Dinâmica Temporal de uma Comunidade de Serpentes na Transição Cerrado-Amazônia
Ecologia, mudanças climáticas, répteis, neotropical, conservação
Compreender os fatores que moldam as dinâmicas temporais das comunidades ecológicas é crucial para a conservação da biodiversidade no Antropoceno. Neste estudo, descrevemos a composição de espécies de uma comunidade de serpentes na transição Cerrado-Amazônia, a maior zona de transição floresta-savana do mundo e um ecossistema altamente ameaçado no Brasil. Além disso, analisamos a estrutura da comunidade ao longo do tempo usando índices de diversidade temporal. A comunidade apresenta uma mistura equilibrada de espécies florestais e savânicas, com a família Colubridae exibindo a maior diversidade, incluindo dois táxons potencialmente novos. Nossa pesquisa, realizada por meio de trabalho de campo extensivo e registros da literatura, documentou 53 espécies distribuídas em seis famílias. Essa abordagem abrangente proporcionou uma visão detalhada da diversidade de serpentes nessa zona de transição única. O estudo corrobora observações anteriores de que a riqueza de serpentes é alta durante as estações chuvosas. Descobrimos que o turnover de espécies de serpentes foi maior durante as estações seca e chuvosa, mas marcado por um aumento significativo de aparições no período chuvoso e um aumento de desaparecimentos no período seco. A comunidade apresenta covariância positiva entre as espécies, com cada uma flutuando de forma independente ao longo do tempo. No entanto, o desmatamento contínuo na região pode impactar a abundância das espécies. Essas características podem ser atribuídas às pressões ecológicas e adaptações únicas da zona de transição. A presença de espécies com padrões de distribuição e preferências de habitat diversificados ressalta a complexidade ambiental e biogeográfica da região, indicando que a transição Cerrado-Amazônia funciona como um habitat crítico para uma ampla gama de espécies de serpentes. A identificação de duas espécies potencialmente novas enfatiza a necessidade urgente de mais pesquisas sobre os efeitos das mudanças ambientais nas populações locais de serpentes e na biodiversidade. Esses achados ampliam o conhecimento sobre a diversidade da herpetofauna do Brasil e destacam a importância de proteger os ecossistemas de transição. À medida que essas áreas enfrentam ameaças crescentes devido às atividades humanas, entender suas dinâmicas ecológicas torna-se essencial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de conservação. Este estudo serve como um chamado à ação para preservar a biodiversidade única da zona de transição Cerrado-Amazônia e mitigar os impactos adversos das mudanças antrópicas.