ESTUDO SEMÂNTICO-FUNCIONAL DA PALAVRA RANÇO NORTEADO PELA TEORIA DAS OPERAÇÕES PREDICATIVAS E ENUNCIATIVAS
Linguagem, ranço, sentido, invariância, gíria
Esta dissertação de mestrado se concentra na área de Estudo de Processos Linguísticos, Linha de Pesquisa Estudo de Processos de Significação, do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Linguística (PPGL), da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Nossa pesquisa visou uma descrição linguístico-enunciativa da unidade linguística ‘ranço’, do português brasileiro, que tem sido considerada uma gíria para designar, a partir de um aparente empréstimo de sentido, em contextos específicos, ‘repulsa’ a algo ou de alguém. Nesse cenário, o problema que colocamos é que não se sustenta a hipótese de que a gíria, enquanto um desvio do padrão, toma emprestado um semantismo estável de uma unidade (um ponto de partida de significação) e dele cria valores aproximados (pontos de deformação de significação). Isso para mostrarmos que a distinção que poderia propor uma semântica clássica entre o que se tem como valor descritivo (ranço de doce de leite, por exemplo) e valor subjetivo (ranço de pessoas mal humoradas, por exemplo) se despolariza quando é para o sentido brotado no enunciado que olhamos. A investigação se inscreveu na perspectiva teórica fundamentada nos escritos e nas aulas de Antoine Culioli, fundador da Teoria das Operações Predicativas Enunciativas (TOPE) para que se cumprissem os seguintes objetivos: (i) descrever o funcionamento semântico-enunciativo da unidade lexical ‘ranço’ como contribuição à linguística enunciativa; (ii) identificar as regularidades e os princípios capazes de gerar a variação de sentido de ‘ranço’ em situação enunciativa, (iii) formalizar a variação de sentido de ‘ranço’ a partir de um conjunto de enunciados, (iv) revisitar, criticamente os principais estudos sobre a gíria no português brasileiro. Metodologicamente nos apoiamos em conceitos operatórios da TOPE, como a atividade de parafrasagem (desambiguização) e a elaboração de forma esquemática. Para a coleta de material de análise, selecionamos 50 enunciados extraídos de fontes diversas: redes sociais, plataformas de dados português, etc.