PEDRA CANGA E A DANÇA DO JAGUAR: DO LOCAL AO UNIVERSAL - CONFIGURAÇÕES DO FANTÁSTICO, DA MEMÓRIA E DA IDENTIDADE
Espaço; Fantástico; Memória; Identidade; Tereza Albues
A presença do regionalismo mato-grossense na maioria das obras de Tereza Albues revela o compromisso da escritora em resgatar as tradições, cultura, hábitos, costumes e dizeres do povo dessa região, embora este não pareça ser o foco principal das narrativas, visto que as tramas são muito bem construídas, em meio a personagens intrigantes e histórias envolventes, emaranhadas de mistérios, com denúncias sérias e de relevância social. Assim, o propósito desta pesquisa consiste em analisar as configurações do fantástico, da memória e da identidade nas obras Pedra Canga (1987) e A dança do jaguar (2000), visando apreender as formas de representação do gênero romanesco a partir das duas realidades, a mato-grossense e sanfranciscana, destacando, assim, o espaço notadamente místico e fantástico em suas narrativas. Para a elaboração do percurso histórico das produções literárias produzidas no estado do Mato Grosso, que consiste em uma explanação sobre a contextualização do processo histórico de formação da literatura produzida em Mato Grosso para auxiliar na compreensão e análise crítica da narrativa de Albues, o arcabouço teórico centrou-se nos estudos de Mendonça (2015), Magalhães (2001 e 2002), Nadaf (2004), Castrillon-Mendes (2020), Mahon (2021), Walker (2021). Pedra Canga e A dança do jaguar são, respectivamente, o primeiro e o último romance publicados por Albues. Neste, a história se passa em São Francisco, nos Estados Unidos e naquele, em Pedra Canga, pequeno vilarejo situado no interior do Mato Grosso, no Brasil, porém, apesar da distância geográfica, as tramas possuem alguns pontos em comum. Os espaços dessas narrativas têm notória relevância, pois ambas se alicerçam em duas casas: em Pedra Canga, na casa dos Vergare, situada na Chácara Mangueiral e, em A dança do jaguar, na casa Vitoriana, de propriedade dos Maltesa. Para discutir, tomando a narrativa ponto a ponto, adotamos uma postura que priorizou a abordagem analítica dos aspectos intratextuais indissociáveis, ou seja, sem a concatenação por elemento estruturador, mas de forma simultânea, entrelaçando as categorias, embasando-nos em teóricos como Bakhtin (1993), Genette (1995), Lins (1976), Dimas (1994), Bachelard (2000), Borges Filho (2007). Para as demais categorias, narrador e personagens, Friedman (2002), Leite, (2004) e Foster (2005). As narrativas de Tereza Albues evidenciam aspectos inerentes ao fantástico, traço recorrente em suas obras. Destarte, o suporte teórico utilizado nesta pesquisa, a fim de esclarecer tal definição, abrange os estudos realizados por Todorov (1975), Rodrigues (1988), Furtado (1980) e Roas (2014); e, em relação aos estudos de memória que, consequentemente, se enveredam pela re(des) construção da identidade, a fundamentação está alicerçada em Halbwachs (1990), Le Goff (2003), Hall (2006), Ricoeur (2007), Assmann (2011). Quanto às questões identitárias, é evidente que somos seres em constante mutação e sempre em processo de (des)(re)construção de nossa identidade. Dentre os diversos aspectos que podem contribuir para as mudanças de nossa individualidade, a memória é o que mais influencia nesse processo. Visto que voltar ao passado, relembrar, reviver momentos, é algo que faz pensar, refletir, ponderar e, muitas vezes redimensionar e redirecionar a vida.