ARTICULAÇÃO DA LINGUAGEM COM REPRESENTAÇÕES LINGUÍSTICAS E COGNITIVAS: UM ESTUDO DE FURAR E ATRAVESSAR SOB A PERSPECTIVA DA TOPE
linguagem; operações enunciativas; sinonímia; TOPE; furar; atravessar
Esta dissertação investiga o funcionamento semântico-enunciativo das unidades linguísticas “furar” e “atravessar” no português brasileiro, à luz da Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas (TOPE), formulada por Antoine Culioli. Parte-se do princípio de que o sentido não constitui um dado estável nem um conteúdo previamente dado, mas o resultado de operações cognitivas e linguísticas que se atualizam no interior das práticas enunciativas. O estudo problematiza a noção tradicional de sinonímia, entendendo-a não como equivalência lexical, mas como efeito de regularidade que emerge do ajustamento entre sujeito, língua e situação. O corpus é composto por enunciados retirados de mídias digitais e jornais on-line, analisados por meio de procedimentos de reconstrução, reformulação e paráfrase, que permitem explicitar as operações de representação, referenciação e regulação mobilizadas em cada ocorrência. As análises mostram que “furar” tende a estabilizar valores de ruptura e descontinuidade, configurando-se como intervenção sobre um limite resistente, enquanto “atravessar” se ancora na continuidade, na duração e no ajustamento, instaurando um percurso que integra o limite ao movimento. Os resultados evidenciam que a aproximação entre essas unidades não constitui uma sinonímia de base, mas um espaço de articulação entre operações distintas que produzem efeitos de sentido circunstanciais. A pesquisa contribui para os estudos da significação ao reafirmar a pertinência da TOPE como instrumento teórico-metodológico capaz de descrever a linguagem como lugar de ajustamento contínuo, onde se articulam representação, referenciação e regulação.