ASPECTOS FONÉTICOS/FONOLÓGICOS NA FALA DO ALTO PANTANAL: UMA ABORDAGEM HISTÓRICA
Língua Portuguesa, Sociolinguística, Variação Linguística, Falar Nativo.
Este estudo sociolinguístico de natureza histórico-descritiva tem como objetivo não só descrever, mas, sobretudo, investigar os fatores sócio-histórico-culturais, linguísticos e extralinguísticos que justificam/contribuíram a/para a preservação, em pleno século XXI, de dois traços linguísticos característicos do português arcaico, presentes na fala da comunidade de Cáceres-MT: a permuta da terminação nasalizada do ditongo decrescente -ão [ãw] para [õw~õ]: “pão” > ['põw~'põ], “solução” > [solu'sõw~solu'sõ]; e a realização das consoantes africadas surda [ʧ] e sonora [dʒ]: “chão” >['ʧõw], “janela” > [ʤa'nɛla], “gelo” > ['ʤelo/ʊ], no lugar das consoantes fricativas pré-palatais surda [ʃ] e sonora [ʒ]: “chão” > ['ʃãw] e “gelo” > [ʒ'elo/ʊ]. Fato que as diferencia das africadas das demais regiões brasileiras - Sudeste, Norte e Nordeste – onde elas se manifestam como africadas alveopalatais surda [ʧ] e sonora [dʒ] na pronúncia das oclusivas alveolares t/d seguidas da vogal i (oral ou nasal): “tia” > ['ʧia], “tinta” > ['ʧĩta], “dia” > ['ʤia] e, em alguns casos quando diante da vogal átona final /e/: “trote” > ['trɔʧɪ], “onde” > ['õʤɪ]. Ou como as ‘africadas baianas’ que ocorrem nos decursos –it- e –id- do português padrão, em que, frequentemente, desaparece o segmento condicionador /i/, como em “muito” > ['muʧu], “oito” > ['oʧu]. Essas variantes, incomuns no Brasil, por isso desconhecidas pela maioria dos brasileiros. Mas, segundo os migrantes, são identificadoras do falar nativo da cidade de Cáceres, um dos quatro municípios que compõem a Microrregião do Alto Pantanal do Estado de Mato Grosso