AVES COMO SENTINELAS DA CONTAMINAÇÃO DE MERCÚRIO: EVIDÊNCIAS ATUAIS
Aves; Biomonitoramento; Contaminação Ambiental; Ecotoxicologia.
O mercúrio é considerado um problema global e está entre as três principais substâncias que representam perigo para a saúde ambiental. Sua mobilização é origem natural e antropogênica, possui várias formas físicas e químicas, que facilitam sua distribuição, biomagnificação e toxicidade, tendo a capacidade de permanecer por vários anos em solo e água contaminados. No ambiente aquático o mercúrio pode sofrer metilação, adquirindo uma de suas formas orgânicas, o metilmercúrio, com potencial capacidade de ligação às proteínas de membranas biológicas dos organismos aquáticos, favorecendo a bioacumulação e biomagnificação na cadeia trófica, alcançando as aves aquáticas, predadores de topo de cadeia alimentar nesses ecossistemas. Pesquisas em todo o mundo tem utilizado aves como ferramenta de biomonitoramento e vem estudando a dinâmica do metal no organismo e os efeitos na saúde das aves. Estudos indicam que a concentração de mercúrio em aves, principalmente as aquáticas, podem ser aumentadas em áreas onde existem flutuações do nível da água e habitats vegetados que experimentam ciclos úmidos e secos durante o ano e fontes pontuais ou difusas de mercúrio, assim, áreas como a Bacia do alto Paraguai e Bacia Amazônica, que apresentam estas características, estão predispostas a serem hotspots de exposição ao mercúrio. Considerando que a contaminação ambiental pode estar associada ao declínio populacional das aves, essa dissertação foi organizada em dois artigos, apresentando, no I, uma pesquisa de revisão sistematizada da contaminação de mercúrio em aves ao longo de 10 anos, no período de 2012 a 2022, sendo encontrados 53 trabalhos, distribuídos nas cinco bases de dados. Os resultados demostraram que estas aves tiveram ao menos um órgão/tecido/estrutura (fígado, fezes, dieta, tecido muscular, ovos, penas) contaminado por mercúrio com concentrações que variam entre (0,09 a 16,49 ± 1,39 µg/g), e que podem afetar diretamente a sobrevivência das aves, apresentando informações que pode fornecer subsídios para implementação de ações para a conservação deste grupo. No artigo II, o objetivo foi avaliar a distribuição do mercúrio nos diferentes tipos de penas da asa, identificando o padrão de bioacumulação de mercúrio total e metilmercúrio em penas primárias e secundárias das espécies Megaceryle torquata e Chloroceryle amazona, na Bacia do Alto Paraguai (rio Paraguai e Bacia Amazônica (rios Teles Pires e Juruena). As concentrações de THg das penas primárias para os rios Juruena, Teles Pires e Paraguai em C. amazona foram de 4,72 ± 1,6, 4,00 ± 1,53 e 2,8 ± 1,48 (µg/g) e para as penas secundárias de 4,62 ± 1,72, 3,53 ± 1,36 e 2,90 ± 1,68 (µg/g) respectivamente. Já para M. torquata, as concentrações de THg nas penas primárias para os rios Juruena, Teles Pires e Paraguai foram 7,94 ± 3,83, 6,08 ± 2,60 e 4,70 ± 2,58 (µg/g) e para as secundárias 7,89 ± 3,87, 5,12 ± 2,42 e 4,20 ± 2,18 (µg/g). A porcentagem de MeHg presente nas amostras foi crescente na recuperação do THg, com média de 95% nas penas primárias e 80% para as secundárias. Em um cenário de crescente desmatamento, remobilização do solo, mineração a avaliação de poluentes em diferentes componentes do ecossistema torna-se uma tarefa importante na prevenção dos impactos sobre o ambiente e a biota. Os resultados de nossas análises estão descritos nos artigos I e II produzidos e formam este trabalho, a partir dos novos resultados obtidos.