Interdito do incesto. Maria Firmina dos Reis. Personagens. Literatura.
ESUMO: Nesta pesquisa, propomos a análise da representação do incesto e da violência nas obras Úrsula (1859) e “Gupeva” (1861), de Maria Firmina dos Reis. Úrsula é o romance inaugural da literatura afro-brasileira, de autoria afrodescendente, e “Gupeva” é um conto de cunho indianista, que narra um embate violento entre diferentes raças e culturas, a europeia e a indígena autóctone. As duas obras firminianas, escritas no período escravocrata do século XIX, configuram, através das personagens, relacionamentos parentais incestuosos. O que se pretende analisar diante desse tabu é a persistência na literatura do registro da prática de relacionamentos sexuais e abusivos entre indivíduos consanguíneos, em desprezo às proibições existentes. Nas duas narrativas de Firmina, há marcas de vivências impensáveis, de um ódio exacerbado, com intensas experiências persecutórias, principalmente no que tange às mulheres e à opressão que sofrem. Logo, objetivamos evidenciar o caráter de denúncia e crítica aos padrões oitocentistas que possibilitavam um sistema de comportamento opressor e de violação dos direitos, principalmente das mulheres, dentro desses relacionamentos parentais e matrimoniais a que eram submetidas e, consequentemente, às relações incestuosas. Para fundamentar a análise desta pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, serão utilizados conceitos sobre a personagem de ficção estabelecidos por Antonio Candido (2014), Anatol Rosenfeld (2014), Oscar Tacca (1976), Beth Brait (1985); no que se refere ao incesto e às estruturas elementares do parentesco, teorias propostas por Claude Lévi-Strauss (2012), Sigmund Freud (2019), Laure Razon (2007), Regina Biscaro (2003). Pesquisadores da literatura como José Nascimento Morais Filho (1975), Zahidé Lupinacci Muzart (2018), Eduardo de Assis Duarte (2005), Norma Telles (2008), Luiza Lobo (1993), Constância Lima Duarte (2017), Dilercy Aragão Adler (2014), Lucciani M. Furtado (2017), Algemira de Macêdo Mendes (2016), Regia Agostinho da Silva (2013), Rafael Balseiro Zin (2019), entre outros, acrescem na sustentação das argumentações que tencionamos alcançar.