUIMARÃES, 2018) e das redes enunciativas (DIAS, 2018). Mobilizamos estes dois procedimentos por considerá-los necessários e fundamentais pelo modo como desenham duas questões pontuais de linguagem no material recortado: de um lado temos a argumentação e, de outro, a formação nominal. As análises apontam que os sentidos de família estão em constantes movimentos por se constituírem do lugar do embate, do conflito, nos acontecimentos de linguagem em que a família é significada como a união entre um homem e uma mulher pelo memorável da família tradicional, e também como a união que, fugindo ao modelo tradicional pelo memorável da diversidade, produz sentidos de diferença e de reconhecimento pela igualização dessa diferença. Sob o viés da argumentação enunciativa, a palavra família significa na relação eu sustento que família é ‘x’ a um tu, que se relativiza por uma relação eu sustento que a família ‘x’ existe para um tu do mesmo sexo. E na relação tensionada entre o que é dito em textos eletrônicos, observamos sob o ponto de vista das articulações internominais, que a enunciação da unidade nominal família estabelece diferentes relações semânticas pelos diferentes convergentes adjetivais que recebe.

Esta pesquisa, inscrita na área de concentração “Estudo de Processos Linguísticos” e à Linha de pesquisa “Estudo de Processos de Práticas Sociais da Linguagem”, do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso, tem como objetivo analisar os discursos sobre práticas de ensino de língua(gem) na Educação Básica de Mato Grosso de professores egressos e não egressos da disciplina Linguagem e Tecnologia do Curso de Letras da Unemat/Cáceres, a fim de compreender de que maneira eles incorporam as tecnologias digitais em suas práticas de ensino. Esta pesquisa é motivada por estudos recentes da área da Linguística Aplicada e de outros campos de pesquisas em linguagem que têm mostrado que as práticas de língua(gem), bem como a maioria das relações sociais contemporâneas são afetadas pelas tecnologias digitais e que há, historicamente, um desalinhamento das práticas de ensino com essa dinâmica emergente. Diante desse cenário, ao perceber o funcionamento da disciplina Linguagem e Tecnologia no Curso de Letras da Unemat/Cáceres e as perspectivas apontadas pelas narrativas dos alunos mostrando-a como instauradora de uma perspectiva que integra as tecnologias digitais, tomei a decisão de produzir esta pesquisa, a fim de observar, de que maneira essas tecnologias estão constituídas nos discursos sobre práticas dos egressos dessa disciplina e também por não egressos, tomando “Linguagem e Tecnologia” como uma variável que influencia nas condições iniciais de formação desses professores. Para realizar esse estudo, tomo como suporte teórico os postulados de Ortega e Han (2017), quando discorrem sobre a Teoria dos Sistemas Dinâmicos Complexos aplicada nos estudos da linguagem e as orientações metodológicas do Estudo de Caso, tomando o caso em estudo como um sistema de natureza complexa e adaptativa. A partir das reflexões apresentadas neste trabalho, posso destacar que as tecnologias digitais fazem parte da realidade da grande maioria dos professores que participaram desta pesquisa, porém, de modo mais pontual, os professores que cursaram Linguagem e Tecnologia em sua formação inicial lidam com as tecnologias digitais, de modo geral, com mais naturalidade. Isso não significa que os não egressos estão alheios a estas práticas, pelo contrário, alguns mostraram posturas discursivas resilientes e autônomas quanto à incorporação das tecnologias em suas práticas de ensino de língua(gem), porém, muitos ainda não conseguem essa adaptação em virtude das limitações impostas por diversos aspectos observados em seus discursos, como a falta de laboratórios de informática bem equipados, as proibições quanto ao uso do smartphone e até mesmo as resistências das gestões escolares. Nesse contexto, entra em cena a necessidade de formação continuada em serviço voltada para as tecnologias digitais, bem como a reformulação dos PPC dos cursos de Licenciatura para lidar com essa nova realidade. Sobre isso, analisei alguns documentos que começam a inserir elementos, tanto na Educação Básica como na Superior, para a reconfiguração destes espaços em atendimento a essa nova realidade. Aliado a essa discussão, posso concluir que uma série de barreiras que resistem, historicamente, à entrada das tecnologias digitais no âmbito da escola, acabam que, com a pandemia de COVID 19, parecem não suportar e passam a conceber, forçadamente, as tecnologias digitais como constitutivas das práticas de ensino de língua(gem) na Educação Básica de Mato Grosso.

Este trabalho, inscrito na área de concentração “Estudos de processos linguísticos” e na linha de pesquisa “Estudos de Processos de Significação”, do Programa de pós graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), tem como objetivo apresentar um estudo semântico enunciativo das relações designativas das Formações Nominais Refugiado Sírio, Refugiada Síria, Criança Refugiada Síria e Família Síria Refugiada em um corpus constituído de textos (manchetes/notícias) publicados no portal da ACNUR ─ Alto comissariado das nações unidas para Refugiados, (www.acnur.org), responsável por desenvolver atividades oficiais de proteção ao fenômeno mundial “crise dos refugiados”. Faremos nossas análises a partir de uma base teórico-metodológica que leva em consideração os estudos enunciativos, de maneira mais específica, nos trabalhos desenvolvidos por Guimarães (1987, 2002, 2018). Nessa direção, este trabalho de tese investiga os sentidos dessas formações nominais nos enunciados-títulos de notícias do portal da ACNUR, considerado como “uma questão crucial” nas análises, pois, “o sentido é produzido na enunciação tomada como acontecimento de linguagem” (GUIMARÃES, 2012, p. 19). Pautados neste princípio, com a realização desta pesquisa, observamos que a formação nominal refugiado sírio é reescrita por outras formações nominais como mulher refugiada síria, criança refugiada síria, família síria que são determinadas por uma história enunciativa que constitui o sujeito de refugiado sírio a partir de um memorável específico em cada enunciação.

O estudo sobre a memória discursiva de língua considera o discurso da escrita na escola ao passar pelos deslocamentos de língua para discurso, compreendendo a forma-sujeito e a homogeneização da língua pela sua escrita. As políticas de ensino de língua portuguesa conduziram ao efeito de sentidos dissimulados pela oficialização da língua, desencadeando a memória dos sentidos e a reatualização dos discursos. A inscrição na memória social da língua portuguesa pelos contos de fadas e as suas condições de produção, produziram como o ensino de língua portuguesa, envolto pela evidência da obrigatoriedade de estudar, dissimula imposição do Estado sobre as políticas de dominação pela língua. O estudo linguístico proposto, filia-se à teoria da Análise do Discurso, operando com alguns conceitos discursivos, tais como o de discurso e interdiscurso, memória discursiva e narratividade ainda de paráfrase/polissemia, no que concerne ao funcionamento da repetição/diferença como um próprio da língua, a fim de analisar os efeitos de sentidos em sequências discursivas de versões de contos de fadas produzidas por alunos de escola estadual, o funcionamento do discurso da escrita pela inscrição do sujeito na memória da língua. O material de análise é constituído por sequências discursivas produzidas pelos alunos do ensino fundamental, do 7º e 8º anos, de uma escola estadual, situada na capital de Mato Grosso. Ao receber o excerto do primeiro parágrafo do conto O sapo, escrito numa folha, o aluno deveria continuá-lo considerando o início dado, sem que fosse feita leitura ou outra preparação específica para esta escrita. Dentre as produções realizadas, selecionou-se oito delas que pudessem mostrar possíveis regularidades quanto a memória discursiva da língua e o efeito de sentidos do discurso da escrita na escola. Estas produções mostraram que estas atividades de língua portuguesa em sala de aula atuam enquanto espaço para repetição e que a escola funciona como a um portal para o mundo da legitimidade/oficialidade evidenciada no/pelo discurso da escrita, conforme defendida pelas políticas de ensino de língua portuguesa do Estado. Desse modo, a escola ao mesmo tempo que promove o domínio da norma culta, produz uma falta para o sujeito aluno. Então, é pela possibilidade de poder propor o jogo polissêmico considerando a memória das línguas que se materializam nas produções escolares que este estudo espera contribuir/arejar o espaço discursivo das aulas de língua portuguesa.

Este trabalho, inscrito na linha de pesquisa Estudos de Processos de Significação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), tem como objetivo o estudo da locução adverbial DE REPENTE como marcador de operações enunciativas. Para tanto, fundamentamos o desenvolvimento da pesquisa na proposta de Antoine Culioli, mentor da Teoria das Operações Predicativas Enunciativas (CULIOLI, 1990, 1999a, 1999b). Propomos, nessa direção, observar os processos de construção de significação para DE REPENTE resultantes das interações do termo linguístico com outros. Nesse caso, buscamos visualizar as operações realizadas durante o processo de estabilização da significação com DE REPENTE. Distanciamo-nos, nesse caso, das abordagens de análise estática da língua. Antes, buscamos apreender as marcas do enunciado, incluindo-se DE REPENTE, como resultado do processo de construção de representação. Para tanto, constituímos um corpus coletado do meio eletrônico Corpus do Português. O critério de seleção dos enunciados foi a ocorrência de DE REPENTE com formas verbais no modo indicativo, e posposto a conjunção aditiva e. Assim, todos os enunciados analisados apresentam essa organização sintática. A metodologia se baseou na atividade de reformulação, também denominada de glosagem ou parafrasagem (FRANCKEL, 2011; FUCHS, 1985). Por meio dos procedimentos de reformulação pudemos esboçar um sistema de representação metalinguística para o funcionamento do marcador. Observamos que a significação de DE REPENTE vai além dos valores de súbito ou imprevisto, conforme descrito nos compêndios gramaticais. Ao atuar como marcador de operações enunciativas, DE REPENTE opera como marcador de reversibilidade, reorientando o projeto de existência de representação. Em outros termos, enquanto, marcador de reversibilidade, DE REPENTE traz para o diálogo um ponto de abertura com menos determinismo, um lugar que opera com a plasticidade do trabalho de construção de representações.

Esta dissertação filia-se à linha de pesquisa “Estudo de Processos Discursivos”, que compreende os estudos do discurso na sua relação com a língua, o sujeito e a história, e tem por objetivo, compreender a constituição do sujeito-autor na formação continuada Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). Para tanto, pautaremo-nos nos pressupostos teóricos da Análise de Discurso materialista, formulada por Michel Pêcheux, na França, e que tem Eni Orlandi como sua principal representante, no Brasil, para analisarmos os materiais que constituem/determinam o Programa PNAIC a fim de compreender o modo como algumas discursividades produzidas pelas políticas públicas de ensino, sustentam a necessidade da formação continuada e significam a posição-sujeito-professor-alfabetizador. E em razão de que, a proposta do PNAIC, é que o professor alfabetizador teorize sua prática, por meio da escrita de relatos de experiência, e do discurso que aponta que o professor não consegue posicionar-se como autor, definimos como objetivo de nossa pesquisa, investigar se a formação PNAIC se constitui enquanto espaço de produção e circulação de conhecimento do professor alfabetizador. O trabalho encontra-se organizado em quatro capítulos: nos dois primeiros falaremos das condições de produção da formação continuada de professores alfabetizadores em nosso país. No terceiro capítulo discorremos dos percursos e percalços que tivemos na busca pelo relato de experiência do professor alfabetizador. No quarto capítulo, mobilizamos alguns recortes dos relatos de experiências dos professores alfabetizadores cursistas do PNAIC, a fim de analisar as posições-sujeito por eles ocupadas. E por último, em busca de um fechamento necessário, apresentamos nossas considerações finais em relação ao que foi desenvolvido, procurando responder aos questionamentos da pesquisa.

Este trabalho, desenvolvido para obtenção do título de Mestre em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL), a partir da linha de pesquisa: Estudos dos Processos Discursivos, é resultado de um longo processo de aprendizado e nos proporcionou um amplo conhecimento sobre os discursos políticos produzidos pela mídia. Pudemos compreender como o processo de golpe-impeachment para a deposição de Dilma Rousseff, em 2016, produziu diferentes efeitos de sentido na e para a sociedade. Para tanto, tomamos como material de análise quatro revistas de diferentes editoras para compreendermos o funcionamento discursivo das capas de revistas (IstoÉ, Época, Veja e Carta Capital) que noticiaram sobre a destituição do cargo da então presidenta Dilma Rousseff. Trabalhamos com a Análise de Discurso de linha francesa e mobilizamos as noções de condições de produção, formação discursiva, memória discursiva, acontecimento discursivo, efeito metafórico, poder, político e política. Propusemos pensar a mídia como uma instituição que faz circular no imaginário social um determinado discurso permeado por relações de forças e sentidos, para constituir um efeito de verdade. Nas capas analisadas, compreendemos o funcionamento dos pré-construídos de loucura e instabilidade emocional, comumente atribuídos à mulher. Assim, demos visibilidade ao modo como as revistas compunham uma imagem de e para a então presidenta Dilma, a partir do funcionamento de dois discursos constituídos em diferentes posições-sujeitos: um com produção de efeitos de sentidos pejorativos, calcado numa formação ideológica machista e outro que produziu efeitos de sofrimento a ex-presidenta, sustentado no argumento de grandes injustiças. Através das análises constatamos que a mídia produz sentidos sobre a política a partir da metáfora de jogo e, neste imaginário de jogo de “azar”, permeado por relações de força e sentidos, não há espaço para a atuação de uma mulher

Neste estudo, inscrevemo-nos na linha de pesquisa Estudos de Processos Discursivos do Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso. O objeto de análise da pesquisa são os sentidos discursivos no que tange à deficiência/ao deficiente, produzidos nas condições de produção dos Jogos Paralímpicos. Buscamos compreender os efeitos de sentidos que permeiam os discursos inscritos nos jogos a partir da campanha #somostodosparalímpicos da revista Vogue Brasil. Como fundamentação teórica, trabalhamos com a Análise de Discurso de linha francesa e mobilizamos as noções de condições de produção, sujeito, ideologia, corpo e mídia. O corpus de pesquisa se constituiu de quatro recortes: nomeação “Paraolimpíada x paralimpíadas”; enunciado da campanha #somostodosparalímpicos; imagens da campanha; comentários de internautas. Através da análise destes materiais podemos compreender que a mudança da nomeação está relacionada às relações de poder e à necessidade de apagar os sentidos de paralelo, que é constitutivo dos jogos Paralímpicos. No que diz respeito à deficiência, observamos que ela está atrelada aos sentidos de corpo faltoso e tenta produzir o corpo dos atores como falta, assim a revista marca a sua posição como ditadora de um padrão ideal de corpo. Já os dizeres dos internautas marcam os diferentes sentidos que são produzidos em diferentes condições de produção, mostrando que a língua é sujeita à falha e ao equívoco. E mesmo a mídia constituída por um imaginário do dizer verdadeiro é sujeita à falha e se contradiz. Desse modo, constatamos que a referida campanha produziu efeitos de sentidos contraditórios ao da igualdade, que tanto foi anunciada e a necessidade de divulgar a venda de ingressos faz significar a via paralela dos Jogos Paralímpicos, via da exclusão, e assim, coloca a deficiência como digna de solidariedade e compaixão.

Este trabalho se inscreve à linha de pesquisa ‘Estudos de Processos Discursivos’ do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). A partir da Análise de Discurso, que tem como seus precursores Michel Pêcheux, na França, na década de 60, e Eni Orlandi, no Brasil, desde 1980, tomamos o discurso religioso enquanto um espaço de discursividades, o qual estabelece e se significa, pelo simbólico, entre as dimensões temporal e espiritual (ORLANDI, 1983). Assim, o discurso religioso é permeado de princípios que sustentam suas práticas discursivas na/pela dissimetria da relação entre Deus – plano espiritual – e homem – plano material, conforme se materializa na língua. Supomos que o funcionamento do discurso religioso, pelo efeito ultrapassagem, possibilita ao sujeito a ilusão de reversibilidade, de entrecruzamento entre um plano e outro. A partir dessa premissa, objetivamo-nos à compreensão discursiva do uso do tu e do vós, conforme se produz na língua, em rituais específicos de interlocução entre o sujeito-fiel e Deus. Consideramos essa diferença promover uma divisão entre os sujeito-fiéis, evangélicos e católicos, pelos distintos modos de estabelecer a interlocução/comunhão entre o sujeito-fiel e Deus/Sagrado. Propomo-nos compreender o discurso religioso em funcionamento, no Brasil, a partir de um glossário de formulações linguísticas evangélicas, o evangeliquês, em rituais ou situações enunciativas cotidianas, conforme a tendência neopentecostal, dada a relação constitutiva entre língua/sujeito. Vemos, na relação entre língua e sujeito-evangélico o efeito performativo de conexão direta, conferindo ao sujeito-evangélico uma autoridade espiritual, pelo efeito de poder, autonomia, liberdade, individualidade na língua. Consideramos que o dizer não é do domínio e controle do locutor, pois relaciona-se com as condições de produção, a instituição, em que se produz, bem como, com outros dizeres. Ou seja, os diferentes modos de dizer textualizam a história, pela relação entre língua/sujeito/ideologia. Em nosso trabalho, buscaremos compreender como as formas naturalizadas de dizer, em situações informais e ritualísticas de cultos, materializam, pelo uso do tu/vós e do evangeliquês textualizam na/pela língua a história, produzindo sentidos diferentes. O dizer, as formulações, tem sua inscrição na história, produzindo efeito de sentidos outros, para além de suas definições lexicais, sendo o sujeito significado no modo de dizer-se cristão. Tomando como material linguístico de leitura textos da Bíblia Sagrada, letra de hinos, ritual litúrgico, oração do Pai Nosso, folhetos, mídias virtuais, buscaremos compreender, pelo funcionamento discursivo da língua, o espaço discursivo religioso.

A tradição de estudos linguísticos está construída sobre alguns alicerces. Porém, sob a orientação da Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas (TOPE), de Antoine Culioli, busca-se, neste trabalho, investigar os processos de estabilização e desestabilização dos vários usos de AUNQUE, do espanhol, traduzidos para o português. As gramáticas de língua espanhola são, por tradição, formalistas e categorizadoras, ainda que importante para a compreensão de alguns fenômenos linguísticos, e tendem a priorizar a separação entre as categorias. Esse fator costuma desconsiderar variações de significado que uma marca pode sofrer conforme os diversos fenômenos linguageiros a que está exposta. Nessa tradição, morfossintaticamente, aunque é definida como conjunção concessiva, desconsiderando outros valores, tais como o adversativo. Na égide da TOPE, propõese que, através da desestabilização do enunciado onde a marca estiver inserida, é possível investigar o processo de constituição de tal enunciado, estabelecendo critérios de sua variação semântica ante a construção de famílias parafrásticas. Esta dissertação parte da linha de pesquisa dos Estudos e análise dos processos discursivos e semânticos e para o desenvolvimento desta, organizou-se um corpus com ocorrências da marca aunque, onde seus correlatos de tradução, ao português, desempenham concessão de modo variável, isto é, em maior ou menor medida. Tomando a coleta de dados em pesquisas de caráter descritivo-bibliográfico, procurase investigar o processo de delimitação da marca entre coordenante adversativa e subordinante concessiva. Traz-se na problemática, para efetivação, os seguintes questionamentos: Quais razões fazem optar por um dos correlatos, em português, de aunque? Como se dá tal escolha? Por que um correlato se adequa melhor ao sujeito? Há implicações na tradução de aunque ao português, devido à variedade de correlatos? Para tal investigação, autores com relevância teórica são considerados pertinentes na composição deste trabalho, coletando dados e avaliando particularidades nas ocorrências de aunque com valor concessivo. Fazendo-se, posteriormente, uma análise crítico-reflexiva, visando uma melhor compreensão sobre o funcionamento da marca e de seus correlatos.

O presente trabalho se inscreve no campo dos estudos discursivos de base materialista e se propõe compreender o modo como a história se textualiza no discurso do Punk Rock brasileiro produzindo efeitos de crítica, denúncia e protesto contra a Ditadura Civil-Militar (1964 – 1985). O corpus de análise é constituído pelas bandas Plebe Rude, Inocentes, Garotos Podres e 365, todas com formação no período derradeiro da ditadura e tem como material específico de análise as seguintes canções: Nada, Censura, Proteção, Códigos, Até Quando Esperar, Mentiras Por Enquanto, A Ida e Exceção da Regra, da Plebe Rude; Não é Permitido e Pátria Amada, dos Inocentes; Anistia e Não Questione, dos Garotos Podres; Anos 70 e 31 de março da banda 365. Pretende-se, também, estabelecer uma relação entre os estudos históricos e a Análise de Discurso, através de um breve percurso teórico em alguns trabalhos de Michel Pêcheux e Michel Foucault, bem como pela contribuição de autores de ambas as áreas no sentido de sugerir diálogos e aproximações. O material de análise apresenta determinadas regularidades que indicam efeitos de ironia e denúncia nas letras das canções. Esses efeitos se formulam enquanto uma língua política no modo como diz sobre um período histórico específico, ou seja, a ditadura militar. O discurso do Punk Rock se constitui como uma forma de resistência no modo como as condições de produção o permeiam, contudo, atravessado pelas contradições próprias da relação entre a língua e a história.

As redes sociais, conforme Allan (2013, p. 18), são estruturas dinâmicas e complexas formadas por pessoas com valores e/ou objetivos em comum, interligadas de forma horizontal e predominantemente descentralizada, cujo formato e nível de formalidade podem variar no decorrer do tempo. Dentre as várias redes sociais atualmente disponíveis na internet, o Facebook, criado em 2004, configura-se atualmente, como a maior rede social digital, com mais de um bilhão de usuários ao redor do mundo. O Facebook, a exemplo das outras redes sociais, é um espaço de interação e de produções discursivas materializadas em diferentes modalidades de linguagem que se estrutura de forma hipertextual, pois agrega diferentes conjuntos de informação na forma de blocos de textos, palavras, imagens, sons, vídeos, mapas, etc., que funcionam, na maioria dos casos, como links. O Facebook configurar-se assim, em um texto de práticas de escrita e de leitura não-lineares. Dentro de sua estrutura, há a possibilidade de se constituir Grupos, ou seja, espaços privados em que se pode postar e compartilhar arquivos, enviar mensagens para outros membros do grupo, entre outras possibilidades estruturantes. Amparada nessas considerações e a exemplo dos pesquisadores da área da Linguística Aplicada que trabalham com as teorias do caos/complexidade (LARSEN-FREEMAN, 1997; PAIVA, 2016; CAMERON; DEIGNAN, 2006) esta investigação, orientada teoricamente pelos Sistemas Adaptativos Complexos (HOLLAND, 1995; WALDROP, 1992; DAVIS; SUMARA, 2006). Teve como área de concentração: Estudos das relações entre língua, história e instituições e como linha de pesquisa: Descrição e análise de línguas, instituição e ensino. E teve por objetivo analisar o Grupo do Facebook criado para a disciplina Introdução à Linguística Aplicada (Turma 2015) do Curso de Pós-graduação em Linguística da Universidade do Estado de Mato - Grosso (UNEMAT/Cáceres-MT) enquanto um Sistema Adaptativo Complexo (SAC) a partir das sete categorias criadas por Holland. Essa disciplina foi ministrada na modalidade híbrida, ou seja, ela foi realizada no contexto presencial da sala de aula e online na rede social Facebook, por meio da criação de um grupo que levou o mesmo nome da disciplina. Para tanto, as descrições e análises das dinâmicas complexas que emergiram nesse grupo foram realizadas com base nas quatro propriedades (agregação, não linearidade, fluxo e diversidade) e nos três mecanismos (marcação, modelos internos e blocos constituintes) propostos por Holland. Além disso, outras características pertencentes a um Sistema Adaptativo Complexo, tais como, agentes, adaptação, sensibilidade às condições iniciais, imprevisibilidade, interação e emergência foram estudadas. Por meio desta pesquisa foi possível verificar que a complexidade atingida pelo sistema do grupo se configura em uma prática inovadora e de resultados significativos, conforme depoimento dos participantes. Foi possível verificar também que a incorporação de novas formas de se produzir conhecimento precisam ser experienciadas e investigadas, pois, definitivamente as tecnologias estão afetando e moldando de forma irreversível as práticas sociais contemporâneas, fato que não pode ser negligenciado nem pelos sujeitos, nem pelas instituições.

A indagação que se colocou como imperiosa para nós – após a pesquisa monográfica para a conclusão do curso de graduação em Letras, que versou sobre o processo de inclusão de pessoas com deficiência na rede estadual de ensino – foi a de tentar compreender, além da fase atual da inclusão por que passam as escolas e os alunos deficientes, quais são as discursividades que se produzem e que circulam, nas mídias digitais, sobre o processo de escolarização da pessoa com deficiência? Essa questão estabeleceu, então, o objetivo do nosso estudo atual, que se filia à linha de pesquisa estudo de processos discursivos, que é o de analisar as discursividades que foram/são produzidas e que circularam/circulam sobre a vida escolar do aluno deficiente, considerando os indicativos de que o processo de inclusão, vigente na rede regular de ensino, começa a apresentar falhas. Nosso propósito é o de analisar, então, as discursividades que apontam para os (des)caminhos do processo de inclusão, que, uma vez materializado como insatisfatório, passa a produzir, a instalar e a fazer circular sentidos outros, postos em funcionamento pelas novas/mesmas discursividades, que começam a se colocar e que passam a tomar o processo de inclusão como falível, antes mesmo que ele tenha se instalado e avaliado produtivamente. Para proceder a nossa análise recortamos materiais das mídias digitais, especialmente os que circularam/circulam nas redes sociais da Internet e de campanhas que se anunciam como defensoras e/ou críticas do modelo de inclusão colocado em curso. Os materiais de análise serão tomados enquanto funcionamentos que se instituem por acontecimentos discursivos, que instalam os sujeitos e os sentidos para/do processo de inclusão da pessoa com deficiência. Para tanto, tomamos a Análise de Discurso desenvolvida por Michel Pêcheux, na França, a partir da década de 60, e ressignificada por Eni Orlandi e seguidores, no Brasil, a partir da década de 80. Dessa concepção teórica, tomamos especialmente as noções de acontecimento discursivo, que coloca a língua na relação com a exterioridade que a constitui, fazendo funcionar a memória discursiva, que comporta os discursos sobre o processo de inclusão, que, dadas as posições-sujeito, instaladas pelos processos de interpelação ideológica, instituem os sujeitos e os sentidos, ou seja, as discursividades postas em funcionamento acerca do processo. Com esse estudo, temos o propósito de analisar e refletir o destino do processo de inclusão, pelos indicativos e avaliações que começam a circular sobre ele, contribuindo para compreender o funcionamento discursivo dos modos de instalação dos dizeres e das práticas que apostam na inclusão ou que a denegam.

O presente estudo toma como foco de análise atitudes linguísticas de informantes cacerenses e bolivianos quanto ao próprio falar e o falar do outro, no município de Cáceres-MT. Nesse sentido, procuramos investigar tais atitudes a partir do arcabouço teórico-metodológico da Sociolinguística, assumindo, para isso, uma perspectiva qualitativa. Nas análises, observamos atitudes, de modo geral, positivas, um discurso público sobre a língua, embora nos dados também haja registros de atitudes de insegurança, quando os informantes estão sujeitos a fatores de hipercorreção.

Os estudos linguísticos têm colocado em cena questões inquietantes tanto do ensino quanto da formação educacional brasileira. De diversas perspectivas teóricometodológicas, estes estudos auxiliam pesquisadores e estudiosos da linguagem sobre as diversidades que o espaço escolar apresenta e possibilita pensar a Língua Portuguesa para além de sua estrutura e forma, principalmente, a linguagem em seu funcionamento. Neste direcionamento, o presente trabalho refere-se ao projeto de pesquisa aceito pelo Mestrado em Linguística pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), na linha de pesquisa: descrição e análise de línguas, instituições e ensino, intitulado “Formação linguística na Educação de Jovens e Adultos: dos documentos orientativos oficiais à prática de sala de aula”. Pretende-se com esse estudo refletir sobre as concepções de formação/educação linguística descritas nos documentos oficiais da educação básica para Mato Grosso, bem como as práticas de docentes que atuam na área de linguagem na disciplina Língua Portuguesa, conjugando com os pressupostos teóricos que suleiam a formação/educação linguística de Jovens e Adultos descritos em documentos oficiais da educação básica tais como: Lei Das Diretrizes/2013, as Orientações Curriculares em Mato Grosso (OCs), o Projeto Político Pedagógico (PPP) e o Regimento Interno Escolar (RIE). O espaço investigado foi a Educação de Jovens e Adultos ofertada em um Centro de referência dessa modalidade de ensino, localizado na cidade de Sinop, estado de Mato Grosso, Brasil, que nos permitiu conhecer as práticas docentes da disciplina. Por ser uma pesquisa qualitativa interpretativa, de cunho etnográfico, a metodologia foi através de coletas de informações compostas por entrevistas, questionários e observações. Pretende-se, assim, compreender a formação linguística do profissional de Letras, bem como o processo de formação que envolve formação inicial e continuada, no espaço específico chamado Projeto Sala de Educador. E, assim repensar o ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa na EJA e refletindo como as práticas sociais escritas fazem emergir o social, o histórico e o ideológico. Dessa forma, estabelece-se o diálogo fundamental teórico com Kleiman (2005), Lopes (2006), Antunes (2003), Fabrício (2006), Magalhães (2013), Faria (2009; 2013), Imbernón (2012), Santos e Silva (2013) dentre outros. Os resultados mostram que o ensino ainda permanece vinculado ao tradicionalismo, por meio das metodologias utilizadas, das didáticas e dos recursos utilizados na práticas das docentes. Ou seja, há resquício da própria formação inicial, em que teoria e prática eram discutidos em patamares opostos, diferentemente dos dias atuais em que se vê teoria e prática entrelaçadas. Apontam, também, que a formação continuada precisa ser repensada como formativa, em sua praticidade no intuito de sanar as dificuldades presentes no espaço situado.

Mesmo com as preocupações recentes com a temática da inclusão, o sujeito deficiente continua a enfrentar inúmeras dificuldades de acessibilidade em todos os meios sociais. Essas dificuldades vão desde as manifestações expressas de não aceitação e de discriminação até o impedimento de uma participação maior na sociedade, dada à impossibilidade de acesso. Desse modo, o problema dos deficientes não é apenas o de conviver com suas próprias limitações, mas também com as limitações que a sociedade lhes impõe. Filiada à linha de pesquisa do Programa de Mestrado em Linguística – Estudos e análise dos processos discursivos e semânticos – a presente pesquisa tem como objetivo analisar o discurso da acessibilidade/espacialidade na cidade de Cáceres-MT. Para tanto, tomamos em análise fotografias que dão visibilidade à espacialidade das ruas centrais da cidade e analisamos a (in)observância dos decretos e leis, visando a verificar, os efeitos que essas presenças/ausências de acessibilidade têm sobre os deficientes com relação aos seus processos de circulação e suas relações de pertença com o espaço citadino. Para a consecução do objetivo do trabalho, adotamos como referencial teórico a Análise de Discurso de linha materialista, iniciada nos anos 60 por Michel Pêcheux, na França, e ampliada por Eni Orlandi, no Brasil. Para Orlandi (2001, p.10), “[...] saber como os discursos funcionam é colocar-se na encruzilhada de um duplo jogo da memória: o da memória institucional que estabiliza, cristaliza, e, ao mesmo tempo, o da memória constituída pelo esquecimento, que é o que torna possível o diferente, a ruptura, o outro”. A ausência de políticas públicas governamentais de acessibilidade faz com que o sujeito deficiente se constitua como o sujeito da ineficiência, da dependência, da exclusão. Nossas afirmações partem das constatações a que chegamos, com nossa pesquisa realizada para a conclusão do curso de Letras, na qual analisamos imagens que circularam/circulam nas campanhas públicas de acessibilidade. Com base, naquela pesquisa e na atual podemos afirmar que os sentidos que instalam e que circulam sobre o deficiente/a deficiência funcionam sempre pela falta e pela interdição, pois o deficiente/a deficiência não se diz, uma vez que é dito pelo (o)Outro, que é tomado por um discurso sobre que lhe atribui sentidos, que dita-lhe os modos de se relacionar com a cidade.

Este trabalho visa investigar os sentidos dados à Educação Integral nas propostas de Educação Integral, em outras palavras, analisar enunciativamente como Educação Integral se constitui, nas cenas enunciativas dos recortes extraídos das propostas dos educadores Anísio Teixeira (1957), Darcy Ribeiro (1986) e do Programa Mais Educação/MEC (2007). Para isso nos filiamos à Semântica do Acontecimento, teoria que considera que o sentido é produzido na enunciação, ou seja, o sentido deve ser tratado como discursivo e definido a partir do acontecimento enunciativo. O texto dissertativo, resultado de nosso estudo, foi dividido em seções. Percorremos a história para conhecer como se deu o movimento pela Educação Integral no Brasil e como ela foi desenvolvida ao longo do tempo. A seção que destinamos ao referencial teórico que sustenta este estudo traz as especificidades da teoria Semântica do Acontecimento, de Eduardo Guimarães (2002). Consideramos importante desenvolver um percurso teórico para se chegar à constituição desta teoria, passando por Ducrot, Benveniste e outros, como fio teórico que faz chegar às teorizações desenvolvidas por Eduardo Guimarães, que considera o caráter social, histórico e político como elementos essenciais para concebermos a linguagem. Nesta seção também descrevemos o corpus e abordamos suas peculiaridades, sua constituição e justificativa para sua escolha e os aspectos que localizam e fundamentam o material de análise. Por fim analisamos os sentidos de Educação Integral nas três propostas selecionadas, quando observamos seu funcionamento semântico-enunciativo e sua designação no acontecimento e como se relaciona na enunciação que integra, estando Educação Integral determinada por questões sócio-históricas de cada período e em que aspecto os sentidos dela se assemelham ou entrecruzam, fazendo com que sejam alterados ou apagados quando outros passam a significar.

A presente pesquisa foi desenvolvida com base nos pressupostos teóricos e metodológicos da Sociolinguística Variacionista, de linha laboviana, e teve como objetivo principal analisar a realização do sujeito no português europeu, em amostras de fala de três localidades do centro de Portugal: Leiria, Coimbra e Guarda - disponíveis no Corpus Dialetal para o Estudo da Sintaxe (CORDIAL-SIN). Para investigar quais fatores estruturais e não estruturais estão atuando na manutenção do sujeito nulo, ou inversamente, do sujeito preenchido?, foram coletados 1050 dados, que depois de codificados foram submetidos ao Pacote Computacional GOLDVARB, ferramenta que, além oferecer os resultados em porcentagem - cuja frequência pode estar enviesada - permite a regressão logística (peso relativo) com o cálculo de desvio da média ponderada de todas as inter-relações existentes dos grupos de fatores na atuação da regra variável. Os resultados, obtidos pela análise multivariada, mostraram que: (i) o português europeu ainda é uma língua de sujeito nulo (68%), apesar de exibir sujeitos preenchidos em estruturas, nas quais as regras prescrevem o não-preenchimento; (ii) o português europeu é uma língua de concordância verbal forte (76%); (iii) o português europeu recorre ao uso da forma pronominal "a gente" (preenchida e nula) para sujeitos de referência específica e genérica; (iv) o português europeu apresenta com a forma pronominal "a gente" três diferentes flexões de número e pessoa: 1ª do plural, 3ª do singular e 3ª do plural. Esta pesquisa está inscrita na área de concentração Estudo de Processos Linguísticos, na linha de pesquisa Estudo de Processos de Variação e Mudança.

Os dias que se seguiram após os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 foram caracterizados pela tensão, doméstica e internacional, e pela preocupação de líderes mundiais quanto a segurança de suas fronteiras. Se uma potência como os Estados Unidos sofreu ataques tão violentos dentro de seu território, seus aliados na Europa e na própria América corriam também este risco. Muito se falou, se escreveu sobre este fato, sobre este acontecimento notadamente ousado e ao mesmo tempo perturbador. Dizeres ao redor do globo manifestavam-se a favor e contra os ataques, hoje sabidamente confirmados, perpetrados pela organização terrorista Al Qaeda liderada à época por Osama Bin Laden. Este foi um momento esplendoroso para a mídia mundial, principalmente para organizações midiáticas ocidentais. A exploração da dor, do sofrimento e da história construída e produzida atrás destes atentados, além de comentários de especialistas sobre Oriente Médio e a relação deste com o Ocidente, fizeram aumentar a espetacularização do ocorrido e os sentimentos de ódio e euforia. A longa tradição histórica das potências ocidentais em formar, reformar e transformar um Oriente “inventado por elas” marca apenas um ponto de partida para as relações entre estas duas regiões. Um Oriente “próximo”, porém “distante” ao mesmo tempo encontrava-se agora enfraquecido, inventado e dominado pelas potências dignas de representar o eurocentrismo do século XIX.É nesta medida que buscaremos reconhecer a relação entre estas duas “entidades”, o Ocidente e o Oriente e que pautaremos historicamente nosso processo analítico na e pela linguagem que significa e resignifica através do funcionamento da língua na e pela enunciação. O desenvolvimento desta pesquisa se dará pela análise e observação de como as expressões guerra ao/contra o terror e eixo do mal, enunciadas por George W. Bush, ex-presidente dos Estados Unidos após os atentados contra as Torres Gêmeas em 2001, significa semanticamente o Oriente para o Ocidente. Para dar conta dos resultados de nossas análises, que se darão na linha de pesquisa “Estudos e Análises dos processos Discursivos e Semânticos”, nos valeremos aqui da teoria da Semântica do Acontecimento (Guimarães 2002), das teorias sobre a enunciação de Emilé Benveniste e Oswald Ducrot, e, da Análise de Discurso (Orlandi, 1999). Além das teorias sobre a língua e a linguagem, manteremos um diálogo com disciplinas importantes como a História, Filosofia, Sociologia, Ciências Políticas e Relações Internacionais.

Sob os aportes teóricos e metodológicos da Sociolinguística, este estudo teve por objetivo demonstrar os usos linguísticos do município de Poconé, o qual pertence ao Alto Pantanal, na Mesorregião Centro- Sul do Estado de Mato Grosso. Além de demonstrar os uso linguísticos do falar local pretendemos ainda compreender a diversidade cultural local, observando crenças a respeito de sua própria língua e cultura. Evidencia-se como uma hipótese a possibilidade de o falar poconeano ser semelhante ao falar das cidades da região do Alto Pantanal Mato Grossense, por terem datas de colonização próximas e por serem cidades colonizadas por bandeirantes paulistas e portugueses. O estudo é composto de estudo bibliográfico e pesquisa de campo. Na pesquisa de campo, para observar os usos linguísticos dos poconeanos, foram realizadas entrevistas com falantes nativos da cidade. Para a escolha desses informantes levamos em consideração alguns critérios de seleção, dentre eles: a) ter mais de 18 anos; b) ter nascido em Poconé; c) ter pais nascidos em Poconé; d) não ter morado fora de Poconé por 5 anos ou mais; e) não ter ficado fora de Poconé, por 6 meses ou mais, nos últimos 5 anos. Primeiramente fizemos uma abordagem histórica de Poconé, seguida dos aspectos culturais mais presentes no município. Em seguida é proposta uma análise dos usos mais frequentes encontrados nos dados das entrevistas, os quais foram: alternância do uso de [ãw] e [õ]; realizações africadas [tʃ] e [ʤ] em vez das fricativas [ʃ] e [ʒ]; variação na concordância nominal de gênero; ocorrência de rotacismos; e alçamento da vogal central baixa [a] em ambiência nasal; bem como algumas particularidades lexicais. Esses usos linguísticos foram apontados também por outros estudos, que reforçaram a análise dos dados, entre eles: Amaral (1920); Marroquim (1934); Nascentes (1923); Teixeira (1938) Pereira (1919); Ribeiro (1881); Macedo-Karim (2004; 2012), que justificaram os acontecimentos desses fenômenos pelo contato linguístico em período de colonização com bandeirantes paulistas, portugueses e também pelo contato com o índio, primeiro habitante da região. Os dados ainda demonstraram que as variações inovadoras, consideradas padrão, estão ganhando espaço na fala dos mais jovens, enquanto que os mais velhos ainda optam com maior frequência pelas variantes conservadoras, e a possível justificativa para isso é contato com instituições normativas como a universidade, por exemplo.

Esta dissertação filia-se a linha de pesquisa Descrição e análise de línguas, instituição e ensino, na área de concentração: Estudo das relações entre língua, história e sujeito, e tem por objetivo compreender a constituição dos sujeitos e das línguas, por meio de traços de memória da/na língua manifestados em situações de ensino-aprendizado. Lançamos um olhar para as políticas públicas de ensino de línguas, desde a implantação da língua portuguesa como língua nacional do Brasil, aos decretos e leis que regem esse ensino na atualidade, na medida em que recortamos a questão do nacional enquanto uma questão de Estado e pensamos na sua articulação com o pedagógico. O lócus da pesquisa é a Escola Estadual 13 de Maio, localizada no município de Porto Esperidião, no Estado de Mato Grosso. O município faz fronteira com a Bolívia e apresenta particularidades em relação a questões linguísticas, históricas, sociais, culturais e educacionais. Desse modo, nos inscrevemos no âmbito da História das Ideias Linguísticas, articulada à Análise de Discurso de linha materialista, formulada por Pêcheux, na França, e desenvolvida por Eni Orlandi, no Brasil, para analisar o corpus significado como objeto simbólico e histórico-ideológico. O material de análise é constituído por meio de um questionário direcionado aos professores de línguas e de atividades escritas por alunos imigrantes do ensino fundamental e médio na escola pesquisada. Nessa direção, queremos pensar o ensino de línguas que leve em consideração o processo de subjetivação do aluno, ao invés de negá-lo e silenciá-lo. Observamos que o embate com outra(s) língua(s) deixa no sujeito marcas da subjetividade, ao passo que deixa na língua, também, as marcas da memória desse sujeito.

Esta dissertação vinculada à linha de pesquisa “Descrição e análise de línguas: instituição e ensino” tem como objetivo principal analisar a situação de contato linguístico vivenciada pelos Guajajara, a qual tem apresentado fenômenos linguísticos induzidos pela situação de contato intenso com a língua portuguesa. A língua falada por esse povo é a língua guajajara, que pertence à família linguística Tupi-Guarani do tronco Tupi. Grande parte desses índios são proficientes também em português e a influência deste se faz presente no cotidiano dos nativos. A análise se apoia nos estudos da Linguística de Contato, que tem como precursores principais Weinreich (1953), Appel e Muysken (1987), Thomason (2001), Matras e Sakel (2007), entre outros que tratam dos fenômenos linguísticos advindos do contato entre línguas. Salientamos que a análise dos dados e a investigação de nossas hipóteses tiveram embasamento teórico linguístico numa perspectiva funcionalista encontrada nos trabalhos de Dixon (1986) e Anderson (cf. SHOPPEN, 1985), considerando métodos etnográficos e sociolinguísticos, que nos propiciaram capturar e caracterizar o repertório linguístico dos Guajajara. Os resultados obtidos na presente dissertação evidenciam diferentes graus de interferência da língua de contato (português) entre os falantes das três gerações pesquisadas. Essas diferenças foram refletidas na influência do português em vários níveis. No nível lexical, palavras de diferentes campos semânticos da língua de contato foram adotadas por todas as gerações pesquisadas. No nível semântico, palavras foram criadas a partir da relação com palavras do português e outros com processo de criação dentro da própria língua indígena, mas adotando o significado da língua de contato. Além das classes de palavras, classes gramaticais também são recorrentes na estrutura de orações em guajajara, como as conjunções, mostrando que o grau de contato entre ambas as línguas está além do nível lexical. Com isso, concluímos que os fatores externos à língua guajajara estão atuando na atual configuração da língua indígena, pois o contato com a sociedade envolvente é intenso.

Nesta dissertação, o tema linguagem e sentido são trabalhados na perspectiva da Análise de Discurso, fundada nos trabalhos de Michel Pêcheux, na França e Eni Orlandi, no Brasil. Visamos compreender o processo de constituição do sujeito e sua relação com a língua. Inscrevemo-nos na linha de pesquisa Estudos e análise dos processos discursivos e semânticos, que compreende o estudo das relações entre língua, história e instituições, dos processos de significação e das práticas de leitura e escrita. Na dissertação, tomamos como objeto de estudo a formulação da proposta de redação do ENEM/2013; analisamos os critérios avaliativos para a escrita dessa redação e a política de Estado em relação ao acesso à Universidade, via ENEM. Mobilizamos os conceitos teóricos de sujeito, formasujeito, formação imaginária e interpretação, pois entendemos que o sistema proposto pelo Estado se circunscreve numa política de avaliação em larga escala que vai além da certificação do Ensino Médio e acesso ao Ensino Superior, dada as condições de produção dos sujeitos-participantes. Refletimos sobre a língua(gem) a partir das políticas do/no Exame Nacional, que se coloca como o instrumento avaliador e quantificador das competências dos candidatos e os direcionamentos das políticas de Estado na prova do Exame Nacional do Ensino Médio em relação ao cenário escolar. A escolha do estudo sobre o discurso das políticas de língua, a partir do ENEM, se deve a um conjunto de fatores, dentre estes, o de perceber os efeitos de sentido de um “ideal de escrita” inscrito na política de língua do Exame, pois a respeito das discursividades do ENEM e seus efeitos de sentido produzidos, destacamos a relevância deste estudo para o domínio da linguagem e, sobretudo, para os pesquisadores que se voltam a pensar sobre as políticas educacionais. Dessa forma, dada a importância desse Programa para o Estado, as análises refletem sobre a política nacional de língua escrita posta nas proposições do ENEM, em que se abre espaço para pensar a constitutividade do sujeito institucionalizado por um imaginário de escrita, o que possibilita a abertura de questões relacionadas à projeção imaginária do sujeito-aluno ideal(izado) para a escrita da redação.

Este trabalho está vinculado à Linha de Pesquisa dos Estudos e Análises dos Processos Discursivos e Semânticos do Programa de Mestrado em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso, e inscrito no Projeto de Pesquisa: Cidade e Memória/CNPq/UNEMAT. Esta pesquisa filia-se à Análise de Discurso materialista, desenvolvida por Michel Pêcheux na França e por Eni Orlandi no Brasil. Propomos compreender os discursos da lei que trata sobre o tráfico e consumo de drogas no Brasil, Lei Nº 11.343, de 23 de Agosto de 2006. ‘Os discursos sobre’ o tráfico e consumo de drogas têm causado diversas inquietações e debates na sociedade contemporânea e, por isso, significam sujeitos e instituições. Assim, a análise discursiva da lei nos coloca em um contraponto com a Justiça de Fato, aquela praticada atualmente nos tribunais, pois nos permite entender como os discursos das práticas jurídicas afetam a relação do sujeito com o social, atravessadas ideologicamente por esse instrumento de legislação. A Lei, que constitui nosso corpus prevê a criação do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas e, nesse caso, a prescrição de medidas para a proibição, prevenção e conscientização do seu uso indevido. Sendo assim, importa-nos compreender em que condições de produção essa lei foi produzida e quais gestos de interpretação produzem sobre a relação entre tráfico e consumo de drogas materializados nos discursos de proibição, prevenção e conscientização. Para tanto, trabalharemos as formações discursivas em jogo nesses discursos e os efeitos produzidos pela ideologia no discurso da justiça sobre o crime de tráfico, numa interface com as Políticas Públicas desencadeadas por todo o país, pois segundo (ORLANDI, 1999, p. 46), a ideologia “é a condição para a constituição do sujeito e dos sentidos”, pois diante de qualquer objeto simbólico, o homem é levado a interpretar, a buscar o sentido das palavras e das coisas.

Neste trabalho, inscrito na linha de pesquisa “Estudos e análises dos processos discursivos e semânticos” do Programa de Mestrado em Linguística da UNEMAT, tendo como sustentação teórica a Análise de Discurso, buscamos compreender como os discursos sobre o conflito por terra no município de Santa Terezinha-MT tomam corporeidade nos espaços discursivos dos jornais que circularam na década de 70. O conflito do qual tratamos foi discursivizado pelos jornais como se fosse uma tomada de posição subversiva em relação ao período de Ditadura Militar (1964), o motivo é que o país vivia um período de ditadura militar e, especificamente na década de 70, eclodiu um conflito entre posseiros e a Fazenda Codeara, por questões fundiárias, fazendo circular sentidos de guerrilha e subversão. Uma das questões que tomamos é a do boato que circulou nos jornais em 1970 de que em Santa Terezinha existia um foco de guerrilha. Assim, tomamos o boato discursivamente através do que discute Orlandi (2010). O Brasil vivia sob o comando do Governo Militar de 64 e, aos poucos, foi aumentando a repressão e a censura sobre os movimentos sociais, tanto do campo como da cidade. No desenvolvimento do trabalho, ainda analisamos o discurso das leis que normatizam a terra e realizamos um batimento com o discurso dos jornais e do arquivo da Prelazia de São Félix do Araguaia-MT em relação aos sentidos das palavras posse/propriedade. Mostramos o modo como se formula a designação de comunista para os posseiros e para os agentes da prelazia. Além disso, buscamos compreender o papel de uma Igreja Católica da Amazônia como porta-voz, nesse processo. Buscamos abrir uma escuta para os sentidos materializados nesse processo discursivo, com o olhar voltado para as condições de produção na qual funciona o aparelho estatal brasileiro. Questiona-se a transparência da língua e o modo de formulação e circulação dos sentidos, mostrando as contradições na relação com o funcionamento do Estado de Direito na atuação sobre as questões da luta pela terra na década de 70.

A região Norte do Estado de Mato Grosso, popularmente denominada “Nortão” é formada por 20 municípios e tem importância significativa para o desenvolvimento desse Estado. A presente dissertação resulta de uma pesquisa que objetivou descrever o contexto linguístico de contato de muitos falares do Português Brasileiro em uma região de recente ocupação pelo processo migratório interno ocorrido a partir de meados do século XX. Antenor Nascentes (1953), em sua proposta de divisão dialetal do Brasil, considerou o Norte de Mato Grosso e o Norte de Goiás,linguisticamente, como “território incaracterístico”. Atualmente, as transformações geradas pelos processos migratórios têm provocado uma nova fotografia sociolinguísticadessas regiões em termos culturais, linguísticos e econômicos. Para a realização dessa pesquisa seguiu-se os pressupostos teórico-metodológicos da Dialetologia Pluridimensional e Contatual (RADTKE; THUN, 1996; 2005), para a elaboração dos cartogramascom dados topostáticos e topodinâmicos, contemplando as dimensões diatópica,diagenérica (dois homens e duas mulheres para cada grupo em cada localidade), diageracional (faixa etária I - 18 a 30 anos – e faixa etária II - 31 a 65 anos) e diafásica (questionários linguísticos e temas para discursos semidirigidos). A rede de pontos é formada por 05 localidades: Alta Floresta, Colíder, Guarantã do Norte, Peixoto de Azevedo e Sinop e em cada uma delas foram realizadas 04 entrevistas, para cada grupo de migrante que constitui a população daquela localidade, totalizando 72 entrevistas, com pluralidade simultânea de informantes. Os dados coletados a partir da aplicação do Questionário Semântico-Lexical (QSL/ALiB)em entrevistas gravadasforam transcritos e armazenados em um banco de dados elaborado no programa Excel, gerando base para o tratamento das informações no formato de quadros, gráficos, tabelas e cartogramas. Para cada questão gerou-se um cartograma linguístico, que além de revelar a norma semântico-lexical no Norte mato-grossense, mostrouse um conjunto de fotografias sociolinguísticasda distribuição diatópica e da influência topodinâmica deste espaço geográfico, social, histórico e cultural.

Historicizar o processo de nomeação das cidades que se instalaram nas décadas de 60 e 70 nesse território, nos leva a lugares históricos antigos e recentes, tendo em vista as diferentes determinações sócio-históricas da época em que se deram os nomes. Neste trabalho, não propomos contar a história das cidades que formam a região de Cáceres, mas analisar como se dá o processo de nomeação dessas cidades pelo viés da Semântica do Acontecimento, de Eduardo Guimarães (2002). Analisamos o movimento de semantização desses nomes, tomando seu funcionamento como um modo de determinação social e histórica que produz sentidos de identidade dessas cidades e de seus habitantes. Tomamos como materialidade os nomes dessas cidades por ano de emancipação, para analisar sob três aspectos: a) o funcionamento morfossintático, considerando que o nome próprio é, na sociedade, uma construção em que as relações morfológicas e sintáticas constituem o nome; b) o funcionamento semântico-enunciativo, pensando a nomeação em relação ao espaço de enunciação e às questões políticas, sociais e históricas que determinaram essas nomeações; c) o memorável no acontecimento dos nomes de cidades, pensando o funcionamento do conjunto de enunciações já realizadas. Apresentamos também como ocorre o processo de identificação do sujeito migrante nas novas terras e como essa nova população passa a ser designada através da categoria dos gentílicos. Com essas análises, mostramos que o processo de nomeação não é algo que se dá aleatoriamente, o sujeito que nomeia está agenciado a enunciar de uma forma e não de outra, sendo que essas nomeações funcionam a partir de um memorável de enunciações já ditas. Refletir sobre o processo de nomeação das cidades que compõem a Região de Cáceres é compreender a própria história de constituição dessa região e do pertencimento da população a esses novos territórios, que constroem e reconstroem a história do povo da cidade e do Estado de Mato Grosso.

Frente ao avanço cultural, tecnológico e linguístico atual que a sociedade vivencia e as pautas das agendas públicas governamentais que enunciam-se ratificar o compromisso da educação linguística de qualidade e porta de acesso para o desenvolvimento pleno da cidadania, urgem novas formas de ensino/aprendizagem da Língua Portuguesa, em contexto de sala de aula. Sendo assim, esta pesquisa filia-se à Linguítistica Aplicada, é de cunho qualitativo, etnográfico, inscrita na linha de pesquisa Descrição e análise de línguas, instituição de ensino. Procurou examinar o processo de Formação Inicial e Contínua para atuação na modalidade Educação de Jovens e Adutos(EJA) tendo como participantes quatro professoras, egressas do Curso de Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso que atuam na área de Linguagem, Códigos e suas Tecnologias (Língua Portuguesa) da educação básica de uma escola pública de Sinop/MT e quatro alunos da mesma instituição superior, bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID (Língua Portuguesa), fomento CAPES/UNEMAT. Utilizou-se dos seguintes instrumentos: a LDB (1996); as Orientações Curriculares para o Curso de Letras (2001); os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997); as Orientações Curriculares para o Ensino em Mato Grosso (MATO GROSSO, 2012); o Plano Político Pedagógico da escola (PPP, 2013); o Regimento Interno Escolar (RIE, 2013); o Relatório do Projeto “Sala de Educador”(2013), e por fim, os questionários e as entrevistas semiestruturadas aplicadas aos colaboradores. À luz da Línguística Aplicada buscou-se a compreensão de como esses participantes, tanto em pré serviço quanto em serviço lidam com as questões de ensino para um público especializado como é a EJA, bem como os saberes acadêmicos se resignificam no espaço dialógico das práticas escolares. Nesta esteira, reflete-se sobre a necessidade de formação permanente entendida em Freire (2005); Imbernón (2011, 2012); Barros(2011); Alves(2013); Santos e Ramos (2012,2013) para quem a formação é um continuum e propõe ao docente o repensar de suas práticas com criticidade e formular ações que dê ao aluno condições para o desenvolvimento de leitura e escrita, letramento discutido em Soares (2011), Kleiman (2011), Rojo (2009); Bortoni-Ricardo(2013) e Tfouni (2010). Observou-se que se as políticas públicas estiverem voltadas ao lugar situado contribuir-se-á para a educação de qualidade e a construção da formação humana, como anunciam os documentos orientativos, e ofertar-se-á condições que realmente leve o indivíduo a ser agente de suas práticas de linguagem.

A língua não é estática no trabalho de produção de sentidos, tampouco uma estrutura fixa, em cuja forma se apreende um sentido explícito ou único para as palavras. Ao contrário, a língua pressupõe um sistema relativamente autônomo, cuja estrutura constitui-se de frestas, falhas, onde os sentidos se materializam na/pela injunção entre língua, sujeito e história. Consideramos a língua em seu movimento próprio de deslizamentos, de rompimentos, cuja plasticidade constitui o foco de nossa inquietação, na sua relação com a história. Neste trabalho, visamos compreender como diferentes línguas, em especial o francês e o inglês, significam a língua e o sujeito nacionais brasileiros, ao se articularem na sintaxe de composições musicais. Para tanto, nos inscrevemos aos pressupostos teóricos da Análise do Discurso, para, à luz desta teoria, compreender fundamentalmente os sentidos que se dão numa relação com a história e que, a partir da história/língua/sujeito, constroem a memória discursiva, possibilitando a significação. Pela Análise de Discurso compreendemos que os sentidos se dão a partir das condições de produção e que pensar o modo como as diferentes línguas significam na/pela sintaxe da língua portuguesa é deslocar sentidos já-dados para as palavras dessas línguas, pois em outras condições de produção, produzem-se diferentes efeitos de sentido. Propomos, neste trabalho, um deslocamento para o que convencionalmente vem sendo chamado na Linguística de empréstimo ou estrangeirismo, propondo uma reflexão discursiva que inclui a história, significando a língua e o sujeito nessa relação, na/pela memória. Ao compreender o funcionamento de diferentes línguas na sintaxe do português, nos curvamos ao real da língua, pela abertura do simbólico que não se fecha, mas que se define pela/nessa possibilidade de falta. Assim, a língua é tomada como objeto de análise em/pela sua capacidade mesma de deslizamentos metafóricos, que jogam com os sentidos já-dados, fazendo emergir efeitos de sentido outros, sempre possíveis. O material que recortamos para a constituição do corpus compõe-se de composições musicais da MPB (Música Popular Brasileira), sendo elas, Não tem tradução (1933) e Cem Mil-Réis (1936) de Noel Rosa, Joana Francesa (1973) de Chico Buarque, Samba do Approach (1999) e Babylon (2000) de Zeca Baleiro. Desta maneira, nos propomos refletir a poesia enquanto propriedade da língua, buscando compreender de que modo este imbricamento de línguas, produzem sentidos nos versos poéticos da sintaxe da língua portuguesa.

Partindo dos estudos realizados sobre a História das Ideias Linguísticas no Brasil e pensando no funcionamento da linguagem, refletimos sobre a constituição da língua portuguesa no Brasil para entender os efeitos de sentido produzidos no processo de ensino e aprendizagem da língua portuguesa nos dias atuais, destacando o ideal de língua exigido socialmente e o entendimento dos alunos sobre a relevância do domínio da língua padrão na sua preparação para o mercado de trabalho e a universidade. Para tanto, observamos os documentos que regulam o ensino de língua no país, atentando para alguns conceitos como: norma linguística, variedade linguística, erro, correção, adequação e valor. Procuramos identificar e descrever os efeitos das políticas de línguas na inserção social acadêmica e/ou ocupacional dos sujeitos/alunos, considerando o potencial linguístico que os constitui e o imaginário da unidade linguística a que são submetidos durante sua formação escolar. Assim sendo, tomamos como aporte teórico, entre outros, trabalhos produzidos no âmbito da HIL e documentos que regem a educação brasileira na história recente – LDB e PCNs – no que diz respeito ao ensino da língua portuguesa. Também constituem o corpora deste trabalho Editais de processos avaliativos e entrevistas realizadas com estudantes do terceiro ano do Ensino Médio de escolas de Cáceres – MT.

A presente pesquisa investiga a realização do objeto direto anafórico de 3ª pessoa na fala araguaiense sob o viés da Teoria da Variação de William Labov (2008). Este trabalho contribui para a descrição de língua da comunidade araguaiense, por conseguinte, matogrossense e brasileira. O corpus analisado pertence ao banco de dados do Projeto PEVAL – Projeto para Estudo da Variação Linguística, com efeito, este banco de dados é formado por narrativas gravadas seguindo os passos teórico-metodológicos sugeridos por Labov (2008). Apresentamos um pouco da história da comunidade linguística em estudo, caracterizando o lócus, o corpus, a variáveis dependentes (clítico acusativo, objeto nulo, pronome tônico e sintagma nominal) e os fatores sociais que atuam como condicionadores à variação (variáveis independentes: nível de escolaridade, faixa etária e sexo). Os resultados obtidos nesta pesquisa indicam forte tendência, na fala araguaiense, ao desaparecimento dos clíticos acusativos de 3ª pessoa, e, apontam como forma substituta mais frequente: a categoria vazia. Além de ocorrências, menos frequentes, de sintagma nominal e pronome tônico desempenhando a função e objeto direto anafórico.

Inscrevemos esta pesquisa no campo teórico da Semântica do Acontecimento, (GUIMARÃES 2002, 2005), propondo analisar as contradições entre as normas do jurídico e o agenciamento das figuras da enunciação nas peças processuais que integram o Inquérito Policial Lesão Corporal, a partir da constituição sócio-histórica da representação da mulher nos dispositivos jurídicos de proteção contra a violência doméstico-familiar antes e depois da criação da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha). Selecionamos para as análises, uma peça investigativa denominada Inquérito Policial de Lesão Corporal, registrado na Comarca da cidade de Cáceres-MT; a Lei nº 11.340/2006; artigos do Código Civil de 1916; da Constituição Federal de 1988, do Novo Código Civil de 2002, e textos não oficiais. Nas análises das cenas enunciativas do documento processual, os sujeitos são agenciados a falar dos lugares constituídos pelos dizeres pela distribuição de papéis. Nessas cenas instala-se o conflito no centro do dizer, de um lado temos a normatividade da lei que dá proteção à vítima de agressão (Lei Maria da Penha) e, de outro, a norma jurídica (Código Civil) que a impede de enunciar, por ser menor de idade. Nas cenas enunciativas observamos a sobreposição de figuras enunciativas representadas pela polícia e como o dizer da vítima e do agressor são voluntariados pela voz do policial que interroga. Observamos também que a lei Maria da Penha não aprofunda a desigualdade entre homens e mulheres, ela faz significar a diferença histórica do real.

Esta pesquisa, vinculada à linha “descrição e análise de línguas, instituição e ensino” e concentrada na área: “estudo das relações entre língua, história e instituições”, tem como objetivo investigar as atitudes linguísticas ante o uso de jargões da língua inglesa por especialistas do mercado econômico brasileiro, o que acreditamos poder contribuir para a compreensão das relações entre as línguas e os sujeitos falantes. O estudo dos efeitos dessas relações entre leigos no assunto poderão acrescentar elementos à discussão de como a globalização afeta as línguas e promove/elege uma como língua internacional (a língua inglesa). Os dados foram coletados por meio de entrevistas, investigando dois grupos distintos de 24 informantes, sendo que 12 são profissionais do meio econômico, professores universitários e profissionais de revistas especializadas em assuntos políticoeconômicos; e 12 informantes ligados a áreas distintas do comércio e indústria. No que se refere ao arcabouço teórico, esta pesquisa ancora-se na Sociolinguística, mais precisamente nos estudos das atitudes linguísticas, conforme trabalhos realizados por Labov (1966), Fishman (1971), Sherzer & Darnell (1972), Schlieben-Lange (1977), Rona (1966), Lambert & Lambert (1975) e outros, com o intuito de discutir e analisar algumas das complexas relações entre língua e sociedade. Para a análise dos dados tomamos a perspectiva sócio-psicológico-mentalista, mais precisamente as concepções mentalistas de Lambert & Lambert (1975), onde as atitudes são tomadas como estado mental e neural de disposição, verificando com isso os componentes cognoscitivo, afetivo e conativo nas respostas dos dois grupos investigados. Nossos resultados mostram como as atitudes desenvolvidas através da experiência podem influenciar o comportamento linguístico de uma pessoa. Buscamos também mostrar como a atitude de um indivíduo a respeito da linguagem de determinado grupo é sua disposição para responder positivamente ou negativamente a determinada língua e seus usuários. Além disso, em nossa pesquisa procuramos compreender o significado ou efeito, tanto negativo como positivo, do jargão usado por especialistas de mercado econômico, bem como os reflexos da língua inglesa no comércio local pesquisado.

Essa pesquisa teve por objetivo entender como o discurso do monolinguismo significa no interior das Orientações Curriculares do Estado de Mato Grosso (OCs). Como lugar teórico, inscreve-se na História das Ideias Linguísticas e no dispositivo teórico-analítico da Análise de Discurso, como formulada por M. Pêcheux e E. Orlandi. Assim, filia-se a linha “Estudo dos processos discursivos e análise semântica da enunciação”, no interior do projeto “Vozes da Cidade”, da UNEMAT. Nesse percurso, analisamos as condições de produção das OCs, tanto em sentido restrito quanto amplo, ou seja, suas determinações socio-históricas. Nessa direção percebeu-se, em diferentes momentos, um movimento no sentido de construir um imaginário de unicidade linguística, seja das línguas gerais, seja do português no/do Brasil, o que nos possibilitou compreender as políticas de ensino de Mato Grosso, nesse começo de século, como um espaço-tempo de homogeneização do português como língua nacional, mostrando-se, assim, outro modo de funcionamento do discurso do monolinguismo numa relação de contradição com o discurso do multilinguismo.

Nosso trabalho se inscreve na linha de pesquisa Estudos e Análises dos processos discursivos e semânticos, vinculado ao grupo de pesquisa Ciência, Língua e Ensino/ CNPQ/UNEMAT na área da Análise de Discurso materialista e tem como objetivo compreender o jogo de sentidos entre proteção e punição nas instituições de ressocialização apresentados nos documentários: Juízo, de Maria Augusta Ramos (2007), Silva, de Beto Sporkens (2001/2002) e Sou di menó, produzido por Sheila Pereira (2012). Propomo-nos refletir sobre o modo como o menor infrator é constituído e significado nos documentários que compõem o corpus, a partir da concepção dos documentários enquanto intersecção de diferentes materialidades que constituem os discursos sobre o menor e sobre o papel das instituições de ressocialização. Nosso trabalho sob uma base material áudio visual tomou os diferentes elementos significantes no propósito de analisar o efeito de evidência provocado pelos documentários no que concernem as concepções de proteção e punição. Para tanto, historicizamos o processo de institucionalização do menor infrator no Brasil, em relação de contradição entre os sentidos da palavra criança, adolescente, menor e menor infrator. Nossas análises dão visibilidade ao modo como os sentidos são produzidos e administrados na representação imaginária das instituições de ressocialização do sujeito menor infrator. A partir das análises, compreendemos o modo como o menor infrator é significado considerando os pressupostos teóricos da Análise do Discurso na relação entre língua, Estado e memória. Nesse sentido, tomamos outros conceitos fundamentais: as condições de produção e o interdiscurso onde se flagra pelo discurso o trabalho forte da ideologia que atravessa e institucionaliza sujeitos, determinam sentidos e silenciam outras possibilidades de leitura dos/nos documentários.

Neste trabalho, analisamos discursivamente como se constituem os sentidos de trabalhador para o sujeito com deficiência, produzidos pela legislação que trata do processo de inclusão do sujeito com deficiência no mercado de trabalho. Para tanto, filiamo-nos à teoria da Análise de Discurso de linha materialista, que conjuga a língua com a história na produção de sentidos e desloca a noção de homem para sujeito. O processo de constituição dos sentidos de trabalhador para esse sujeito se dá inicialmente numa conjuntura internacional, na qual a ideologia e a memória atravessam textos de normas internacionais, regulamentados por organizações internacionais, bem como os textos da legislação nacional, que regulamentam as práticas de inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho brasileiro. Essa legislação institui benefícios e mecanismos que funcionam como parte dos sentidos de trabalhador para a pessoa com deficiência. Para a formação do corpus tomamos como material de análise alguns fragmentos de normas internacionais – instituídas pela ONU e OIT –, de leis e decretos federais, que instituem práticas de inclusão do sujeito com deficiência trabalho. Pelo movimento de criação e atualização da legislação, essa normatização indica a contradição constitutiva da formação social capitalista, que através da produção de leis faz funcionar sentidos de igualdade e liberdade dos sujeitos, silenciando a divisão e a segregação social. Tomamos o discurso da legislação como materialidade de um processo em que a língua é trabalhada pela ideologia, tornando-se um lugar de observação da reelaboração de discursos que estabelecem concepções políticas e econômicas para a sociedade. Desse modo, o discurso da legislação nos possibilita compreender a constituição do sujeito com deficiência enquanto trabalhador num espaço de ressignificação de sentidos. Portanto, esta pesquisa pretende dar visibilidade à reprodução de sentidos cristalizados através do gesto de criação e pelo movimento de atualização da legislação, reproduzindo sentidos constituídos histórico-ideologicamente sobre a capacidade de produção do sujeito com deficiência.

Esta pesquisa tem como objetivo analisar as representações discursivas de acadêmicos estagiários do Curso de Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Campus de Cáceres. Alguns questionamentos nortearão este estudo: (1) Como são representados os professores de LI do curso de Letras no discurso dos participantes? (2) De que maneira(s) são representados professores de LI da escola pública? (3) Como os participantes, enquanto acadêmicos do curso de Letras representam outros acadêmicos do curso? (4) De que modo(s) os participantes se autorrepresentam? (5) Como são representados/referidos alunos de escola pública? Trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho crítico, fundamentada na perspectiva interpretativista (ERICKSON, 1986, 1996; MOITA LOPES, 1994; entre outros). Os dados foram coletados por meio de aplicação de questionários, bem como realização de entrevistas qualitativas com alunos do VI e VII semestres (2010/2), e do VII e VIII semestres (2011/1). No que se refere ao arcabouço teórico, esta pesquisa ancora-se na Formação Crítica de Professores de Línguas (BARROS, 2010; CELANI, 2003; COX e ASSIS-PETERSON, 2001, 2008; FREIRE, 1987; 1996; PAPA, 2008; entre outros); Análise Crítica do Discurso (FAIRCLOUGH, 1989, 2001, 2003); Gramática Sistêmico-Funcional (HALLIDAY, 1994, 2004; SARTIN, 2010; entre outros); bem como Representação de Atores Sociais (VAN LEEUWEN, 1997, 2008; FAIRCLOUGH, 2003). Para a análise dos dados, foram utilizadas as categorias sócio-semânticas sugeridas por (VAN LEEUWEN, 1997, 2008), tais como Exclusão e Inclusão. A partir delas, foram analisadas subcategorias, como supressão, colocação em segundo plano (encobrimento), funcionalização, generalização, nomeação, objetivação, agregação, entre outras. A subcategoria de maior produtividade nos dados foi agregação. Os resultados indicaram pontos incongruentes, tanto no curso de Letras quanto na escola pública. No caso do primeiro, notou-se a falta de sequência na aplicação dos conteúdos de LI ao longo do curso, culminando na repetição de itens já ensinados/aprendidos. Notaram-se, ainda, marcas de autoritarismo docente nas relações de sala de aula. No que tange à escola pública, os resultados revelaram a falta de proficiência linguística em LI por parte de professores, fazendo com que as aulas dessa língua estrangeira restrinjam-se ao ensino de itens de gramática e vocabulário descontextualizados.

Essa pesquisa tem como objetivo compreender o embate ideológico que se instala entre o Discurso Jurídico e o Discurso Médico, tomando como corpus o laudo criminológico constante no processo de A.J.S, designado pela mídia como o “Maníaco de Luziânia”. Temos, nesse processo de execução penal, dois laudos médicos, distintos e conflitantes entre si, e uma consequente decisão judicial que silencia os dizeres desses dois laudos. A consequência desse embate dentro do próprio Discurso Médico e deste com o Discurso Jurídico foi a concessão da progressão de regime ao condenado, que, quando libertado, violentou e assassinou seis jovens. A.J.S havia sido sentenciado a mais de dez anos de prisão por estupro. O que esses encaminhamentos e suas consequências colocam em questão é o embate entre ordens distintas de discursos, a Médica e a Jurídica, que constituem o Discurso do Laudo pericial. De um lado temos, no laudo, a avaliação do médico-psiquiatra e a do psicólogo que se pautam em diagnósticos possíveis, na forma de um discurso modalizado, uma vez que, por se tratar da psique humana, nada de categórico pode ser afirmado pela ciência médica ou psicológica, contudo, o laudo criminológico de ambos os profissionais, embora utilizem discursos modalizados, apresentam diagnósticos diferentes: o psiquiátrico – afirma que o periciando não possui doença mental – e o psicológico – afirma que o sujeito pode reincidir no mesmo crime, apresentando traços de psicopatia. De outro lado, temos o discurso jurídico, que, pautando-se na objetividade da Lei (Código de Processo Penal - art. 182: “[...] o juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte”), toma a decisão de conceder a progressão de regime ao condenado silenciando os dois laudos. A partir deste embate, no interior do Discurso Médico – laudos distintos sobre o mesmo sujeito – e entre o Discurso Médico e o Jurídico, temos uma consequência nefasta para a sociedade, os cruéis assassinatos de seis jovens. Com base nessa constatação, o propósito da nossa pesquisa é o de compreender como o Discurso do Laudo tem se constituído em processos dessa natureza. Ou seja, como se dá o embate dentro do próprio Discurso Médico – posição sujeito-psiquiatra e psicólogos – e entre este e o Discurso Jurídico. É o furo, a falha na lei/língua, produzindo o equívoco na história, possibilitando, assim, que o sujeito perverso conviva com a sociedade e reincida em seus crimes. Desse modo, pretendemos compreender como se dá o funcionamento histórico-ideológico no Discurso do Laudo, o qual o sujeito-magistrado toma ou não para fundamentar sua decisão. O resultado dessa pesquisa deve lançar luz e trazer reflexões sobre a impossibilidade de conciliação entre ordens discursivas distintas e que, ao mesmo tempo, instituem o laudo pericial, principalmente, quando se trata de sujeitos considerados perversos, tutelados pelo ordenamento jurídico.

Este trabalho tem como objetivo compreender os sentidos que se constituem na Escola Municipal Marechal Rondon (EMMR) enquanto instituição responsável pelo ensino de Língua Portuguesa para brasileiros e bolivianos na fronteira Cáceres (Brasil) e San Matias (Bolívia). Busca-se produzir uma reflexão sobre o embate existente entre diferentes línguas (lugares) que atravessam o sujeito fronteiriço brasileiro e boliviano no modo como se identificam na fronteira e na forma como são interpelados pelo Estado através das Políticas Linguísticas direcionadas para a escolarização brasileira. Por isso, este estudo se inscreve na área de conhecimento intitulada História das Ideias Linguísticas que, articulada à Análise de Discurso de linha francesa, possibilita compreender as condições de produção e os efeitos de sentido das línguas que se relacionam em um espaço de contenção e integração entre sujeitos fronteiriços. Através da análise do Planejamento Anual de Língua Portuguesa (PALP), pretende-se dar visibilidade a esse embate, e com isso construir gestos de interpretação sobre o modo como se constitui o ensino de Língua Portuguesa na fronteira Brasil-Bolívia

O presente trabalho, que se filia à Análise de Discurso, tendo como precursor na França, Michel Pêcheux e no Brasil, Eni Orlandi, toma como material de análise os arquivos das 14 Conferências Nacionais de Saúde (CNSs), que se realizaram no país, desde 1941 até 2011, e que se encontram disponíveis, para o público em geral, na internet, além de uma Cartilha do Usuário, que circulou nas dependências do Hospital Regional de Cáceres Dr. Antonio Fontes, quando de sua inauguração, em 2001. A pergunta que se encontra na base de toda essa nossa pesquisa é de que modo as políticas públicas de saúde instituem, pela formulação e circulação do dizer, o sujeito-usuário do SUS. A imbricação entre a Saúde e a Linguística é um funcionamento presente nas análises realizadas, pois as condições de produção dos modos de se fazer saúde no Brasil funcionam de acordo com os modos como os sujeitos-alvos da saúde têm sido discursivizados pelo Estado, ao longo da história do país. Sendo assim, esses sujeitosalvos da saúde, atualmente chamados de usuários do SUS, são aqueles que não sabem, os desconhecedores, os desinformados, os sem-voz, a presença-ausente nas deliberações das políticas públicas de saúde. O funcionamento desses dizeres se ancora no discurso pedagógico e, por conseguinte, no discurso autoritário (Orlandi, 1996), garantindo, assim, a propagação de um modo de se fazer saúde, pelo uso corriqueiro de instrumentos didático-pedagógicos, que visam a inculcação e a máxima pulverização de informações para o maior número possível de pessoas. O Estado utiliza para isso, cartilhas, folders, guias, panfletos, questionários e outras estratégias educativas, que fazem circular informações sobre a saúde, para um sujeito-alvo que nada sabe, e que, por um efeito de evidência, faz funcionar também um sentido para o adoecimento, que se sustenta, então, pela ignorância. Outro funcionamento discursivo, que as análises deste trabalho nos permitiram dar visibilidade é quanto às relações hierarquizadas presentes nas políticas públicas do país, pois o que há são aqueles poucos – autoridades governamentais e técnicos da saúde – que decidem, que determinam os modos de se fazer saúde sobre a vida de muitos dos brasileiros. Esse funcionamento se ancora no discurso religioso, que também, por seu caráter autoritário, determina uma relação unilateral e impositiva daqueles que detém o poder/saber sobre a saúde dos usuários do SUS.