MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE ASSISTIDA: uma análise discursiva do artigo 118-ECA e de 05 jurisprudências na prática da justiça infantojuvenil
artigo 118 do ECA; liberdade assistida; jurisprudência; medida socioeducativa; efeitos de sentido.
Esta pesquisa tem como objeto de estudo o artigo 118 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e um conjunto de cinco jurisprudências de diferentes tribunais estaduais, com o objetivo geral de investigar o instituto da liberdade assistida, previsto no ECA. Os objetivos específicos incluem: i) realizar o batimento do artigo 118 com jurisprudências aplicadas a casos concretos; ii) analisar as práticas discursivas presentes nessas jurisprudências e seus efeitos de sentido; iii) verificar as condições de produção dos discursos nas jurisprudências e como estes refletem as posições ideológicas dos sujeitos envolvidos no sistema sociojurídico. A pesquisa busca entender se o discurso jurídico relacionado à liberdade assistida, conforme garantido pela Constituição, pelo ECA e pelo SINASE, orienta as decisões judiciais de maneira protetiva ou se, ao contrário, predomina um discurso punitivo, embora não expresso diretamente. Para isso, a análise se baseia na Análise de Discurso de orientação francesa, teoria que investiga como a linguagem é usada para construir significados e representações sociais. A escolha do corpus inclui decisões reais da prática jurídica, com jurisprudências do período de 2020 a 2023, período considerado estável quanto a possíveis alterações jurídicas significativas. A pesquisa parte da premissa de que a ideologia se materializa no discurso e influencia as decisões jurídicas. Assim, busca-se identificar as práticas ideológicas no discurso jurídico infantojuvenil, especialmente no que diz respeito às medidas socioeducativas, e compreender seus efeitos nos textos analisados. A dissertação está estruturada em três capítulos. O primeiro capítulo apresenta as bases epistemológicas da Análise de Discurso, abordando a relação entre linguagem, ideologia e discurso. O segundo capítulo trata do discurso jurídico, desde a contextualização histórica até os direitos da criança e do adolescente, destacando como o discurso jurídico reflete o poder estatal e a reprodução de ideologias. O terceiro capítulo detalha o percurso metodológico da pesquisa e a análise do artigo 118 do ECA e das jurisprudências, evidenciando como o discurso protetivo e punitivo se intercalam nas decisões judiciais. A escolha do tema se relaciona à experiência prática da pesquisadora no Juizado da Infância e da Adolescência, aliando sua formação em Direito e Pedagogia para uma análise que integra as perspectivas jurídicas e educacionais. O estudo revela como as jurisprudências apresentam um contraponto entre discurso protetivo e punitivo, com algumas decisões refletindo um cuidado com os adolescentes, enquanto outras os posicionam no lugar de infratores, com base em memórias discursivas de punição presentes em legislações anteriores.