ENTRE SILENCIAMENTOS, EXCLUSÕES E NEGLIGÊNCIAS: as representações do racismo estrutural em Ponciá Vicêncio e Becos da memória, de Conceição Evaristo
Literatura e vida social. Vozes subalternizadas. Poder. Conceição Evaristo
Esta pesquisa realiza um trabalho de verificação das representações da mulher negra no Brasil a partir de duas obras literárias, Ponciá Vicêncio e Becos da memória, de Conceição Evaristo. O objetivo da pesquisa é ampliar a discussão sobre o racismo estrutural, destacando, dentre outros pontos, questões de identidade e subalternidade histórica. Ao discorrer nestas duas narrativas sobre o encontro das vivências, suas formas e representações da busca e reencontro, mesmo atreladas ao racismo estrutural, é possível perceber, nas obras, a possibilidade de a mulher preta produzir fala e fazer-se ouvir, a partir de suas ações de poder com as suas e seus, neste ambiente de subalternidade, alicerçado sob o prisma desse racismo estrutural. A pesquisa busca aporte teórico para abordar as representações do racismo estrutural na literatura afro-brasileira nas teses postuladas por Fanon (1979, 2008), Almeida (2021), Gonzales (2014), Ribeiro (2021), bell hooks (2019), Grada Kilomba (2019), Carneiro (2020) e Santos (2022); e sobre as questões de poder e suas (inter)relações, bem como a condição humana, em Arendt (1999, 2005 e 2009) e Spivak (2010). Na narrativa contemporânea de Evaristo, percebe-se a afirmação da cultura do povo negro subalternizado. A cultura sai dos paradigmas burgueses e apresenta-se livre desse paradigma, pois apresenta as vivências de corpos negros, por estes mesmos corpos. A literatura como um espaço de possibilidades se apresenta como fator de desconstrução, de transgressão, como é próprio da escrita evaristiana. A literatura como possibilidade de modificação e reconfiguração da própria língua portuguesa como modo de apropriação e se relacionar abertamente com ela sem grilhões que impeçam esse movimento. No movimento transgressor de escrita, a possibilidade da construção no espaço coletivo que é espaço político de reconfiguração e formação de ação em concerto, de criação de poder.