SILENCIAMENTO E RESISTÊNCIA NAS PERSONAGENS FEMININAS SUBALTERNIZADAS EM O FIO DAS MISSANGAS, DE MIA COUTO
O Fio das missangas; Mia Couto; Silenciamento; Subalternidade; Resistência.
Este trabalho está centrado em uma reflexão crítica e analítica sobre o silenciamento e resistência nas vozes femininas subalternizadas na obra O fio das missangas (2009), do escritor Mia Couto. Como delimitação do corpus e fio condutor das análises e discussões, foram selecionados cinco contos: “O cesto”, “A saia almarrotada”, “A despedideira”, “Os olhos dos mortos” e “Meia culpa, meia própria culpa”, nos quais as personagens femininas ocupam um lugar de destaque ao narrarem as suas histórias, suas perspectivas de vida em relação ao passado, por meio de uma revisitação dolorida desse tempo pretérito pela via da memória, problematizando e ao mesmo tempo questionando um presente, num ato de projeção a um tempo futuro. As
atitudes das personagens femininas denotam uma posição de resistência em meio à condição subalterna que elas desempenham em um espaço de domínio masculino e falocrático. Assim, o foco principal deste trabalho foi refletir sobre o silenciamento que paira nesse ambiente doméstico, em que a mulher está inserida, e ao mesmo tempo discutir sobre a posição de resistência desta, por meio da análise das personagens femininas nos contos escolhidos. Como respaldo de nossa pesquisa buscamos aporte em estudos teóricos contemporâneos para falar da condição social da mulher na sociedade africana e das suas subjetividades com os conceitos de Oyèronké Oyèwúmi (2004, 2021), Nah Dove (1998), Sotunsa Mobolanle Ebunoluwa (2009); e críticos dos estudos culturais e das literaturas africanas de língua portuguesa como: Bhabha (1998), Stuart Hall (2015), Edward Said (2003, 2005), Tania Macêdo (2018), Vera Maquêa (2007, 2010), Ana Mafalda Leite (2013,2020), Abdala Junior (2017), Eclea Bosi (1994), Jacques Le Gof (2013), Michel Polak (1989), dentre outros.