EDUCAÇÃO BILÍNGUE NA INFÂNCIA: um espaço para práticas translíngue na construção do sujeito bilíngue
Educação bilíngue. Educação infantil. Translinguagem. Repertório linguístico.
No contexto atual, diante das transformações da sociedade globalizada, aprender uma segunda língua tornou-se uma preocupação educacional. A educação bilíngue (português-inglês) tem crescido como um diferencial no currículo para atender essa preocupação Recorrente as observações que faço ao longo da minha prática docente em um ambiente escolar com um currículo bilíngue imersivo, surgiu a motivação para investigar sobre a translinguagem com um fenômeno social e transformador no processo de formação identitária bilíngue em crianças com idade de três a quatro anos. A partir dessa perspectiva, foi possível observar que as crianças, mesmo bem pequenas, não se limitam ao uso de uma única língua na sua comunicação, mas recorrem com naturalidade, aos seus diferentes repertórios linguísticos, mobilizando seus saberes de forma estratégica e contextual. Por tanto, o presente trabalho tem como objetivo identificar como a translinguagem acontece e quais fatores colaboram para o processo de construção de repertórios de crianças em fase de creche que estão em um ambiente imersivo bilíngue, analisando a forma como as crianças utilizam seus repertórios linguísticos para interagir, construir significados e desenvolver sua comunicação. Esse estudo, sob o prisma da abordagem qualitativa, foi desenvolvido em uma escola de educação bilíngue da rede privada de ensino no município de Sinop-MT. Para a coleta de dados foram realizadas gravações de áudios das falas de crianças matriculadas no jardim 3, além disso, através das notas de campo realizadas pela pesquisadora procuramos trazer aspectos extralinguísticos que pudessem colaborar com a compreensão do contexto das falas e rotina da turma. Para tanto, utilizamos para o referencial teórico autores como Busch (2012), García e Woodley (2015), Wei Liu e Welp (2020), García (2022), Krause-Lemke (2020)entre outros pesquisadores para o embasamento teórico do estudo. Considerando as análises dos dados coletados, foi possível verificar que o ambiente imersivo bilíngue colabora para o desenvolvimento da translinguagem na infância, pois as crianças fazem uso das línguas em seu repertório de forma a construir significados, aprender e se desenvolver acadêmica e socialmente. Apesar de o ambiente bilíngue investigado apresentar constructos monolíngues, onde apenas a segunda língua é utilizada pelas professoras, as crianças transformam o ambiente mono para heteroglóssico com criatividade fazendo uso das línguas de forma dinâmica e singular. Para a construção dos repertórios e compreensão das instruções, observou-se que o estudo temático e práticas scaffolding colaboram para esse desenvolvimento. Além desses, o estudo mostra a importância das práticas translíngues na construção identitária do falante bilíngue na infância, pois, através dessas práticas, o falante exercita sua autonomia e afetividade, mobilizando suas experiências linguísticas de forma significativa e contextualizada. Assim, a translinguagem se revela não apenas como uma estratégia pedagógica, mas como um espaço de afirmação e pertencimento.