HISTÓRIAS DE LEITURA DE MULHERES EM SITUAÇÃO CARCERÁRIA
histórias, leitura, mulheres, conhecimento, alunas, privação de liberdade
Trata-se de uma pesquisa que investiga as práticas de leitura de mulheres – alunas da Escola da Penitenciária Ana Maria do Couto May- MT, portanto, em meio às adversidades. O estudo nos impele a refletir sobre as histórias de leitura rememoradas pelas alunas participantes da pesquisa, no tempo presente, para, assim, compreender suas histórias, sentidos e significados que, em contexto de adversos – cumprindo pena –, daquela instituição dão às leituras ali realizadas. Tendo como objetivo mais amplo da pesquisa, compreender e verificar as histórias, sentidos e significados da leitura que as mulheres em contextos de crise dão às leituras realizadas em situação carcerária, e específicos – observar os fatores que reforçam ou limitam as práticas de leitura no espaço prisional; observar como a leitura auxilia no processo de subjetivação das entrevistadas; conhecer quais são os textos que ajudam a viver em tempos complexos. Embora a leitura seja reconhecida como um direito fundamental, nos deparamos com a problemática instalada em grande parte de nossa sociedade, a exemplo da baixa circulação da cultura escrita nas instituições familiares, escolares, e instituições prisionais e a escassez de programas de leituras e mediadores da prática leitora. Bem como a ausência de bibliotecas nas escolas entre outros espaços – a exemplo da prisão. Nesse quadro, nos valemos de abordagens metodológicas que coadunam com o estudo, em especial, a abordagem qualitativa do tipo etnográfico, proposta por Michèle Petit, ligada à antropologia da construção do sentido – inerente ao exercício da leitura. Com o intuito de responder à proposta da coleta de dados, lançamos mão da História Oral como “método”, a qual é “usada como a solução mais acabada de prática científica, valorizando as entrevistas, com atenção essencial aos estudos, centralizando-os como ponto central, privilegiado, básico das análises” das alunas ora socialmente em confronto com a lei (Meihy e Holanda, 2020), assim como buscamos subsídio nos estudos de Petit (2010) que investiga a arte de ler em contextos de adversos, assim como em autores que reconhecem a leitura como uma prática cultural e social ligada à história dos leitores, a exemplo de Chartier (1988) e Horellou-Lafarge e Segré, ligadas a sociologia da leitura (2010). Nesse universo, pudemos observar que as alunas entrevistadas leem, para além do conhecimento almejado por elas, em busca de novos sentidos e significados por meio de apropriações singulares dos livros por elas lidos, o que, em tempos difíceis, conforme Petit (2010), pode contribuir para a reconstrução de si, adquirindo forças para “costurar a tristeza” e resistir à diversidade.