FIQUE EM CASA! OS EFEITOS DE SENTIDO DAS CAMPANHAS DE PREVENÇÃO À COVID-19 E SUA RELAÇÃO DISCURSIVA COM A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.
Palavras-chave: Análise do Discurso. Pandemia. Fique em Casa. Violência Doméstica. COVID-19.
RESUMO: Esta dissertação é produto de uma pesquisa bibliográfica de viés qualitativo cujo objeto é o discurso das mulheres vítimas de violência doméstica durante a pandemia com foco em sua relação discursiva com o aumento da violência doméstica neste período. O interesse em tornar esse discurso objeto de investigação científica se deve ao desejo de compreender os impactos das campanhas de prevenção à COVID-19, de modo especial a campanha “Fique em Casa”, em um contexto de pandemia, uma vez que essas campanhas, embora visassem a proteção sanitária, acabaram gerando efeitos colaterais adversos ao manter as mulheres em isolamento com seus agressores em potencial. A pesquisa, fundamentada na Análise de Discurso de linha francesa por Pechêux (1969; 1988; 1998) e Orlandi (1999; 2007; 2012), explora como o discurso dessas campanhas contribuiu para intensificar situações de vulnerabilidade para essas mulheres que já viviam em contextos de violência doméstica mesmo sem entender isso. Para empreender a análise, propusemos as seguintes questões: Existe uma relação discursiva entre os imperativos de “fique em casa” das campanhas de prevenção à COVID-19 e a dinâmica da violência doméstica? Apesar do aumento nas denúncias de violência doméstica, ainda se observa a presença de fenômenos discursivos que perpetuam o silenciamento em torno dessa questão? Para responder as questões, foram realizadas as análises do corpus de pesquisa que consistia em relatos de mulheres em redes sociais e outros espaços de denúncias durante a pandemia, com destaque para as regularidades discursivas que apontam a intensificação das agressões físicas no período, ao mesmo tempo em que formas de violências anteriores, como psicológicas e patrimoniais, foram silenciadas. Como resultado dessa pesquisa, concluímos que, a imposição do discurso “fique em casa”, embora com o intuito de proteção, ao desconsiderar as historicidades das violências domésticas, fomentou um espaço de opressão, evidenciando a relação das estruturas sociais e econômicas na sustentabilidade da violência.