Banca de QUALIFICAÇÃO: SANNY KELLEN ANJOS CAVALCANTE CANUTO

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de DOUTORADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE : SANNY KELLEN ANJOS CAVALCANTE CANUTO
DATA : 16/12/2025
HORA: 13:30
LOCAL: https://meet.google.com/tod-qrik-wok
TÍTULO:

CONSTRUÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DO RACISMO NO BRASIL POR MEIO DO DISCURSO ANTINEGRO:UMA ABORDAGEM TRANSDISCIPLINAR ENTRE A LA, ADC E ACTD


PALAVRAS-CHAVES:

Linguística Aplicada. Análise do Discurso Crítica. Análise Crítica. Tecnocultural do Discurso. Antinegritude. Branquitude.


PÁGINAS: 169
RESUMO:

A lógica antinegra que estrutura o racismo brasileiro não emerge na contemporaneidade, pois tem raízes profundas nos discursos coloniais e religiosos produzidos desde o século XVI, quando a escravização de povos africanos foi legitimada por narrativas jurídicas, teológicas e científicas que construíram a negritude como existência inferior, perigosa e subalterna. Ao longo dos séculos XVII a XX, período no qual se situam as materialidades selecionadas para esta pesquisa, essa gramática de desumanização foi reelaborada em documentos oficiais, na imprensa, na publicidade e nas práticasinstitucionais que consolidaram a branquitude como norma simbólica e epistemológica. Nos séculos XIX e XX, essa ordem discursiva se intensificou nos meios de comunicação de massa, perpetuando representações que exotizavam, silenciavam ou ridicularizavam corpos negros. Na contemporaneidade digital, tais práticas não desaparecem, mas deslocam-se, ganham novas formas e são automatizadas por algoritmos, bancos de imagem e mecanismos de busca, que passam a reproduzir e amplificar desigualdades historicamente constituídas. Diante desse cenário, esta tese busca compreender em que medida o discurso antinegro, materializado em práticas discursivas históricas, midiáticas e digitais, contribuiu para a construção e consolidação do racismo no Brasil, sustentando a branquitude como norma e desautorizando a negritude como sujeito pleno de humanidade. Para isso, adoto uma abordagem transdisciplinar, ancorada nos postulados da Linguística Aplicada Crítica (Moita Lopes, 2006; Rajagopalan, 2006), da Análise do Discurso Crítica (Fairclough, 2001; Van Dijk, 2008) e da Análise Crítica Tecnocultural do Discurso (Brock, 2020), articuladas à teoria da antinegritude (Vargas; 2020; Pinho, 2021), da branquitude (Schwarcz, 1993; Schucman (2012), e aos aportes das epistemologias negras e do pensamento decolonial (Gonzalez, 2020; Fanon, 2008; Mbembe, 2018; Mignolo, 2010; Walsh, 2013). Essa costura teórica permite compreender a linguagem como prática social historicamente situada, atravessada por relações de poder, racialização e tecnologia, e possibilita tensionar como regimes discursivos se mantêm, se reconfiguram e são atualizados no digital. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa, de natureza bibliográfica, documental e de estudo de caso exploratório-descritivo-explicativo, organizada em torno da análise de três conjuntos de materialidades: (i) documentos coloniais e jurídicos produzidos entre os séculos XVII e XIX, recorte temporal estabelecido nesta pesquisa, que evidenciam e atualizam a gênese discursiva da antinegritude no contexto colonial e imperial; (ii) peças midiáticas e humorísticas dos séculos XX–XXI, que mostram a permanência e a naturalização de estereótipos raciais;me (iii) materialidades digitais contemporâneas (conteúdos racistas e respostas decoloniais no Instagram), que revelam como algoritmos reproduzem e amplificam processos históricos de apagamento, exotização e marginalização da negritude. As análises foram organizadas nas categorias de naturalização, apagamento, exotização e resistência, a fim de evidenciar tanto a lógica de produção da antinegritude quanto os movimentos de reexistência negra no digital. Os resultados parciais demonstram que as práticas discursivas coloniais que definiram o negro como “não-ser” seguem operantes nas representações midiáticas e digitais, ainda que reconfiguradas pelos dispositivos tecnológicos. Observei que o discurso jurídico e religioso colonial inaugurou uma ontologia da inferiorização que foi atualizada pela ciência, pela mídia e, hoje, pelos algoritmos. Identifiquei, ainda, que embora a branquitude permaneça como eixo normativo e epistêmico na construção das representações, emergem práticas de resistência negras, sobretudo em ambientes de aquilombamento digital, que tensionam, contestam e deslocam sentidos historicamente naturalizados. Assim, ao evidenciar a continuidade histórica da antinegritude e suas reconfigurações tecnológicas, esta pesquisa contribui para o fortalecimento dos estudos críticos da linguagem e das epistemologias antirracistas, ao mesmo tempo em que reafirma a urgência de compreender como discursos, instituições e plataformas seguem produzindo desigualdades raciais. A tese, portanto, se inscreve como gesto analítico e político de desvelamento, apontando para a necessidade de responsabilização histórica, reparação e construção de futuros onde vidas negras sejam plenamente reconhecidas em sua dignidade, humanidade e potência.

 


MEMBROS DA BANCA:
Presidente - 132146001 - BARBARA CRISTINA GALLARDO
Interno - 466.104.133-04 - ALEXANDRE MELO DE SOUSA - UFAC
Interna - 330105100 - ELISANDRA BENEDITA SZUBRIS
Externo à Instituição - FRANKLIN ROOSEVELT MARTINS DE CASTRO - UFPB
Externo à Instituição - JÚLIO ARAÚJO - UFC
Notícia cadastrada em: 26/11/2025 17:50
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