ENSINO DE LÍNGUAS NA REGIÃO DE FRONTEIRA: UMA ANÁLISE DOS PROCESSOS DE SILENCIAMENTO E DE PRODUÇÃO DE SENTIDOS
Ensino de línguas; Fronteira; Políticas públicas; Diversidade de línguas; Análise de Discurso.
A presente tese filia-se a linha de pesquisa Estudos de processos discursivos, na área de concentração: Estudo de processos linguísticos, e tem por objetivo compreender os processos de silenciamento e de produção de sentidos, nas políticas públicas de ensino para a educação básica e nos discursos das assessoras pedagógicas de dois municípios de fronteira da região Oeste do Estado de Mato Grosso. Lançamos um olhar para as textualidades das políticas públicas e os discursos coletados por meio de um questionário enviado às assessoras pedagógicas dos municípios de Cáceres e de Porto Esperidião, municípios que fazem fronteira com a Bolívia, lócus da pesquisa. Nos inscrevemos no âmbito da História das Ideias Linguísticas, articulada à Análise de Discurso de linha materialista, formulada por Pêcheux e outros pesquisadores, na França, e desenvolvida, inicialmente, por Eni Orlandi, no Brasil, para analisar o corpus, compreendendo o discurso enquanto objeto simbólico que produz sentidos. Olhamos para o material de análise considerando as condições de produção dos discursos dos sujeitos participantes, a relação que os dizeres estabelecem com outros discursos, especialmente com as políticas de ensino de línguas, para observarmos o processo discursivo em funcionamento. A diversidade linguística no espaço enunciativo da fronteira requer um ensino que considere o processo de subjetivação do aluno ao invés de negá-lo e silenciá-lo e o embate com as outras línguas, ocorre, também, e fortalece as misturas das várias línguas praticadas na região surgindo uma forma ímpar de usos da língua. Percebemos em nossa pesquisa que o Estado produz, pelo poder legislador, uma injunção à interpretação e ao pensar políticas para os imigrantes, provoca a desigualdade, pois não avança quando o imigrante adentra o ambiente escolar, já que as práticas cotidianas nas escolas o fazem um aluno invisível na falta de políticas que de fato atendam às questões de línguas impostas na fronteira. Os sujeitos bolivianos ou descendentes de bolivianos, ou ainda, os chiquitanos – descendentes de indígenas - individuados pelo Estado são assujeitados a partilhar na escola brasileira a língua nacional do Brasil, num processo de apagamento das línguas praticadas em território boliviano.