Efeitos do fogo sobre os serviços ecossistêmicos de provisão para o Povo Kuikuro do Xingu
Palavras-chave: incêndios florestais, mudanças climáticas, serviços ecossistêmicos, uso indígena das espécies arbóreas
O território indígena do Xingu, no sul da Amazônia abriga uma vasta biodiversidade e desempenha papel fundamental no sequestro de carbono, além de apresentar grande diversidade cultural dos povos indígenas. No entanto, esses territórios enfrentam ameaças crescentes devido às mudanças climáticas e à expansão agrícola, que intensificam a frequência de incêndios florestais e a degradação das florestas. Este estudo foi realizado na aldeia Afukuri, localizada no Parque Indígena do Xingu (TIX), e buscou avaliar os impactos dos incêndios sobre as espécies arbóreas e suas utilidades para o povo Kuikuro. Realizamos inventario da vegetação arbórea, com diâmetro mínimo de inclusão de 10 cm, em 32 parcelas de 10 x 10 m. As parcelas foram distribuídas em áreas de floresta (20 parcelas) e savana (12 parcelas). Registramos o diâmetro e altura para cada indivíduo e os tipos de uso da espécie para os indígenas (alimentação, planta medicinal, artesanato/construção). Além disso, avaliamos com o uso de produtos de sensoriamento remoto, o número de vezes que cada parcela foi queimada, informações de altitude e inclinação do terreno, além de informações de solo (pH, teor de argila e densidade). Os resultados indicaram um total de 91 espécies amostradas, com 40 espécies no cerrado e 56 na floresta. Na floresta, 6.3% das espécies são uteis para alimentação, 9.1% como planta medicinal, e 17.3% para artesanato/construção. Na savana, estas proporções foram 5.4%, 11.8%, e 3.6%, para alimentação, planta medicinal, e artesanato/construção, respectivamente. A composição de espécies variou significativamente entre os dois ambientes, sendo mais influenciada pelo teor de argila e a frequência de incêndios no Cerrado. Para o ambiente de floresta, a densidade do solo e inclinação do terreno foram mais importantes. A densidade de indivíduos foi maior na floresta (1.355 ind/ha) do que no Cerrado (1.041,67 ind/ha), e a área basal também foi mais expressiva na floresta. Análises de regressão revelaram que a porcentagem de espécies úteis para alimentação, construção e remédios para povo Kuikuro diminui com o aumento dos incêndios, afetando diretamente a segurança alimentar e subsistência da comunidade. Esses resultados são fundamentais para estratégias de manejo e conservação das espécies úteis para a comunidades indígenas do Xingu e na manutenção dos serviços ecossistêmicos essenciais oferecidos pelo Cerrado e pela Amazônia.