OS EFEITOS DE SENTIDO DOS JINGLES NAS CAMPANHAS PRESIDENCIAIS BRASILEIRAS DA DÉCADA DE 1960 E 1989
Análise de Discurso; sujeito, cidade, Jingles Eleitorais; Campanhas Presidenciais.
A presente pesquisa inscreve-se na linha de pesquisa Estudo de Processos Discursivos da área de concentração Estudo de Processos Linguísticos do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística, da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Objetivo principal é compreender, à luz da teoria da Análise de Discurso fundamentada na França, por Michel Pêcheux e desenvolvida por Eni Orlandi no Brasil, o discurso dos jingles de campanhas eleitorais presidenciais das décadas de 1960 e 1989. Para tanto, este estudo investiga, pela materialidade simbólica do discurso dos jingles, as relações entre memória discursiva, acontecimento discursivo, formações imaginárias e discurso midiático, considerando a dimensão histórica e social que atravessa esses enunciados. O corpus da pesquisa é composto pelos discursos verbal e de imagens; recortes de jornais dos presidenciáveis - Jânio Quadros e Marechal Lott nas eleições de 1960, e de Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 1989. Os distintos recortes são tomados enquanto materialidades discursivas, e analisados como práticas significantes da linguagem que, ideologicamente, constituem o processo de construção das identidades políticas dos candidatos e interpelam os sujeitos. A análise foca na circulação dos discursos midiáticos da materialidade linguística dos jingles buscando saber como se inscrevem e reconfiguram os sentidos a partir das diferentes formações discursivas e condições de produção específicas a cada época. Analisa-se o modo como o discurso dos candidatos Jânio Quadros e Marechal Lott toma corpo nos jingles, nas eleições de 1960 e refletem a disputa entre dois projetos políticos distintos: Quadros, em uma projeção imaginária de renovação moral, enquanto Lott centra-se na também, projeção imaginária de ideia de segurança e de continuidade. Já em 1989, os dizeres dos jingles de Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva representam uma nova polarização, marcada pela transição política do Brasil para o neoliberalismo. O candidato Collor, associava-se à modernização econômica, enquanto o candidato Lula era relacionado à defesa das classes trabalhadoras e à promoção da justiça social. O estudo problematiza a memória discursiva presente nesses dizeres dos jingles, destacando como os sentidos que emergem dos enunciados são constantemente (res)significados ao longo das campanhas. Um exemplo claro é o enunciado Lula lá, que é retomado e (res)significado em todas as campanhas de Lula após 1989, operando tanto dentro de uma lógica de repetibilidade quanto de ruptura. Essa análise faz pensar, pela materialidade linguística os jingles como acontecimentos discursivos, cuja repetição e circulação produzem efeitos de sentido que, ao mesmo tempo, reforçam e reconfiguram o espaço simbólico e político. Concluímos que os discursos dos jingles eleitorais atuam, a nosso ver, como elementos centrais na construção de identidades políticas, ao mesmo tempo em que refletem e (res)significam as transformações históricas e sociais de cada período. Este trabalho traz a leitura, portanto, da complexidade das relações entre discurso, política e memória, e os modos como essas relações são materializadas nos discursos midiáticos das campanhas presidenciais.