AUTOETNOGRAFIA DE AFETOS FRONTEIRIÇOS EM GUAJARÁ-MIRIM: SINAIS TOPONÍMICOS EM LIBRAS À LUZ DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL
Toponímia; Libras; Línguas de sinais; Autoetnografia; Fronteira.
Esta tese insere-se na linha de pesquisa Estudos de Processos e Práticas Sociais da Linguagem, do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), e tem como objetivo geral produzir uma cartografia dos afetos fronteiriços de sujeitos surdos na fronteira Brasil-Bolívia, por meio de uma autoetnografia que evoca e registra sinais toponímicos correspondentes aos bairros da cidade de Guajará-Mirim (RO), localizada na fronteira com Guayaramerín, na Bolívia. A partir dessa abordagem autoetnográfica e dos registros toponímicos em Libras, busca-se analisar a importância dos léxicos para o desenvolvimento linguístico, cultural e educacional de pessoas surdas que vivem em contexto fronteiriço, compreendendo como esse espaço geopolítico afeta a relação entre ser surdo e ser educador. Adota-se um olhar transdisciplinar para identificar confluências entre os estudos em Onomástica e a teoria histórico-cultural, a fim de evidenciar a relevância da nomeação e do registro em línguas de sinais como instrumentos de intervenção e transformação do meio social, entendidos aqui como elementos compensatórios no processo de desenvolvimento humano de sujeitos surdos. O estudo culmina na elaboração de uma cartilha didática, destinada à disseminação dos léxicos toponímicos em Libras no âmbito escolar, na comunidade acadêmica e entre familiares de surdos. A metodologia fundamenta-se nos Estudos Pós-críticos, em diálogo com os Estudos Culturais, sendo a autoetnografia o principal procedimento de produção, coleta e análise de dados. A fronteira é vivida e revivida nas evocações e experiências da pesquisadora, articulando-se ao levantamento bibliográfico e documental. Os resultados são apresentados em dois blocos. O primeiro compreende o estudo do espaço e do tempo de constituição da cidade de Guajará-Mirim, a partir de aportes teóricos da Geografia, da Onomástica e da Psicologia Histórico-Cultural. Os achados apontam que a pessoa surda é expressão da variabilidade humana e que as dificuldades enfrentadas por crianças surdas derivam de desigualdades historicamente construídas, as quais comprometem o processo de humanização e criam barreiras culturais de acesso à linguagem e à cultura. A Onomástica, nesse contexto, revela-se como alternativa potente para o registro lexical e para o ensino de Libras e da Língua Portuguesa. Ao final da pesquisa, são apresentadas as imagens dos sinais-nome dos bairros de Guajará-Mirim, organizadas em uma cartilha bilíngue (Libras/Português), como proposta didático-pedagógica voltada à valorização cultural fronteiriça e ao desenvolvimento linguístico de crianças surdas matriculadas na rede pública de ensino do município.