Ecologia e Biogeografia de Serpentes da Transição Cerrado-Amazônia
Ecologia, mudanças climáticas, répteis, neotropical, conservação
Compreender os fatores que moldam a estrutura e a dinâmica temporal das comunidades de serpentes é essencial para a conservação da biodiversidade, especialmente em regiões ecotonais que enfrentam rápidas mudanças ambientais. Este estudo examina a composição, diversidade e estabilidade temporal das comunidades de serpentes na zona de transição Cerrado-Amazônia, a maior transição floresta-savana do mundo e um ecossistema altamente ameaçado no Brasil. Através de extensivo trabalho de campo e levantamentos na literatura, documentamos 53 espécies de serpentes distribuídas em sete famílias, com Dipsadidae apresentando a maior diversidade e a descoberta de duas espécies potencialmente novas. A composição da comunidade reflete a complexidade ambiental da região, com espécies exibindo padrões variados de distribuição e preferência de habitat. As análises temporais revelam que a substituição de espécies é mais alta durante as estações secas e chuvosas, impulsionada pelo aparecimento e desaparecimento sazonais das espécies. Também avaliamos como a biogeografia, o filtro ambiental e a convergência de traços funcionais influenciam a estrutura das comunidades de serpentes ao longo de gradientes ecológicos. Usando 67 levantamentos de comunidades, investigamos a relação entre diversidade filogenética das espécies, diversidade funcional e diversidade taxonômica em resposta à distância do ecótono, dos centroides dos biomas e das variáveis climáticas. Nossos resultados indicam que temperatura e precipitação influenciam fortemente os três índices de diversidade, alinhando-se com padrões gerais de répteis tropicais. Observamos um declínio significativo na diversidade filogenética do norte para o sul, consistente com grandes padrões biogeográficos de dispersão. A diversidade funcional e taxonômica predominam nas comunidades ecotonais, com o filtro ambiental direcionando mudanças na composição das espécies entre florestas densas e ambientes de savana. A presença de distintos grupos funcionais ressalta o papel das pressões ecológicas na estruturação das comunidades. Ao integrar perspectivas filogenéticas, ecológicas e temporais, este estudo fornece informações sobre os mecanismos que regem a dinâmica das comunidades de serpentes em sistemas ecotonais. A identificação de espécies potencialmente novas e a alta complexidade ambiental da região enfatizam a necessidade de esforços de conservação para proteger ecossistemas de transição. Diante do desmatamento e das mudanças climáticas crescentes, compreender essas dinâmicas é crucial para mitigar a perda de biodiversidade e garantir a estabilidade a longo prazo das populações de serpentes na transição Cerrado-Amazônia.