DO CONHECIMENTO TRADICIONAL À CIÊNCIA: PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS PANCS E SEU POTENCIAL NA AMAZÔNIA RURAL
Agroecologia, Etnobiologia, sustentabilidade, sistemas produtivos, segurança alimentar
Este estudo analisa o papel das plantas alimentícias não convencionais (PANCs) na Amazônia rural, buscando articular o conhecimento tradicional às evidências científicas, com o intuito de documentar saberes ancestrais associados a essas espécies e investigar seus usos alimentares, medicinais e cosméticos. Empregou-se uma abordagem qualitativa, por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas com 30 agricultores locais (14 homens e 16 mulheres), além de observações diretas e inventários botânicos. A faixa etária dos entrevistados variou entre 32 e 77 anos, e o tempo de experiência agrícola foi de 4 a 74 anos. A partir dessas técnicas, foram identificadas 170 espécies distribuídas em 64 famílias botânicas, sendo taioba, ora-pro-nóbis e babosa algumas das mais recorrentes. Observou-se que 93,3% das espécies são consumidas na alimentação, 86,7% possuem aplicação medicinal e 36,7% são utilizadas na produção de cosméticos. Verificou-se que a transmissão dos conhecimentos sobre as PANCs ocorre principalmente por vias familiares e comunitárias, embora se destaque a relevância de capacitações formais para ampliar o acesso e perpetuar esse saber tradicional. Barreiras de ordem cultural, econômica e ambiental ainda limitam o cultivo e a comercialização em maior escala, evidenciando a necessidade de políticas públicas e iniciativas que valorizem essas plantas enquanto recurso estratégico para a segurança alimentar, a promoção da saúde e a conservação da biodiversidade. Conclui-se que a integração das PANCs nos sistemas agrícolas e alimentares pode configurar estratégia eficaz para responder aos desafios contemporâneos relacionados à saúde, sustentabilidade e desenvolvimento socioeconômico. O fortalecimento desse conhecimento e sua difusão, por meio de programas educativos e iniciativas comunitárias, podem promover maior autonomia das comunidades rurais, diversificar a dieta e potencializar a renda local, garantindo a preservação do patrimônio socioambiental.