RISCO AMBIENTAL DOS INSETICIDAS APLICADOS NO ESTADO DE MATO GROSSO E O USO DE BACTÉRIAS ENTOMOPATOGÊNICAS COMO ESTRATÉGIA PARA O MANEJO DE PERCEVEJO-PRAGA NA SOJA
IRA, Percevejo-marrom, Unidades Formadoras de Colônias, Associação de produtos, Pseudomonas fluorescens+Pseudomonas chlororaphis.
Euschistus heros (Hemiptera: Pentatomidae), comumente denominado de percevejo-marrom, é considerado praga-chave da cultura da soja, devido aos danos causados nas vagens e grãos. Atualmente, o seu manejo é fundamentado, quase que exclusivamente, na pulverização de inseticidas químicos. Por conseguinte, emerge a preocupação quanto ao risco ambiental desses defensivos, que pode ser estimado através de determinadas ferramentas como o Índice de Risco Ambiental (IRA). Ademais, também é evidente, nos últimos anos, a aplicação de microrganismos entomopatogênicos (bactérias, fungos e vírus) associados com agrotóxicos, tencionando minimizar reentradas na lavoura. Todavia, dados da compatibilidade dessas associações são escassos, sobretudo, no controle de E. heros. Desse modo, o presente trabalho objetivou: estimar o IRA dos principais inseticidas utilizados no controle de percevejo-praga na cultura da soja, em Mato Grosso e, avaliar a toxicidade da associação de bactérias entomopatogênicas e produtos fitossanitários registrados para a cultura supracitada, no manejo de E. heros. Os dados dos ingredientes ativos (i.as.) mais comercializados para o manejo de percevejo-praga na soja, no ano de 2022, foram coletados junto ao Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (INDEA-MT). As características físico-químicas dos princípios ativos foram obtidas na base Pesticide Properties Database (PPDB) da Universidade de Hertfordshire. Os parâmetros utilizados para calcular o IRA foram: persistência, lixiviação, volatilização, perfil toxicológico e dose. No teste de compatibilidade in vitro, foram avaliados 24 produtos fitossanitários associados com Pseudomonas fluorescens+Pseudomonas chlororaphis, enquanto, no teste de calda, foram simuladas sete caldas, com base nas aplicações dos sojicultores da região. A compatibilidade foi determinada através da contagem de unidades formadoras de colônias (UFCs) e medição do diâmetro de colônia (cm). As associações consideradas compatíveis foram usadas nos bioensaios in vivo com ninfas de 3° ínstar e adultos (fêmeas) de E. heros. A partir dos resultados obtidos, constatou-se que no ano de 2022 foram comercializados 11.612.956 kg de inseticidas químicos para a soja, com o i.a. acefato representando ≅33,18% desse volume (3.853.687 kg). Quanto ao IRA, o índice mais alto foi observado para o neonicotinoide imidacloprido (IRA=12), enquanto, o menor valor foi constatado para o organofosforado acefato (IRA=5) e a sulfoxamina sulfoxaflor (IRA=5). Nos bioensaios in vitro, dos 24 produtos avaliados, apenas Beauveria bassiana e indoxacarbe foram compatíveis para P. fluorescens+P. chlororaphis. Em relação às caldas, todas foram incompatíveis, inibindo o crescimento das bactérias em estudo. Nos testes in vivo, a combinação de P. fluorescens+P. chlororaphis + indoxacarbe mostrou-se a mais eficiente no controle de ninfas de 3° ínstar, além de reduzir, significativamente, os parâmetros de fertilidade e fecundidade em adultos. Perante tais resultados, espera-se que a estimativa do IRA forneça subsídios para a seleção de i.as. com baixa toxicidade, de maneira a minimizar os impactos negativos advindos de pulverizações indevidas, além disso, ficou evidente nos bioensaios, que não é segura a recomendação da associação entre P. fluorescens+P. chlororaphis e herbicidas/fungicidas/adjuvantes, posto que essas foram altamente tóxicas aos microrganismos. Por fim, conclui-se que o i.a. indoxacarbe pode ser aplicado em mistura com bactérias do genêro Pseudomonas no manejo do percevejo-marrom da soja.