A LITERATURA SURDA: VEREDAS DA HUMANIZAÇÃO E DA LIBERDADE ESTÉTICA EM QUESTÃO
Literatura surda, Literatura infanto-juvenil, Experiência estética, Humanização, Discurso utilitário
As questões ligadas à cultura e à identidade surdas têm sido frequentes dentro das pesquisas dos Estudos Culturais, afunilando para os Estudos Surdos, onde localizamos alguns artefatos da cultura surda e, entre eles, a literatura surda. Visto que a criança surda também tem o direito a fabular em um universo que lhe cause identificação, surgem as narrativas que apresentam protagonistas com identidade surda e que usam a língua de sinais como sua principal forma de comunicação. A presente pesquisa objetiva analisar duas obras da literatura surda voltadas a crianças e impressas em língua portuguesa, sendo elas Cinderela Surda (HESSEL, ROSA; KARNOPP, 2007), ocupando um papel de pioneirismo no gênero, e A fábula da Arca de Noé (MOURÃO, 2014), publicada mais recentemente. Buscamos investigar como se dá a experiência estética nas obras analisadas, vislumbrando a literatura na perspectiva de Candido, como elemento humanizador que interfere na formação do homem. Observamos também se a necessidade de promover a identidade e cultura surdas à criança acabou por delinear a obra de acordo com os padrões utilitários, sendo que este foi o caminho pelo qual passou a literatura infantil brasileira em seu período de formação. Percebemos que algumas escolhas presentes na constituição da primeira obra, como a urgência em avisar o leitor que a personagem é surda, não se repetem na segunda, o que nos indica uma gradativa abertura a novas possibilidades estéticas e de representação do sujeito surdo. A partir do que levantamos nesta pesquisa, pudemos perceber que a literatura surda encontra-se em fase inicial de formação, e que tais obras são essenciais para a constituição e fortalecimento de um segmento literário que ainda busca trilhar as veredas da humanização, mas que ainda apresenta limitações em relação à liberdade estética. Para isso tomamos como basilares as contribuições de Antonio Candido (1993; 2004; 2012; 2014), somadas a de outros críticos da literatura como Edmir Perrotti (1986), Aroldo Pinto (2008; 2014), Regina Zilberman (2003), Marisa Lajolo e Regina Zilberman (1986; 2001; 2007). Dos Estudos Surdos contamos com Cláudio Mourão (2011; 2016), Lodenir Karnopp (2006; 2008; 2010), Karin Strobel (2018), Rachel Sutton-Spence (2006) e Carlos Skliar (2015).