EFEITO DA CONECTIVIDADE NA ESTRUTURA DA METACOMUNIDADE DE INSETOS AQUÁTICOS DO PANTANAL
produtividade primária, heterogeneidade de habitat, diversidade alfa e beta, singularidade ecológica, ecossistemas lacustres.
Os lagos pantaneiros possuem uma grande variabilidade ambiental e espacial condicionadas de acordo com o pulso de inundação sazonal de seus rios. A estrutura da metacomunidade de insetos aquáticos é fortemente influenciada por processos locais que atuam como filtros ambientais impondo ajustes adaptativos nos ciclos biológicos das espécies, e também por fatores como conectividade dos lagos e rios que afeta a dispersão. Neste estudo, pretendemos compreender a influência de fatores locais e regionais para a estrutura da metacomunidade de insetos aquáticos, considerando ainda o padrão de dispersão variável e a complementaridade funcionalmente nos ecossistemas. De acordo com a história de vida destes organismos, podemos classificar Ephemeroptera e Trichoptera como sendo de baixa capacidade de dispersão e alta diversidade funcional alimentar (e.g., raspadores, fragmentadores, filtradores, coletores e predadores), Hemiptera como de média capacidade de dispersão e baixa diversidade funcional (e.g., predadores ou fitófagos), e Odonata com alta capacidade de dispersão e exclusivamente predadores. Diante deste contexto, testamos as seguintes hipóteses: i) lagos desconectados tem maior abundância associada à maior produtividade primária de algas, fornecendo recursos essenciais para os insetos aquáticos fitófagos e raspadores. ii) Lagos conectados tem maior riqueza, diversidade e equidade devido à maior heterogeneidade de hábitats propiciada pela fonte de fluxo de água do canal principal, enquanto que iii) lagos desconectados são um subconjunto da composição de espécies de lagos conectados, refletindo em um padrão de aninhamento associado à homogeneidade ambiental. iv) Lagos desconectados terão maior β-diversidade entre si comparado aos lagos conectados devido ao efeito do isolamento, e v) maior contribuição local para a β-diversidade (maior singularidade ecológica), uma vez que o isolamento proporciona condições ambientais restritivas e combinações únicas de espécies adaptadas à ambientes lênticos. vi) As espécies que mais contribuirão para a β-diversidade (SCBD) serão aquelas mais comuns, generalistas e de ampla ocupação reflexo da maior dispersão. Em 34 lagos distribuídos no gradiente hídrico da Bacia do Rio Cuiabá, no Norte do Pantanal Mato-grossense, coletamos um total de 6.346 indivíduos das quatro ordens, distribuídos em 21 famílias e 50 gêneros. Observamos que a heterogeneidade ambiental está diretamente relacionada com a conectividade dos lagos, além de mais matéria orgânica do sedimento e turbidez da água, que aumentam a abundância dos insetos aquáticos. Observamos também, que produtividade está negativamente associada à diversidade. Encontramos menor produtividade em lagos desconectados e efeitos positivos sobre a abundância de insetos, corroborando nossa hipótese i, e maior heterogeneidade de habitat nestes lagos contrariando nossa hipótese ii. A contribuição para a diversidade beta foi mais relacionada aos lagos desconectados, evidenciando maior singularidade ecológica, corroborando nossa hipótese iv e v. Os gêneros de maior ocupação regional apresentaram também maior contribuição para a diversidade beta,ocorrendo em cerca de 40% dos lagos amostrados, corroborando nossa hipótese vi. A conectividade e a heterogeneidade de hábitats, expressa pela diversidade de macrófitas, foram, portanto, os maiores direcionadores da diversidade alfa e beta, o que está associado ao grau de singularidade ecológica das espécies de lagos desconectados. Nestes lagos, gêneros adaptados a ambientes lênticos se beneficiam da vegetação aquática que provê alimento e refúgio. Já nos lagos conectados gêneros dependentes do fluxo contínuo de água apresentam maior ocorrência e abundância, provavelmente mantidas devido a processos de fluxo fonte-poço, como em dinâmica de massa, provenientes de tributários menores rio acima.