Banca de DEFESA: Vinicius de Freitas Silgueiro

Uma banca de DEFESA de MESTRADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE : Vinicius de Freitas Silgueiro
DATA : 16/09/2025
HORA: 15:00
LOCAL: Cáceres
TÍTULO:

CORREDOR BIOCULTURAL NA RESERVA DA BIOSFERA DO PANTANAL: CARACTERIZAÇÃO, OCORRÊNCIA DE INCÊNDIOS E UMA ABORDAGEM DE GESTÃO TERRITORIAL


PALAVRAS-CHAVES:

Incêndios, mudança de uso da terra, mudanças climáticas, áreas úmidas, Pantanal.


PÁGINAS: 74
RESUMO:

O presente trabalho visa caracterizar um corredor biocultural sob influências dos rios Cuiabá e Paraguai, na Reserva da Biosfera do Pantanal (RBPA), em Mato Grosso, conforme apresentado no Capítulo 1. Já no Capítulo 2, o trabalho busca evidenciar os incêndios ocorridos nesse corredor entre os anos de 2020 e 2024. As considerações finais abordam o potencial desse corredor biocultural para uma gestão estratégica e compartilhada dos desafios a serem enfrentados e soluções a serem implementadas na região. A RBPA tem importância global, por contemplar a maior área úmida contínua do Planeta. O título de RBPA, conferido pela UNESCO, objetiva assegurar a conservação e uso da biodiversidade em regiões com grande valor ecológico, econômico e social, no mundo. Em Mato Grosso, mais de 90% da RBPA está inserida na Bacia do Alto Paraguai (BAP), limitada por chapadas e serras, tendo a oeste a planície alagável identificada como Pantanal. Ao mesmo tempo em que representa um território de extrema importância para diversidade biológica e regime hidrológico, o Pantanal também apresenta uma riqueza e complexidade sociocultural ímpar. Essa ocupação não é apenas um registro de presença humana no Pantanal, mas um testemunho da capacidade de adaptação e coexistência desses povos com as dinâmicas naturais da região, em que os saberes tradicionais e práticas culturais tem papel essencial na manutenção da biodiversidade e na gestão sustentável dos recursos naturais. O contexto socioambiental histórico no Pantanal é complexo, desafiador e permeado por conflitos relacionados ao uso e ocupação da terra, com destaques para a disputa por terra e água, impactos por empreendimentos hidrelétricos e de mineração, desmatamento, incêndios e uso abusivo de agrotóxicos decorrentes das práticas de uso agropecuário. Nos últimos anos, especialmente entre 2020 e 2024, incêndios arrasaram quase a metade da totalidade do bioma Pantanal. Em contextos como esse, de elevada heterogeneidade ambiental e diversidade cultural, estudos e iniciativas tem ressaltado o potencial da abordagem de corredores bioculturais. Um corredor biocultural pode ser definido como uma região em que a natureza e a cultura estão intrinsicamente ligadas. A proposta de desenvolver uma estratégia de planejamento e gestão territorial com ênfase especial na abordagem de corredores bioculturais como salvaguarda dos bens comuns da natureza e das comunidades pode ser um passo bem-sucedido para a conservação dessa região da Reserva da Biosfera do Pantanal. A delimitação do recorte territorial desse corredor biocultural pode ser complementada e contemplar um exercício de cartografia participativa e social, em um processo dinâmico que busque construir consensos e soluções que beneficiem tanto a biodiversidade quanto sociodiversidade. Os resultados mostraram que a área do corredor contempla 4,9 milhões de hectares e conecta cinco unidades geomorfológicas: chapada, patamares, depressões, planície inundável e serras. Está inserida na Unidade hidrológica Paraguai, envolvendo parte do rio Paraguai e grande porção do rio Cuiabá, com suas nascentes, no bioma Cerrado. O mapeamento das áreas prioritárias para conservação da biodiversidade mostrou áreas com muito alta e extremamente alta importância para conservação, incluindo quatro tipos de sítio reconhecidos pela Unesco: a Reserva da Biosfera, três sítios Ramsar, um Patrimônio Mundial da Humanidade e uma proposta de Geoparque da Chapada dos Guimarães em andamento. Em consequência, a região apresenta trinta Unidades de Conservação. Na perspectiva cultural, a região é ocupada por povos indígenas, das etnias Bororo e Guató, quilombolas, comunidades tradicionais e da agricultura familiar. Forças motrizes na RBPA, como a agricultura e pecuária de larga escala, a mineração, as hidrelétricas e a especulação fundiária tem causado pressões com o desmatamento, incêndios, contaminação por agrotóxicos, mercúrio e assoreamento dos rios. O arco do corredor biocultural sob influência dos rios Cuiabá e Paraguai, na Reserva da Biosfera do Pantanal, apresenta uma conformação geomorfológica complexa que resulta numa diversidade ecossistêmica que sustenta uma rica biodiversidade e, ao mesmo tempo, fornece a base para a subsistência, o conhecimento e a identidade cultural dos povos e comunidades tradicionais presentes nesse corredor, tornando a conservação dessas paisagens geomorfológicas um imperativo biocultural. Os incêndios de 2020 a 2024 impactaram 4 milhões de hectares nesse corredor, com 56% de sua área queimando ao menos uma vez nesse período. A área média anual atingida pelo fogo nesse período foi de 808 mil hectares, o que equivale a 16,5% da área total do corredor biocultural (4 milhões de hectares) sendo afetada anualmente pelas queimadas e incêndios. A categoria de maior incidência de incêndios foi a de imóveis rurais privados cadastrados, onde ocorreram praticamente 60% das áreas atingidas pelo fogo no período de 2020 a 2024. As unidades de conservação foram a segunda categoria mais afetada pelo fogo no período 2020 a 2024 no corredor biocultural (22,97%). Os impactos para a população que vive nos assentamentos rurais e terras indígenas, bem como nas áreas urbanizadas presentes no corredor biocultural foram enormes. 92,1% da área queimada foram áreas de formação natural, sendo elas formações florestais (22,88%), savânicas (25,18%), campestres (22,07%), campos alagados e áreas pantanosas (17,22%) e de vegetação em cursos d’água e lagos que secaram (4,61%). Os outros 7,9% afetados foram em áreas de uso antrópico, principalmente ocupadas por pastagens (6,74%). O cenário de áreas afetadas pelo fogo nos últimos anos nesse corredor biocultural representa a atual urgência para ações de prevenção e mitigação frente a ocorrência dos incêndios. São ações que estrategicamente devem ser articuladas e implementadas de forma integrada por diversos atores. No contexto da Reserva da Biosfera do Pantanal, ao focar em um conjunto reduzido de municípios ou sub-bacias, os corredores bioculturais se tornam mais manejáveis, participativos e eficientes, facilitando a integração entre a conservação ambiental e a valorização cultural no cotidiano das pessoas que vivem e cuidam desses territórios. Essa abordagem pode potencializar práticas extremamente promissoras para a gestão do fogo na Reserva da Biosfera do Pantanal, especialmente diante da intensificação das secas e do aumento das ocorrências de incêndios. Ressaltamos assim a implementação de corredores bioculturais como estratégia para proteger o Pantanal da devastação pelos incêndios, ao reconhecer e integrar os saberes e práticas ancestrais das comunidades ao manejo e gestão do bioma.


MEMBROS DA BANCA:
Presidente - 84207007 - CAROLINA JOANA DA SILVA
Interno - 66972005 - JOSUE RIBEIRO DA SILVA NUNES
Externo à Instituição - DAMIEN ARVOR - CNRS
Notícia cadastrada em: 11/09/2025 17:04
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