PERMISSÕES E INTERDIÇÕES: EDUCAÇÃO E RELAÇÕES DE GÊNERO EM ASSENTAMENTOS RURAIS NA FRONTEIRA BRASIL-BOLÍVIA.
Educação. Relações de Gênero. Território. Assentamentos Rurais.
A presente dissertação configurou-se em uma investigação na área da educação, no campo temático dos estudos de gênero com as camponesas e os camponeses dos assentamentos rurais localizados na fronteira Brasil-Bolívia, no município de Cáceres-MT. O problema de pesquisa consistiu em compreender: como são constituídas as práticas educativas concernentes aos processos generificadores nas relações sociais entre mulheres e homens em assentamentos rurais? O objetivo geral foi analisar os processos educativos generificadores de mulheres e homens (o permitido e o interditado) em suas relações sociais no/do campo na Fronteira Brasil-Bolívia. O embasamento teórico assentou-se nos conceitos de território e fronteira pelos autores Saquet e Gallo (2010); Ferreira e Suttana (2012); García (2017); Haesbaert (2020). Educação do Campo nas autoras Caldart (2008, 2010); Molina e Freitas (2011). Ao longo da dissertação procurou-se tecer um diálogo com os conceitos de Divisão Social e Sexual do Trabalho pelas autoras Rua e Abramovay (2000); Kergoat (2009); Korol (2016); Federici (2018). Gênero e patriarcado com as autoras Scott (1995); Louro (1997, 2001, 2008); Hooks (2017, 2019); Tiburi (2018). O caminho metodológico seguiu pela abordagem de pesquisa qualitativa conforme Minayo (1994) e pelo tipo de pesquisa descritivo com base em Gil (2008). Foi realizada uma pesquisa de campo e, a respeito da técnica de coleta de dados, adotamos a entrevista semiestruturada com camponesas/es que vivem e (re)existem no território de assentamentos da fronteira Brasil-Bolívia. Como estratégia de enfrentamento ao contexto pandêmico da COVID-19, construímos a amostragem de pesquisa pela técnica snowball (VINUTO, 2014). O trabalho de campo se constituiu pelas entrevistas com 11 camponesas/es, sendo 8 mulheres e 3 homens, por meio da plataforma Google Meet, e o procedimento analítico se deu pela análise de narrativa (DUARTE, 2004). Desse modo, identificamos que esse campo se configura como um território de reprodução e de resistência camponesa. Os resultados indicam que há divisão e diferenciação entre os gêneros, em que o trabalho na casa é designado para as mulheres e o trabalho na roça atribuído aos homens. Reconhece-se que existem mulheres presentes nas funções da roça, porém seu trabalho é visto como “ajuda” ao homem e extensão do trabalho doméstico, consequentemente não remunerado. Essas distinções também perpassam as relações estabelecidas dentro das escolas e dos espaços de lazer dos assentamentos, através de visões naturalizadas sobre as relações de gênero que invisibilizam as mulheres. O estudo procurou questionar essas estruturas de poder limitantes estabelecidas e propõe o diálogo sobre a temática nos espaços de formação e educação. A educação comporta o potencial de intercâmbio de diferentes olhares, de novas aprendizagens no caminho de transpassar, talvez transcender, fronteiras de pensamentos e práticas dadas como definitivas e excludentes. Percebeu-se o protagonismo das/os participantes da pesquisa, além das perguntas provocarem a reflexão delas/es sobre a questão, elas/es tiveram o compromisso de trazer outras pessoas para responder a pesquisa, evidenciando-se a necessidade de dialogar mais sobre o tema com a escola, com a comunidade e com a sociedade, no sentido de reconhecer e valorizar as pessoas, principalmente, as mulheres daquele território.