PUNITA WIKA: A poética de resistência na obra Ay Kakyri Tama: Eu Moro Na Cidade, De Márcia Kambeba
Literaturas indígenas. Poesia de resistência. Marcia Kambeba.
Considerando que as literaturas de autoria indígena, desde o seu surgimento, estiveram relacionadas a um ativismo político-cultural, e que a poesia foi historicamente utilizada como instrumento de crítica social, os escritos de poetas nativos tornam-se pertinentes como recursos de resistência e engajamento à medida que se avançam nos debates pelos direitos aos povos originários. O presente estudo visa analisar a obra Ay Kakyri Tama: Eu moro na cidade (2018), da autora Marcia Kambeba, com o objetivo de identificar as facetas da poética de resistência na literatura indígena e provocar reflexões sobre as questões identitárias da luta dos povos originários brasileiros presentes no texto. Para tal fim, parte-se de uma apresentação acerca da história e da luta do povo Omágua/Kambeba e da autora da obra. Adiante, são conceitualizadas as vozes constituintes da lírica indígena e da poesia como literatura de resistência, bem como as singularidades da escrita de mulheres indígenas. A partir da constituição dessas vozes e da poética indígena feminina, parte-se então à analisar a obra de Marcia Kambeba no recorte definido. Como fundamentação teórica, a pesquisa utiliza estudos de Graúna (2014), Munduruku (2012), Kambeba (2020) e Danner; Dorrico e Danner (2019; 2020), bem como se apropria de conceitos de resistência oriundos de Bosi (2000) e Foucault (1979; 2009). As análises apontam para a relevância da autoria indígena na ruptura de preconceitos e estereótipos, bem como no fomento e organização da luta por direitos, sendo também utilizada como instrumento cultural de ativismo político. Para além, busca-se abrir caminhos para a inserção da literatura indígena na formação de um novo cânone nacional, no reconhecimento da excelência deste tipo de produção artística e literária.