ARTE DA CERÂMICA HALITI-PARESI: SABERES, MEMÓRIA E ORALIDADE NA ESCOLA
Cerâmica Haliti-Paresi; Saberes Tradicionais; Oralidade; Língua Materna Haliti.
Esta dissertação, vinculada à linha de pesquisa Ensino e Linguagens em Contexto Intercultural do Programa de Pós-Graduação em Ensino em Contexto Indígena Intercultural-PPGECII/UNEMAT – Campus de Barra do Bugres-MT, tem como objetivo principal, por meio de uma prática pedagógica, e de forma transdisciplinar, retomar os conhecimentos orais sobre a cerâmica Haliti, com base na memória dos anciãos do nosso povo. A pesquisa busca, ainda, reforçar o papel da escola indígena como espaço de fortalecimento cultural e linguístico, tomando como referência os antigos processos e saberes relacionados à confecção tradicional da arte cerâmica Haliti, especialmente, da panela de barro. Historicamente, o uso da cerâmica ocupou um lugar central em nossa vida cotidiana e espiritual, mas, com o contato com os não indígenas e a introdução de utensílios de alumínio, essa prática foi gradualmente abandonada. O movimento de retomada dessa arte se intensificou a partir da década de 1990, impulsionado por lideranças e anciãos, como o cacique João Arrezomae, que reconheceram a importância de reavivar essa tradição. Assim, a pesquisa se justifica pela necessidade de retomar a memória dos antigos e valorizar os saberes ancestrais sobre essa arte, os quais representam um patrimônio cultural e identitário do nosso povo Haliti-Paresi. Metodologicamente, o estudo se insere na abordagem qualitativa, de caráter participante e etnográfico (André,2003), pois estive envolvida diretamente em todo processo de ensino e de pesquisa junto à comunidade, anciãos e alunos da aldeia, aliando observação, entrevistas e práticas pedagógicas. O percurso metodológico foi orientado tanto pelos modos tradicionais de pesquisa do nosso povo Haliti, baseados na escuta dos mais velhos, quanto pelos referenciais teóricos de Paulo Freire, que nos mostra que ensinar e pesquisar são ações inseparáveis. Os resultados apontam que a retomada de nossos conhecimentos milenares adormecidos, em especial da cerâmica Haliti, ajuda a fortalecer o uso de nossa língua Haliti-Paresi, promove a valorização da identidade cultural e possibilita uma prática educativa libertadora, em que os se tornam sujeitos ativos no processo de aprendizado. Além disso, a pesquisa provocou, em mim, enquanto professora e haloti, a preocupação com o uso de nossa língua materna Haliti, porque o português vem se tornando predominante entre as novas gerações. Nesse contexto, a escola assume um papel fundamental na revitalização linguística e cultural, servindo como ponte entre os saberes tradicionais e o conhecimento escolar. Um outro ponto importante que destaco aqui, também, é o produto educacional, em forma de catálogo, elaborado durante prática pedagógica desenvolvida em conjunto com as crianças, anciãos e comunidade.Este catálogo é, portanto, um registro e, também, um convite para que nossas crianças e jovens possam continuar aprendendo com o barro, com a palavra e com a sabedoria dos nossos anciãos e anciãs, fortalecendo nossa língua, nossa cultura e nossa maneira Haliti de viver e ensinar.