Práticas da Comunidade Quilombola de Bocaina, Município de Porto Estrela, do Enfrentamento da Covid-19: Estudo Sobre o Uso de Plantas Medicinais da Região – Brasil
Etnobotânica; Comunidades quilombolas; Conhecimento tradicional; diversidade biológica; Plantas medicinais
Esta pesquisa, que faz parte das Ciências Ambientais, analisa como comunidades tradicionais conseguem se adaptar diante de crises de saúde, especialmente focando no conhecimento etnobotânico da Comunidade Quilombola da Bocaina, em Porto Estrela - Mato Grosso. Está demonstrado como esse conhecimento pode ser uma estratégia adicional de cuidado durante a pandemia de Covid-19. A ideia central é que os saberes tradicionais, profundamente ligados ao território e transmitidos de geração em geração, são recursos importantes, principalmente quando o acesso aos serviços de saúde convencionais é limitado. Diante da emergência sanitária e da ausência de protocolos, na época, específicos para tratar a doença, essas comunidades ancoraram as práticas de cuidados até então desconhecidas orientados pelos próprios conhecimentos tradicionais de cura de doenças, utilizaram efetivamente plantas medicinais para aliviar sintomas como febre, tosse e gripe. Esse estudo que combina diferentes áreas do conhecimento e tem uma abordagem qualitativa, revelou um grande entendimento da população sobre as plantas e espécies locais, destacando o melão-de-são-caetano (Momordica charantia L.) e o açafrão (Curcuma longa L.). As plantas mais mencionadas nesse contexto são aquelas usadas principalmente em forma de chás e xaropes. Elas contêm compostos como a curcumina e a quercetina, que têm propriedades anti-inflamatórias e antivirais, comprovadas por estudos científicos, o que reforça o uso tradicional dessas plantas. Geralmente, quem conhece esses remédios naturais são idosos com escolaridade e renda mais baixas, o que mostra que essas práticas são acessíveis e de baixo custo. No entanto, a pesquisa aponta dois grandes obstáculos para a manutenção desse conhecimento: primeiro, a perda dos hábitos de uso de plantas e o desinteresse das gerações mais jovens, impulsionado por interações culturais que ressignificam os saberes e pela falta de registros organizados; segundo os conflitos de terras com fazendeiros e grileiros, que dificultam o acesso às plantas e ao território dessas comunidades, que é fundamental para sua cultura e modo de vida. A conclusão do estudo é que o conhecimento etnobotânico dos quilombolas é um sistema de cuidado importante tanto para a saúde quanto para a preservação cultural. Para aproveitar melhor esse potencial, recomenda-se promover um diálogo maior entre as comunidades e as instituições envolvidas, a garantia dos direitos territoriais das comunidades, assim como a documentação e valorização do conhecimento tradicional, são pontos importantes. Integrar essas práticas na atenção básica à saúde, seguindo modelos como o RENISUS, é uma estratégia promissora para fortalecer a cultura local e consequentemente às práticas no SUS e promover mais justiça no acesso aos cuidados. Além disso, a pesquisa destaca a necessidade de mais estudos farmacológicos para comprovar a segurança e a eficácia das espécies mencionadas, garantindo uma base científica sólida para seu uso futuro. Desse modo o estudo preenche uma lacuna na área acadêmica ao oferecer uma visão integrada sobre o papel dessas práticas em momentos de crise sanitária e sua relação com as políticas públicas, ressaltando a importância e a originalidade do contexto das Comunidades Quilombolas da Bocaina em Porto Estrela-Mato Grosso.