BALADA DE AMOR AO VENTO, NIKETCHE: UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA E O ALEGRE CANTO DA PERDIZ: ENTRE CONFLITOS, PERDÃO E RECONCILIAÇÃO
Escrita literária de autoria feminina em Moçambique. Paulina
Chiziane. Encarceramento feminino. Protagonismos femininos.
O cenário literário moçambicano esteve em consonância com o contexto histórico nacional durante muitos anos, dando visibilidade apenas à escrita masculina. No entanto, essa realidade gradativamente tem tomado outras direções, uma vez que a mulher delineia um novo caminho que a conduz para um espaço de fala e permite que suas insatisfações com relação às condições impostas a elas sejam colocadas em pauta. Paulina Chiziane é uma dessas mulheres que ousa ultrapassar a fronteira que pretende limitar o acesso da mulher à educação formal, às letras e, portanto, a vivências mais libertárias. Intentamos comprovar nesta pesquisa a hipótese de que em seus romances Balada de amor ao vento (2016), Niketche: uma história de poligamia (2004) e O alegre canto da perdiz (2018), a escritora problematiza as questões culturais e de gênero, fragilizando a soberania masculina e, simultaneamente, propõe a possibilidade de convivências menos conflituosas entre os/as moçambicanos/as, por meio do perdão e da reconciliação. Para isso, Chiziane projeta nas personagens femininas um devir-mulher disruptivo que se constrói a partir do momento em que estas ultrapassam o limite do espaço doméstico e se lançam no espaço público, como fez a própria escritora. Para sustentar as nossas reflexões, buscamos aporte crítico e teórico em Michel Foucault (1998), Helleieth Saffiot (1987), Pierre Bourdieu (2017), bell hooks (2020), María Lugones (2020), Patricia Hill Collins (2020), Maria Nazareth S. Fonseca (2006), Laura Cavalcante Padilha (2006), Ana Rita Santiago (2019), dentre outros/as.