Atributos morfoanatômicos funcionais e resiliência climática de espécies arbóreas do cerrado na transição Amazônia-Cerrado
anatomia vegetal, cerrado típico, mudanças climáticas, resiliência
As savanas são ecossistemas amplamente distribuídos pelo mundo, encontrados em regiões tropicais e subtropicais da África, Austrália, América do Sul e Ásia. As savanas do Cerrado brasileiro formam um dos biomas mais ricos e complexos do mundo, caracterizado por vegetação predominantemente arbustiva e árvores de pequeno a médio porte, com um estrato herbáceo-graminoso. Ocupando cerca de 25% do território nacional, o Cerrado é considerado a savana mais biodiversa do planeta, abrigando milhares de espécies de plantas, animais e microorganismos, muitas das quais endêmicas. Suas características ecológicas, como solos ácidos e pobres em nutrientes, além de um clima marcado por estações secas e chuvosas bem definidas, fazem desse bioma um exemplo de comunidades vegetais bem adaptadas aos ambientes extremos. Apesar de sua importância ecológica e econômica, o Cerrado está ameaçado devido às atividades antrópicas, principalmente a expansão agrícola e desmatamento, e às mudanças climáticas, que comprometem sua resiliência e funções ecossistêmicas, impactando o ciclo hidrológico, armazenamento de carbono e alterando a dinâmica das espécies arbóreas, que respondem de maneiras variadas a eventos como secas, incêndios e outras variações ambientais. Nas últimas décadas, essas mudanças têm ocorrido no "Arco do Desmatamento", localizado no estado de Mato Grosso, na transição entre os biomas Amazônia e Cerrado. Essa zona de ecótono, é uma das áreas tropicais mais sazonais e vulneráveis, sofrendo com o aquecimento global e a distribuição irregular das chuvas, fatores que afetam diretamente a sobrevivência das árvores. Neste contexto, investigar os atributos morfoanatômicos funcionais (AMFs) das espécies nas áreas de transição é essencial para entender os efeitos das variáveis ambientais e climáticas na sobrevivência das árvores. As adaptações dos AMFs permitem às espécies sobreviverem em diversos ambientes, ajustando suas estratégias conforme as condições ambientais e garantindo seu sucesso competitivo e sua capacidade de dominar o espaço. A plasticidade morfoanatômica ou a capacidade de modificar estruturas em resposta a estímulos ambientais, é fundamental para que estas espécies se adaptem às mudanças sazonais de temperatura, disponibilidade hídrica e incidência de fogo. Assim, este estudo, busca relacionar esses atributos com as condições edáficas e bioclimáticas da transição Amazônia-Cerrado, ampliando a compreensão sobre as respostas das espécies arbóreas às mudanças ambientais. A tese está dividida em dois capítulos: 1) avaliamos e comparamos os AMFs das espécies arbóreas dominantes no Cerrado típico na transição Amazônia-Cerrado, considerando variáveis climáticas e edáficas. Selecionamos seis comunidades de cerrado típico ao longo do estado de Mato Grosso e avaliamos os atributos anatômicos funcionais foliares e caulinares das principais espécies arbóreas para verificar como estão relacionadas com as condições edafoclimáticas. As comunidades, que enfrentam diferentes condições edafoclimáticas, apresentam atributos que aumentam a eficiência no uso da água e resistência térmica foliar, sendo mais resilientes às mudanças climáticas em ambientes mais secos; 2) objetivamos compreender como cinco espécies coocorrentes respondem anatomicamente a eventos de fogo através da avaliação de seus atributos morfo-funcionais. Coletamos as amostras foliares e caulinares em duas comunidades de cerrado típico: uma que sofreu sucessivos eventos de incêndios e uma que não sofreu. Notamos que o fogo causa espessamento dos tecidos foliares nas áreas queimadas, favorecendo a resiliência da comunidade, mas ao mesmo tempo deformando os vasos caulinares e assim comprometendo a segurança hídrica das árvores. Concluímos que as espécies mostram plasticidade fenotípica para se adaptar a ambientes variáveis em condições de clima, solo e ocorrência de fogo, mas sua resiliência pode ser reduzida com o aumento das secas e incêndios combinados.