O impacto das queimadas na saúde de bombeiros militares e brigadistas pantaneiros
Poluentes atmosféricos, incêndios florestais, saúde ocupacional, efeitos na saúde, combate ao fogo.
Altas temperaturas associadas a baixa umidade relativa do ar, vem ampliando a extensão e intensidade dos incêndios no Pantanal. Em 2020, o bioma Pantanal sofreu com um período de seca intensa identificado como um dos mais severos da história, consequentemente aconteceram as queimadas que ocasionaram cerca de 30% de perda da área original. Os municípios de Cáceres, Poconé, Barão de Melgaço foram os mais afetados no estado de Mato Grosso pelos incêndios florestais, territórios das comunidades mais vulneráveis do Pantanal. Os profissionais que trabalham no controle e combate ao fogo, estão diretamente expostos a altas temperaturas associadas as elevadas concentrações de múltiplos contaminantes que afetam a saúde. Está tese é apresentada em três manuscritos e um capítulo (IV), e tem por objetivo analisar os efeitos à saúde decorrente da exposição aguda e crônica aos poluentes de incêndios florestais em brigadistas e bombeiros militares expostos nos incêndios do Pantanal Mato-Grossense e áreas do entorno, bem como, os relatos destes profissionais em relação aos riscos vivenciados no trabalho. O primeiro manuscrito, compõe uma abordagem que permite explorar aspectos da história ambiental em relação a história política e econômica, da Colônia até o Brasil República, na qual o país tem a saúde pública marcada por contínuas reorganizações, assim em 2023 com a mudança do governo vivencia-se a oportunidade de fortalecimento do programa, uma vez que a demanda do VIGIAR decorre da crise climática e consequente aumento de risco de incêndios florestais. O segundo manuscrito, trata-se da apresentação do protocolo elaborado como ferramenta metodológica para conhecer os efeitos à saúde decorrentes da exposição aguda aos poluentes de incêndios florestais em brigadistas e bombeiros militares que atuam no controle do fogo em incêndios florestais no Pantanal. O terceiro manuscrito, constitui o relato das vivências dos brigadistas que atuaram no combate aos incêndios florestais no Pantanal em 2023, para assim compreender o que acontece no cotidiano dos brigadistas durante e pós o combate aos incêndios para poder auxiliar os órgãos competentes na construção de uma política pública, que contemple a manutenção da saúde com condições de trabalho para estes profissionais. O Capítulo IV traz os resultados da pesquisa realizada com brigadistas e bombeiros militares durante o ano de 2023 para identificar os efeitos à saúde decorrente da exposição aguda e crônica aos poluentes de incêndios florestais. Por meio de uma análise de situação de saúde e avaliação dos marcadores inflamatórios, no qual, participaram do estudo 12 brigadistas da Brigada de Cáceres com sede no Assentamento Limoeiro e 60 bombeiros militares da Corporação do Corpo de Bombeiros de Cuiabá, em que se observa a predominância de profissionais de profissionais do sexo masculino (89%), entre a faixa etária de 21 a 50 anos de idade (69,5%), estado civil com 40% de casados. Em relação as condições de trabalho, observa-se que para os dois grupos (brigadistas e bombeiros) a quantidade de horas trabalhadas quando estão em combate ao fogo fica entre 6 e 12 horas. Dentre as principais dificuldades encontradas no trabalho estão a falta de estrutura adequada relatada por (53%) dos participantes o tipo de contrato que para os brigadistas são contratos de prestação de serviço sem nenhum vínculo empregatício, enquanto os bombeiros são efetivos do estado. A quantidade de água não é suficiente para 68% dos e 89% sentem algum efeito em relação a exposição à fumaça. Sobre as condições de saúde, observa-se que 47% dos participantes referiram coriza, 31% obstrução nasal, 35% espirros, 27% ardência nos olhos. Enquanto, nos exames de Espirometria, Raio x de tórax e Eletrocardiograma realizados antes do combate no período de chuvas, e no pós combate na seca, não apresentou nenhuma alteração. Em relação aos exames laboratoriais observa-se que não houve alteração no conjunto de exames, o que chama atenção são alterações isoladas. Quanto aos marcadores inflamatórios observa-se que o valor médio sanguíneo de malondialdeído foi menor após exposição nos brigadistas (4,6 µmol/L) enquanto nos bombeiros militares não houve diferença, a glutationa peroxidase se mostrou 30% maior depois da exposição ao calor/fogo/estresse físico quando comparado com o antes (95,5 U/L vs 66,1 U/L) nos brigadistas. Nos bombeiros militares a atividade sérica da GSH-Px foi menor (23,1 U/L) após exposição quando comparada ao período anterior a exposição (82,1 U/L). Considera-se que no ano da pesquisa houve muitas limitações, como: pouca exposição ao fogo, demora na realização do exame no pós-combate, o “n” pequeno de brigadistas na segunda etapa da pesquisa, os bombeiros passavam a maior parte do tempo em transporte. Diante de todas as limitações apresentadas no decorrer da pesquisa observa-se a necessidade de novos estudos e uma avaliação das condições de saúde de forma separada entre os dois grupos. Mas, entende-se que muitos sintomas no pós combate podem ser minimizados com estrutura mais adequada, EPIs dentro das normas e em número suficiente, e uma atenção especial quanto aos cuidados com a saúde destes profissionais no antes, durante e no pós combate aos incêndios florestais no Pantanal.