DISCURSO DOS SUJEITOS-PROFESSORES E SUJEITOS-ALUNOS SOBRE O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA E LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Análise de Discurso. Prática de ensino. Língua Portuguesa. Língua Inglesa. Documentos oficiais.
Esta pesquisa, inscrita na linha de pesquisa Estudos dos Processos Discursivos, do Programa de Pós Graduação em Linguística da UNEMAT, tem como objetivo analisar – a partir da teoria da Análise de Discurso de linha francesa, fundada por Pêcheux, na França e, posteriormente, desenvolvida por Eni Orlandi e outros linguistas, no Brasil – o discurso dos sujeitos professores e alunos sobre o processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa e Língua Inglesa e os documentos curriculares PCN, PCN+, OCN e BNCC, todos do Ensino Médio. Com isso, verificamos se o dizer da lei se materializa na prática de ensino dessas línguas. O lócus da pesquisa foi a Escola Estadual Deputado Bertoldo Freire, localizada em São José dos Quatro Marcos, no Estado de Mato Grosso. Então, apresentamos como se deu a Reforma do Ensino Médio e, consequentemente, o ensino em tempo integral, analisando o discurso sobre/da educação integral no/para o Estado de Mato Grosso. Analisamos, também, a respeito da Escola da Escolha, Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE) e Escola Plena, sendo este o nome dado às escolas que oferecem ensino integral em Mato Grosso, no caso, o ensino ofertado pela escola onde realizamos a pesquisa. O corpus constituiu-se por meio de um questionário direcionado aos professores de Língua Portuguesa e Língua Inglesa e a alguns alunos do Ensino Médio (de um primeiro e um terceiro ano) e, também, de recortes extraídos dos documentos curriculares sobre a prática de ensino dessas línguas. Após descrevermos as condições de produção dos PCNEM, PCN+EM, OCNEM e BNCC do Ensino Médio, analisamos as relações de paráfrase e polissemia, dadas as diferentes condições em que esses documentos foram produzidos. Assim, com base na análise realizada, foi possível observar que a BNCC, que se diz inovadora em relação aos PCNEM, PCN+EM e OCNEM, não apresenta muitas mudanças. Observamos que há uma repetição de já-ditos, que intervêm na textualidade desses documentos, produzindo efeitos de evidência. Em todos os documentos, a fase do Ensino Médio é colocada como preparação do aluno para o mundo do trabalho, com maior ênfase na textualidade da BNCC, que visa ofertar um ensino em tempo integral e apresenta os itinerários formativos, dando uma suposta liberdade de escolha aos alunos para sua capacitação técnica e profissional, com o intuito de que eles possam atender com qualidade ao mercado de trabalho, reproduzindo-se, assim, um discurso sustentado por uma ideologia neoliberal, típica de um sistema capitalista. Todos os documentos, com destaque à textualidade da BNCC, colocam em evidência a importância das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) no contexto escolar, mas não consideram as reais condições das escolas para ofertar as tecnologias digitais. A partir das formulações dos sujeitos-alunos, vemos que há uma identificação em relação à língua fluida, que se fala no dia a dia, e um estranhamento à língua imaginária, idealizada, formal. Com isso, esses sujeitos parecem não se identificar com a Língua Portuguesa aprendida na escola, que está distante da forma como se comunicam em casa. Compreendemos, também, que há um imaginário por parte dos alunos e de toda a sociedade de que na escola é onde se aprende a Língua Portuguesa formal, padrão. No que diz respeito ao ensino da uma Língua Estrangeira, em todos os documentos, mesmo de maneira implícita, as referências são sempre voltadas para a Língua Inglesa, sendo a BNCC o único documento que explicita sua obrigatoriedade no currículo. Porém, observamos que os sujeitos-alunos se identificam também com outras Línguas Estrangeiras e veem na Língua Inglesa, uma língua utilitária, que lhes possibilitará maior êxito no mercado de trabalho. No entanto, quando os sujeitos-alunos enunciam que pretendem conciliar o trabalho com os estudos e ingressar no Ensino Superior, é possível perceber indícios de resistência, em que esses alunos rompem com as amarras do Estado, que visa apenas formar o aluno para atender às necessidades do mercado. Quanto aos sujeitos-professores, foi possível observar que, em algumas formulações, se identificam com o discurso do Estado, mas na maioria delas, se contraidentificam, pois observam a distância entre o que é discursivisado pelos documentos oficiais e a prática de ensino de línguas. E, então, procuram, na medida do possível, romper com a textualidade dos documentos oficiais, a fim de trabalhar a prática de ensino de maneira diferenciada. A análise do corpus nos permitiu compreender, então, que há duas modalidades da tomada de posição dos sujeitos-professores e sujeitos-alunos ao se inscrever em uma formação discursiva: a identificação e a contraidentificação, pois esses sujeitos, nos processos de identificação e de significação, ora se identificam ora se contraidentificam com o discurso do Estado capitalista e suas leis, resistindo ao que lhes é (im)posto.