O que dizem sobre as mulheres? O funcionamento discursivo da metáfora em diferentes materialidades significantes.
Discurso. Mulher. Chiste. Efeitos metafóricos. Misoginia.
A pesquisa se inscreve na linha de pesquisa Estudos dos Processos Discursivos e tem como objetivo a compreensão do funcionamento discursivo e os efeitos de sentido dos marcadores linguísticos no/do discurso sobre a mulher e a naturalização da violência. Intitulado como “O que dizem sobre as mulheres? O funcionamento discursivo da metáfora em diferentes materialidades significantes”, o trabalho deseja compreender o modo como a repetição dos marcadores linguísticos: é igual, é como, mas, e produzem efeitos de sentido sobre a mulher em diferentes textualidades. Selecionamos os seguintes recortes discursivos para a análise: “É IGUAL”: “Mulher É IGUAL a pênalti mal batido: um chuta, outro pega.” “Mulher É IGUAL macarrão, agente enrola, enrola e come.” (sic). “Mulher É IGUAL caminhão só funciona com homem em cima.” “É COMO”: “Mulher É COMO CD, por causa de uma parte boa a gente tem que ficar com o resto”. “Mulher É COMO pernilongo. Só sossega com um tapa”. “Mulher É COMO vinho: Tem que manter na horizontal, no escuro e com rolha na boca”. “MAS”: “Prima é igual pizza fria: dizem que faz mal, MAS mesmo assim a gente come.” “Lenha verde e mulher véia, chora, MAS pega fogo”. (sic). "Solteira sim, sozinha nunca". Tradução: Todos me comem, MAS ninguém me assume". “E”: “Passado de mulher E cozinha de restaurante, quem conhece, não come”. “A mulher E a cereja: para seu mal se enfeita”. (sic). “A mulher E a mula, o pau as cura”. (sic). Essas formulações circulam em para-choques de caminhões, bares e restaurantes à beira de estradas, veículos e transportes de trabalhadores braçais, internet e outros, se apresentando como ditados de humor, por provocarem o riso e classificarem-se como piadas, segundo o imaginário social. Para o trabalho nos valemos das noções de condições de produção, memória discursiva, efeitos de sentido e metáfora. A análise permitiu compreender que os marcadores linguísticos ancoram determinados sentidos, por suas propriedades sintáticas já definidas, contudo, ao mesmo tempo, apresentam deslizamentos de sentidos quando postos em relação a outros dizeres sobre a mulher na/da história. Na tensão entre o chiste e a violência, os efeitos metafóricos produzidos dão visibilidade a sentidos pejorativos e misóginos sobre as mulheres.