IMPACTOS CAUSADOS POR AGENTES PATOGÊNICOS DE CÃES DOMÉSTICOS NA ESPÉCIE SILVESTRE Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) (CARNIVORA, CANIDAE) NA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE SERRA DAS ARARAS E SEU ENTORNO
Conservação; Contaminação cruzada; Parasitas; Unidade de Conservação.
Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) é difundida em grande parte do território sul americano, no Brasil seu registro acontece em grande parte, com pouca ocorrência na Amazônia. É uma espécie comum no bioma Cerrado, uma vez que ela se adapta em ambientes antropizados e periurbanos. Áreas antropogênicas aproximam as populações de animais silvestres com as domésticas, permitindo a veiculação de parasitos. O objetivo do estudo foi avaliar a prevalência de parasitos intestinais nas populações de canídeos domésticos e silvestres, assim como a possibilidade de contaminação cruzada. Para a captura do Cerdocyon thous foram instaladas 10 armadilhas do tipo Tomahawk dobráveis, com as dimensões de 115 x 55 x 60. Como isca foi utilizado pedaços de frangos acomodados no fundo das armadilhas, depois de capturados os animais foram seguramente sedados para a coleta de material biológico. Em relação aos cães domésticos foi aplicado aos donos dos animais um questionário referente aos hábitos de vida dos mesmos e as coletas de material biológico foram realizadas sem a necessidade de sedação. As amostras foram devidamente acondicionadas e mantidas em refrigeração até posterior análise em laboratório. Os resultados obtidos nas amostras de fezes, segundo Hoffman (1934) foram positivos para vários parasitos nos cães domésticos com frequência de ocorrência para Blastocystis sp. de 60%, Trichuris vulpis 10%, Dipylidium caninum 10%, Ancilostomídeo 20%, Giardia lamblia 20% e Sarcocystis sp. 20%. Para os C. thous foram encontrados com a frequência de ocorrência de ovos de ácaro 28,57%, Ancilostomídeo 42,85%, Blastocystis sp. 28,57%, Trichuris vulpis 14,28%. Com a Técnica de FAUST os parasitos dos cães domésticos foram observados com frequência de ocorrência para Blastocystis sp. de 30% e Sarcocystis sp. 10%. Para os C. thous com a frequência de ocorrência de Ancilostomídeo 42,85%, Blastocystis sp. 57,14%, Trichuris vulpis 14, 28% e Capillaria sp. 14,28%. As amostras de sangue dos canídeos domésticos e silvestres foram submetidas a RT- PCR para o CDV, qPCR para o diagnóstico de Anaplasma spp, Babesia spp., E. canis, Leishmania spp. e Trypanossoma spp. e PCR convencional para detecção molecular de Hepatozoon sp., e Ehrlichia spp. Os resultados mostraram que 50% das amostras dos cães domésticos foram positivas para Anaplasma spp., 60% para Babesia spp., 30 % Erlichia canis e 20 % para Erlichia spp.. No entanto, foram negativos para os antígenos Hepatozon sp., Leishmania spp., Trypanossoma spp. e CDV. Para C. thous todas as amostras tiveram reações negativas para todos os genótipos analisados. A sorologia para detecção do anticorpo da cinomose (KIT teste rápido) em amostras de soro de cães domésticos e silvestres revelou que 80% das amostras foram reagentes para os cães domésticos e nenhuma para C. thous. A frequência de ocorrência de parasitos nas fezes e a presença de patógenos de doenças infecto contagiosas no sangue dos cães domésticos podem caracterizar ameaça aos cães silvestres presentes na Unidade de Conservação que tem contato direto entre os mesmos, pois tem livre trânsito entre a Unidade de Conservação e as áreas do entorno. Considerando que a área de vida de C. thous pode chegar a mais de 7 km2 o que sobrepõem 60% dos cães domésticos amostrados, dessa forma pode contaminar não só o C. thous objeto deste estudo, mas também Chrysocyon brachyurus (lobo guará), Lycalopex vetulus (raposinha do campo) e Speothos venaticus (cachorro vinagre), assim como as espécies de felinos presentes na área. Por exemplo, Blastocystis sp. esteve presente nas duas espécies o que pode demonstrar o contato entre os animais. Medidas de preservação implicam em um trabalho de sensibilização com os donos de cães domésticos, relacionadas à vacinação e vermifugação desses animais. Desse modo, salientamos que a combinação de técnicas de análises buscando identificar patógenos e parasitos que acometem doenças em canídeos domésticos e silvestres, além do modo de contágio é fundamental para propormos medidas de conservação da fauna silvestre.