A POLÍTICA DE AVALIAÇÃO DA REDAÇÃO DO ENEM: A CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM E O EFEITO LEITOR-ESCRITOR “IDEAL”
Avaliação; concepção de língua(gem); ENEM; escrita; sujeito-avaliador.
Este trabalho de tese está inscrito na linha de pesquisa Estudo de Processos Discursivos do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Linguística da UNEMAT, e se propõe a analisar discursivamente a concepção teórica de língua(gem) que subsidia a política de avaliação dos textos redacionais do ENEM, como também a projeção imaginária de língua, de sujeito-avaliador e de sujeito-candidato à prova. A perspectiva teórica em que nos inscrevemos é a Escola Francesa de Análise de Discurso, conforme reflexões de Michel Pêcheux, Eni Orlandi e demais pesquisadores em Análise de Discurso no Brasil. Mobilizamos os conceitos teóricos de condições de produção, formação discursiva, formação imaginária, gestos de interpretação e subjetividade, noções pelas quais empreendemos um trabalho de reflexão sobre a concepção teórica de língua(gem), que norteia a política de avaliação da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), buscando compreender o funcionamento do discurso do Programa e os efeitos de sentido inscritos na prática de avaliação do texto. O corpus constituiu-se de recortes das Portarias nº 438/1998, nº 109/2009 e nº 807/2010; recortes do Guia do Participante do ENEM/2013 e do Manual de Capacitação para Avaliação das Redações do ENEM/2013. Observamos, pelo discurso da Lei, a projeção imaginária no gesto de leitura do sujeito-avaliador, interpelado pela concepção teórica de língua e de linguagem da prova, o que nos fez questionar o parâmetro de avaliação da escrita do ENEM, pois entendemos que os sentidos, na linguagem, não se fecham em uma área dominante, pela inscrição teórica. Mostramos que não há leitura linear/unívoca, do mesmo modo que não há uma forma-sujeito leitor-escritor ideal (ORLANDI, 2012d, p. 62); o que se tem são maneiras distintas de incisão na materialidade linguística, pois diante do texto o olhar-leitor ‘flagra’ os sentidos e assim a questão fulcral foi pensarmos no lugar da interpretação, na avaliação do texto, sem neutralizá-la em um espaço lógico, com pretensão universal. (PÊCHEUX, 1999). Além disso, este estudo nos fez compreender que a política de avaliação da escrita do ENEM ‘desenha’ uma política de língua que, por sua vez, reverbera na teoria linguística ‘eleita’ para ser praticada na escola, fazendo funcionar o imaginário de leitura e de escrita nas políticas de ensino de língua e nas concepções de linguagem que dão sustentação e legitimam as práticas linguísticas. Assim, destacamos a relevância e a contribuição desta pesquisa para o âmbito dos estudos da linguagem, sobretudo, para os leitores que se voltam a pensar em questões relacionadas à formulação das políticas de avaliação da escrita e nos efeitos de sentido que nelas se engendram. Avaliação, língua e linguagem, sujeito, leitura e escrita, eis o fio condutor.