TRADIÇÃO ORAL E COLONIALIDADE: AS EXPERIÊNCIAS DAS MULHERES NO ROMANCE "O ALEGRE CANTO DA PERDIZ", DE PAULINA CHIZIANE
Mulheres. Moçambique. Colonialidade. Deslocamento. Romance.
A Literatura contemporânea produzida nos países africanos de Língua Oficial
Portuguesa se dedica a ressignificar a África pela oposição aos valores determinados
durante o processo colonial, que partiram da distinção racial para criar outros conceitos
também excludentes. Tais produções literárias frequentemente, pela perspectiva dos
estudos pós-coloniais, representam a constituição sócio-histórico-cultural dos países e
dos povos africanos. Nesse sentido, este texto é uma reflexão sobre a linguagem do
romance O alegre canto da perdiz, de Paulina Chiziane. A obra carrega o leitor para a
dura realidade moçambicana contemporânea, que se forjou em um processo histórico
que deslegitimou elementos culturais do país. Nesse percurso, é possível lê-la por sua
articulação com as transformações históricas da sociedade a qual representa, assim,
diante da condição pós-colonial e da tradição oral que, mescladas a outras questões
também tematizadas na obra, destacadamente, atravessam a vivência das personagens.
Por conseguinte, nosso objetivo é analisar como se realizam as experiências opressivas
e de resistência das personagens moçambicanas Para isso, analisaremos os deslocamentos de quatro personagens de três gerações de uma família
que expõem a dupla opressão patriarcal. Portanto, este propõe refletir sobre uma obra da
literatura contemporânea que, por meio da narrativa, repensa o lugar delegado às
mulheres, ao mesmo tempo em que se assenta na revalorização da tradição oral pós
encontro colonial como forma de reafirmação da cultura. A pesquisa está sustentada nas
abordagens teóricas de autores como Amadou Hampâté Bâ (2010), Achille Mbembe
(2001), Albert Memmi (1967), Kwame Anthony Appiah (1997), Edward Said (1995),
Inocência Mata (2008, 2014), Frantz Fanon (1961, 2008), entre outros.