COMUNIDADE DE ANUROS EM ÁREAS DE ECÓTONO DE CERRADO, PANTANAL E AMAZÔNIA NO SUDOESTE DE MATO GROSSO
Anurofauna, Floresta Seca de Chiquitano, Fragmentação florestal, Efeitos de borda, Matriz de pastagem.
Ecótonos são importantes ferramentas para a conservação pois protegem componentes de ecossistemas distintos, contribuindo para a diversificação regional. Neste estudo analisamos: 1) a composição, riqueza e abundância de anuros na ecorregião de Floresta Seca de Chiquitano, sudoeste do estado de Mato Grosso e, 2) as respostas de anuros frente aos efeitos de borda e matriz em paisagem fragmentada. As coletas de dados ocorreram em 21 fragmentos florestais nos anos de 2002 a 2004 em estação chuvosa e seca, com campanhas de 10 dias em cada fragmento. Em cada fragmento foram instalados seis conjuntos de armadilhas do tipo pitfall, com o primeiro sendo disposto na matriz de pastagem, o segundo na borda e os quatro subsequentes a cada 50 metros nos fragmentos. Cada conjunto foi construído com cinco baldes de 24 litros enterrados, distantes 10 metros entre si, e interligados por cercas-guia de 80cm de altura. Foram capturados 839 indivíduos de 24 espécies de anuros e oito famílias. Physalaemus albonotatus (n= 172) e Rhinella margaritifera (n= 114) representaram as maiores abundâncias e também os maiores índices de frequência, ocorrendo em 76,19% (n= 16) das áreas. Leptodactylidae com 13 espécies foi a família mais representativa, seguida por Microhylidae (n=3 spp.), Bufonidae e Hylidae (n=2 spp.) e Craugastoridae, Dendrobatidae, Odontophrynidae e Phyllomedusidae com apenas uma espécie. A riqueza representa cerca de 19% da diversidade anurofaunística do estado de Mato Grosso. As espécies deste estudo são, em sua maioria, comuns em domínios fitogeográficos abertos e com maior plasticidade ambiental, sendo mais similares à composição de espécies do Cerrado, Pantanal e adjacências do que às da Amazônia. A intensa fragmentação florestal nesta porção do estado pode ter levado à substituição de espécies com maiores exigências por outras com maior plasticidade quanto ao uso do hábitat. Apesar disso, espécies frequentemente associadas a ambientes florestais como Leptodactylus petersii, Lithodytes lineatus, Osteocephalus taurinus e R. margaritifera também foram registradas. Ademais, registramos espécies endêmicas do Cerrado (Pristimantis dundeei) e desta região (Proceratophrys strussmannae), reforçando a importância das áreas ecotonais para a conservação das espécies. Ainda, dentre os registros, apresentamos um mapa atualizado e o registro mais ao sul da distribuição geográfica de L. lineatus, bem como o uso de hábitat por esta espécie. Para entender a influência da alteração da paisagem nesta região, analisamos a composição, riqueza e abundância de anuros em hábitats de matriz de pastagem, borda e hábitats florestais, considerando o fator sazonal (seca e chuva). A riqueza entre os hábitats não apresentou diferenças significativas em nenhuma estação analisada. Apesar disso, a matriz comportou apenas 6,44% da abundância total, havendo aumento neste padrão seguindo o gradiente matriz-borda-interior florestal durante a estação chuvosa (R² = 0,27; p = 0,014) e seca (R² = 0,30; p = 0,005). A menor disponibilidade de micro-hábitats para abrigo e reprodução, bem como maior temperatura e menor umidade relativa na matriz de pastagem, são possivelmente responsáveis por essas respostas. Portanto, a conversão de vegetação nativa em pastagens pode constituir importante ameaça aos anuros, exigindo assim um olhar mais atento à essa região.