NARRATIVAS DO TRAUMA EM A FILHA DA OUTRA, DE LUIZ RENATO
Luiz Renato, narrativa, trauma, patriarcado.
Esta pesquisa tem como objeto de análise a obra A filha da outra, de Luiz Renato, uma narrativa que toca temáticas sociais, históricas e atuais, caracterizada pela articulação lacunar entre os capítulos que a compõem, bem como pela composição das personagens, que são identificadas por uma letra do alfabeto. No decorrer da obra são apresentados os capítulos intitulados: “As leituras de N” e “O livro de T”, permeadas por trechos que refletem a memória de N e o relacionamento entre as personagens, além de mesclar elementos biográficos e causos, contemplados nas leituras de N. Diante dessa perspectiva, o objetivo da pesquisa é refletir, por meio de análise da composição da narrativa e da memória na obra, as estruturas vigentes de dominação e violência, reproduzidas pelas instituições sociais, com destaque para os abusos exercidos por familiares, legitimando a força do patriarcado, registradas nas memórias de N e em suas leituras. Os aportes teóricos utilizados dão ênfase para as formas narrativas e a estrutura literária (BENJAMIN, 1987; CANDIDO, 2000, 2007), a supremacia masculina (SAFFIOTI, 1987, 2004), a dominação masculina e a violência simbólica (BOURDIEU, 2012), a memória coletiva e a narrativa do trauma (HALBWACHS, 1990; SELIGMANN, 2017), dentre outros. Dessa forma, essa análise visa contribuir para a apresentação da composição da narrativa na obra, cuja configuração lacunar está relacionada à forma com que o narrador se relaciona com a memória, bem como para as discussões sobre a violência simbólica e a violência de gênero, além de ressaltar que as mudanças de atitudes e estímulos de reflexão são elementos que servem de espelho para ver o mundo de outras maneiras e ressignificar estruturas enraizadas nas organizações sociais.