VALTER HUGO MÃE: A TRAVE MESTRA DA LINGUAGEM
Valter Hugo Mãe. Literatura Portuguesa. Humanismo. Romance contemporâneo.
Neste estudo empreendemos uma análise acerca da construção literária que fomenta, por uma
linguagem em prosa poética, reflexões de natureza humanística, em o apocalipse dos
trabalhadores (2008), a máquina de fazer espanhóis (2010), O filho de mil homens (2011), A
desumanização (2013) e Homens imprudentemente poéticos (2016), do escritor português Valter
Hugo Mãe. O exame do corpus é orientado por pressupostos referenciais crítico-teóricos
literários, conjugando diálogos com os campos filosófico e cultural. A linguagem na tessitura
narrativa dos romances em relevo recoloca matérias humanísticas em discussão que são passíveis
de averiguação a partir das elaborações de Gaston Bachelard (1989) e Mikhail Bakhtin (1941).
Integra esta tese um exame da escolha e dos sentidos das designações das tramas e personagens,
somada a uma investigação das referências a expressões artísticas que sobrechegam os enredos,
com acepções de Ian Watt (1957) e Marthe Robert (1972). No compósito romanesco de Valter
Hugo Mãe, perscrutamos as pequenas histórias dentro da grande narrativa por meio das
pormenorizações dos narradores à luz de Oscar Tacca (1978) e Walter Benjamin (1936). São
exploradas as personagens em suas relações complexas e situações-limite, considerando a
percepção redimensionada pela distância e especificidades culturais e sociais interpostas pela
geografia inusitada dos romances, sob as contribuições de Antonio Candido (1968), Antonio
Dimas (1985), Mikhail Bakhtin (1975) e Luis Alberto Brandão (2013). A pesquisa põe em relevo
o que está longe da percepção e do olhar, o desconhecido e questões do mundo contemporâneo
em histórias que apesar de profunda dor, reluzem esperança. Tais perspectivas criam abstrações,
exortam movimentos e apresentam sentidos para além do horizonte espacial, segundo reflexões
de Gaston Bachelard (1989) e Maurice Blanchot (1955). A construção desta tese segue sob as
reflexões de Edward Said (2007) e Giorgio Agamben (2008), no que tange aos desafios e
caminhos de vida, singularidades das existências e convivências em um mundo marcado por
assimetrias. São trazidos à baila temas como a morte, o abandono, a solidão, a senilidade, as
opressões e vicissitudes refletindo a dura sobrevivência em um mundo complexo. Estas matérias
que constituem vidas, dilatam mundos e relações de convivência na contemporaneidade, são
refletidas à sombra das elucubrações de Edward W. Said e Giorgio Agamben nos diversos estudos
trazidos nas referências, com aportes de Benjamin Abdala Junior (2002) e David Damrosch
(2003). A análise se efetiva com observações de uma literatura que além de articular os elementos
narrativos em prosa poética é permeada pelo viés humanístico, engendrando temas do mundo
atual, indagando a vida no planeta Terra nesta aurora de século XXI.