Desvendando a história evolutiva do sapinho-cururu Rhinella mirandaribeiroi (Gallardo, 1965) (Anura: Bufonidae) no Cerrado
Anuro, Filogeografia, Estrutura populacional, Pleistoceno, Expansão demográfica.
Os anfíbios são excelentes modelos para estudos de diversificação devido à sua forte estrutura genética. O sapinho-cururu Rhinella mirandaribeiroi é amplamente distribuído no Cerrado, tornando-se um organismo ideal para testar hipóteses biogeográficas. O bioma passou por significativas mudanças geomorfológicas e climáticas ao longo do tempo, influenciando a estruturação genética das espécies. Para compreender os processos evolutivos que moldaram as populações de R. mirandaribeiroi, foram analisadas 97 amostras de tecidos de 49 localidades, utilizando três marcadores genéticos (16S, Cytb e POMC). Os resultados indicaram uma clara estruturação genética, com duas populações bem definidas (k=2): uma ao sul, abrangendo Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Piauí e São Paulo, e outra ao norte, incluindo Tocantins, Mato Grosso, Goiás, Amazonas, Bahia e Minas Gerais. A população norte apresentou maior diversidade haplotípica e evidências de uma expansão recente, enquanto a população sul demonstrou menor diversidade e maior estabilidade ao longo do tempo. A divergência entre as populações foi estimada em aproximadamente 290 mil anos, sendo influenciada pelas oscilações climáticas do Pleistoceno. A análise filogenética confirmou a monofilia da espécie, mas sem suporte robusto para a monofilia das populações norte e sul. Os dados sugerem que as variações ambientais desempenharam um papel crucial na conectividade e diversificação genética da espécie, fornecendo informações valiosas sobre a biogeografia do Cerrado e a influência de eventos históricos na evolução dos anfíbios.