A CASA ONDE HABITAM AS POETAS: UM ESTUDO DAS POESIAS DE LUCINDA PERSONA E CONCEIÇÃO LIMA
Poesia contemporânea; Lucinda Persona; Conceição Lima; Poética da casa; Casa-poema.
Esta tese estuda a poesia das escritoras contemporâneas em língua portuguesa Lucinda Persona, da literatura brasileira produzida em Mato Grosso, e Conceição Lima, da literatura produzida em São Tomé e Príncipe. A pesquisa está articulada à percepção de um ostensivo conjunto imagético que é engendrado a partir da figura da casa, um tópico insistente na criação literária de ambas as poetas. Essa constatação impulsiona a tentativa de compreender o persistente propósito de erigir e sublimar a imagem da casa nos universos poéticos de Persona e de Lima. Esse espaço torna-se fonte de valores, de experiências, de reflexões e de sentidos nas escritas em questão. Sendo assim, compreendemos que é necessário destacar as diferentes perspectivas que esse elemento, enquanto elemento poético, mobiliza na poesia dessas autoras. Selecionamos, como corpus, os livros publicados pelas poetas até o início desta pesquisa. De Lucinda Persona, foram sete obras: Por imenso gosto (2018); Ser cotidiano (1998); Sopa escaldante (2001); Leito de acaso (2004), Tempo comum (2009); Entre uma noite e outra (2014); e O passo do instante (2019); de Conceição Lima, três obras integraram o corpus: O útero da casa (2004); A dolorosa raiz do Micondó (2012); e O país de Akendenguê (2011). Neste estudo comparado, que entende a casa como locus onde se articulam outras motivações da poesia das escritoras, cada qual com uma dicção particular, investigamos um conjunto de poemas com base na hipótese de que a casa fundamental a ser erigida é a própria escrita. Como suporte teórico para as análises, recorremos às contribuições de Bachelard (1978), Blanchot (1987), Bosi (1977), Brandão (2007, 2013), Collot (2013), Glissant (2021), Hall (2006), Heidegger (2012), Mata (2006), Melo e Castro (1973), Merleau-Ponty (1999), Ricoeur (2000) e Tuan (1980, 1983), entre outros críticos que colaboraram para o aprofundamento das discussões. Concluímos que as várias imagens da casa revelam um espaço repleto de experiências, de afetos, de concepções e de um patrimônio imaterial, espaço que se constrói e se solidifica pela palavra poética. Trata-se da casa-morada, que registra a presença, a passagem e a permanência do ser.