Hiperdominância espaço-temporal de árvores do Cerrado
Bioma Cerrado, savana, abundância, dominância, hiperdominância, conservação, modelos de regressão local, modelos de distribuição de espécies
O Cerrado: hotspot de biodiversidade global, segundo maior Bioma da América do Sul, maior ecossistema de savana neotropical, é também o Bioma com os menores índices de conservação e os maiores efeitos degradativos antrópicos de uso e conversão do solo. Diferentes investigações têm contribuído para o conhecimento deste Bioma megadiverso, porém, ainda enfrenta lacunas de conhecimentos: Quantas espécies possui o Cerrado? Qual é a espécie e família mais comum? Quais são os limites ambientais do Cerrado e dos ecossistemas de savana na América do Sul? Qual é o estado atual de conservação dessas espécies? e, os nichos ambientais serão contemplados diante das mudanças climáticas futuras?. A partir de modelos de regressão local e modelos de distribuição de espécies pudemos contribuir e reduzir essas lacunas de conhecimento. Nesse sentido, nossa pesquisa permite identificar os seguintes pontos: 1) o Cerrado apresenta dominância nas espécies arbóreas: 30 espécies da biodiversidade arbórea representam mais do 50% de todos os indivíduos (585 espécies e 219850 indivíduos); 2) A espécie mais comum do Cerrado é Qualea parviflora (7,2% de todas as espécies e 15752 ind.) e a família dominante é Vochysiaceae (21 espécies e 37261 ind.); 3) Conhecemos 36% de toda a biodiversidade de árvores do Cerrado, nossas estimativas apontam a existência de 1605 espécies de árvores, das quais 1020 espécies ainda aguardam para serem descobertas e identificadas; 4) Os registros da presença das espécies hiperdominantes do Cerrado permitem calcular a adequação ambiental dos ecossistemas savânicos da América do Sul; 5) Apenas 37% das 585 espécies hiperdominantes registradas para o Cerrado estão dentro de Áreas Protegidas e 1% em Terras Indígenas; 6) Devido às ações antrópicas, o Cerrado perdeu 2.40x107 km2 de 1985 (1.11x108 km2) até 2020 (8.73x107 km2); 7) As predições de adequação ambiental das espécies hiperdominantes do Cerrado se sobrepõem 8,9% com Áreas Protegidas e 8% com Terras Indígenas; 8) Os padrões de distribuição das 30 espécies hiperdominantes, para os cenários presente e futuro, mostraram estabilidade espacial em ~771675 km2, ganho de novos nichos ambientais de ~68106 km2 e perdas de adequação ambiental de ~52240 km2. O Cerrado apresenta um décimo da diversidade de espécies estimada para a Amazônia. No entanto, as taxas acumuladas de desmatamento e degradação são maiores para o Cerrado, desencadeando mecanismos sinérgicos negativos de tipo antrópico-ambiental com efeitos irreversíveis sobre a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos derivados. A complexidade ambiental inerente ao Cerrado é de difícil compreensão e desmembramento, o que dificulta muito a conservação, ainda assim, são inúmeras as investigações que apontam os caminhos a seguir para conservá-lo e para conservar a cultura dos seus povos originários.